Capítulo Um Lugar de Sonho - parte III (revisado)

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Fausto, que já estava montando, olha a despedida de todos com um olhar triste, pois não tem de quem se despedir. Sua mãe havia falecido logo depois de seu nascimento e seu pai tinha partido com o rei na expedição até Elisa, então ele fora criado junto com Teron pela rainha. O guerreiro se vira em direção ao caminho que irão percorrer e suspira, porém a voz doce da rainha penetra em seu coração.

– Ora! Não está pensando que irá partir sem se despedir de sua mãe de coração, está? Ó filho muito amado!

O guerreiro se vira como um raio para a rainha e a tristeza dá lugar à alegria.

– Para mim, você é como um filho – continua a rainha. – Então desça de sua montaria e venha se despedir de mim de modo adequado.

Prontamente, Fausto desce de seu cavalo e corre para abraçar a rainha, todos acompanham a cena e ficam felizes por ele.

– Agora vamos, Fausto! – fala Teron. – Pois se continuar abraçando minha mãe desse jeito irei ficar com ciúmes.

Todos riem das palavras do príncipe. Os guerreiros vão para suas montarias e se despedem pela última vez. Assim começa a pequena aventura. As jovens que esperavam entregam as flores aos heróis, entre elas uma jovem chamada Tena, que chega ofegante como se tivesse corrido o mais rápido possível. Tentando recuperar o fôlego, ela entrega a flor a Salis e o puxa pela mão com força. O jovem general abaixa para saber o que a moça quer falar, porém o guerreiro é surpreendido por um beijo que o deixa todo encabulado.

– Por que não se declara logo para Tena, Salis? – pergunta o príncipe. – Vocês se gostam tanto.

– Eu acho que ainda não é a hora – responde o guerreiro ainda mais envergonhado, olhando a jovem que ficou para trás se despedindo. – Não me amole com isto, temos que nos concentrar na viagem... Quem sabe quando retornaremos.

Os guerreiros continuam a seguir em frente enquanto o povo aplaude por onde eles passam, porém Teron, por um minuto, parece ausente. Tinha se virado para ver pela última vez sua mãe quando pousou seu olhar na estátua do pai, e isso o fez relembrar o passado e questionar o futuro que se abria para ele. Em um piscar de olhos, teve a impressão de que a estátua chorava sangue. Isso o arrepiou. Piscou mais uma vez, entretanto nada viu, balançou a cabeça e tomou seu lugar à frente da comitiva. Eles trotaram a passos lentos por todo o percurso, margeado pelo rio, que os acompanhou até o momento em que as águas começaram a tomar outra direção, fazendo uma curva para a esquerda. Naquele ponto, eles pararam em uma praça, o sol ia espantando o vento frio da manhã. Logo à frente está a grande Biblioteca dos Mestres, uma velha janela se abre, fazendo as dobradiças rangerem sob o peso das lâminas de ferro. Uma após a outra, as janelas e portas são abertas como uma sinfonia, orquestradas pelo ancião Gaulor.

– Pontual como sempre, mestre Gaulor! – diz Teron, aproximando-se da primeira janela a abrir e surpreendendo o velho que aguça os olhos para ver quem está falando.

– Teron, é você? – pergunta o ancião e conclui: – Saia da frente do sol para que eu possa vê-lo, a luz está muito forte para meus olhos cansados.

– Claro, meu mestre – responde o príncipe, aproximando-se ainda mais da janela, que ficava quase na altura de sua cabeça.

Galour foi um dos tutores de Teron junto com Thir. O príncipe tinha grande respeito pelos dois, principalmente por Gaulor, que era sábio e um estudioso voraz. Ele cuidara da biblioteca desde sua juventude e sabia quais livros estavam contidos ali. Contudo, com a idade, o velho tutor ficou ranzinza demais perdendo o sorriso que sempre o acompanhou na juventude.

– Aonde pensa que vai, sem falar com seu velho mestre? – replica Gaulor.

– Estamos indo para o Vale de Argo, precisamos averiguar alguns boatos que chegaram a nossos ouvidos.

– Ah! O Vale de Argo – diz o velho com um grande suspiro e apoiando-se na janela. – Há quanto tempo não piso naquele lugar. Se não me engano, lá são cultivadas algumas ervas muito boas para o uso dos alquimistas em poções de cura. Deixe-me pensar... Deixe-me ver se lembro seus nomes. – O velho mestre forçou a mente para lembrar. – Lembrei! – Deu um salto para trás. – A Mão Verde e a Coroa de Argo.

– Você nunca se engana, sábio Gaulor – fala Salis sorrindo junto com os outros.

– Não me interrompa, filho de Thir – retruca com rispidez o ancião.

Gaulor nutria uma rixa acirrada com Thir, que se transformara em uma profunda mágoa, e de alguma forma o mestre passou esse rancor ao filho de seu rival, que o fazia lembrar seu pai quando jovem.

– Teron, você poderia trazer um pouco dessas ervas para seu velho professor? – pergunta o velho.

– Não precisa pedir duas vezes, meu mestre – respondeu de pronto o monarca. – Se é só isso, peço sua permissão para continuar!

– É só! – diz Gaulor, ficando estranhamente quieto, mas acenando de forma gentil com a cabeça.

O príncipe volta para junto dos amigos, e quando vão continuar o caminho eles escutam a voz do ancião.

– Teron! – pronunciou Gaulor com frieza. – Tome cuidado nesta viagem, pois os tempos estão mudando e em meus ossos velhos sinto que algo ruim está para acontecer.

– Teremos cuidado, meu mestre – respondeu Teron atônito com as palavras do mestre.



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Lágrimas de Rhanor: Herança de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora