A brincadeira

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-Tem muitos anos que moramos aqui - as gêmeas respondem, as vozes em total consonância e conciliação.

"Anos?". Pressupõe o menino, não poderiam morar anos ali, era impossível. Ele nunca havia visto as duas antes, não tinha como, não tinha mesmo. Ele reflexionava. 

A cada segundo que se passava o papel de parede florido parecia desgastar e ficar cada vez mais seco e horrendo. Quem seria o prodígio com péssimo gosto que escolhera aquele maldito papel de parede?

-Venha brincar conosco - as duas chamam.

-Eu não quero brincar, não conheço vocês.

O papel de parede lascava-se sozinho, como se animais invisíveis com garras, arranhassem as paredes, fazendo aparecer cada pesadelo retratado ali anteriormente. O celeiro. As criaturas. Ela. A mulher!

As gêmeas aumentam o tom de voz e continuam:

-Você não tem escolha! A brincadeira é a seguinte...

-Vocês estão surdas?! - o menino as corta gritando. - Eu não quero brincar!

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