Me Acorde!

Vô? Vó?

-(...) Eu sou a dona desse celeiro e...

-Mentira! - o menino grita interrompendo-a - Os donos desse celeiro são os meus avós...

-Avós? - ela grita sarcasticamente - Avós?! - ela repete seguida por uma risada atemorizante e se vira de frente para o garoto. A outra metade de seu rosto, coberta pelas sombras, agora estava a mostra, e era tão assustadora que o menino sentiu todos os pelos de seu corpo se eriçarem, e suas pernas amolecerem. Era como fogo, como as chamas do inferno, como o diabo. - Você não tem mais avós... - até a sua voz mudou, para mais grossa, mais diabólica e estridente.

-Mentira - o menino segura o choro. - Eu não tenho medo.

Quanto mais ele tentava esconder o medo, mais o cenário se tornava avassalador. As criaturas se contorciam nas sombras, já não pareciam mais crianças peculiares, e sim, demônios esqueléticos. O celeiro se tornara mais amplo e ao mesmo tempo mais estreito, o silêncio era terrivelmente ensurdecedor.

-Pois deveria, - Ela tornou a falar. - Você quer saber o que aconteceu com seus avós? - não esperou por uma resposta e continuou: - Pois veja... - ela fez um gesto indicando o outro lado do celeiro, o lado mais escuro, que se iluminou por uma luz cinza mostrando os avós do garoto realizando o ritual, devorando as próprias partes do corpo enquanto gritam ferozmente por ajuda.

Após se dar conta da cena que vira, o menino grita fazendo menção de ir até la. A imagem desaparece e volta ao negro vazio e sem fim. Instantaneamente as criaturas seguram seus pés novamente impedindo-o de se locomover.

-Não! - ele grita insistindo em ir até a imagem que se apagara. Mas as criaturas se agitam e o agarram com suas unhas afiadas fazendo-o permanecer imóvel e quase cair.

-Shiiiuuu! - ela sussurra no ouvido do menino segurando seu rosto e fazendo-o tornar a se arrepiar. - Não vai acontecer nada com você. Mas só se for um menino bonzinho... Agora vou deixar você seguir. Vá até o final do corredor - ela aponta para a escuridão, onde há poucos instantes atrás aparecera os avós do menino. - Lá você encontrará um quintal... Saberá o que deve ser feito.

O menino engole em seco, enquanto ela se afasta.