O que eu devo fazer?

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Fecho a porta atrás de mim e me escoro, respirando aliviada depois de me despedir de um Mateus bastante irritado por ter seus planos frustrados esta noite. Rá! Como se ele fosse o único aqui.

Dizer que eu estou puta da vida é pouco por deixar a presença daquele idiota me afetar tanto. Mateus ainda insistiu que eu precisava de alguém para cuidar de mim e me garantiu que eu estaria melhor amanhã, mas nada do que ele dizia suscitava o desejo de acompanhá-lo.

– Que merda! – Digo em voz alta sem me preocupar em ser ouvida.

Caminho vagarosamente em meio à escuridão da sala de estar, tateando os móveis até que alcanço a escada. O breu que toma todos os espaços caçoa da minha cara e me lembra o fiasco de voltar para casa sozinha e desapontada comigo mesma.

Onde está aquela Paula que saiu daqui determinada a aproveitar a noite? O que aconteceu com a mulher que sempre foi capaz de seguir em frente por melhor que o sexo fosse com um cara?

Ela deve estar perdida em algum lugar aqui dentro. Amanhã é outro dia e tenho certeza de que vou encontrá-la. Não é como se fosse a primeira vez que me bato com Eros depois daquela noite e sigo com minha vida.

Houve o casamento de Apollo, a vez que o pequeno Gustavo foi sequestrado e algumas outras mais. É sério que eu estou enumerando? Sacudo meus pensamentos. Chega, Paula!

Aproximo-me do quarto de Gui e ouço risos femininos. Bato na porta e abro apenas para me deparar com ele e Antônia enrolados em um lençol felpudo até o pescoço enquanto assistem algo na TV.

– Está tudo bem aí, crianças?

Guilherme bufa quando me ouve falar desse jeito. Ela corre em minha direção cheia de ímpeto e me aperta em um abraço carinhoso e animado. Sorrio para a garota com pele cor de jambo como a minha e grandes olhos cor de mel que se destacam em seu lindo rosto.

Ela é como um sopro de leveza para a nossa pequena família. Eles se dão tão bem que chego a sentir uma ponta de alivio com a sua presença. Sou grata por meu irmão ter alguém além de mim.

– Eu já estava com saudades, Linha. Meu pai continua o mesmo chato de sempre. Quase não me deixa vir.

Ela me chama desse jeito desde que era um bebê aprendendo a falar. Como ouvia todos me chamarem de Paulinha, me tornei apenas Linha para ela.

Embora seja irmão do meu pai e sangue do meu sangue, meu tio Joaquim é o tipo de pessoa que, se eu pudesse, apagaria da minha vida. Ele não tem escrúpulos quando se trata de dinheiro, mas esse não é um assunto que me interesse recordar agora.

– Não ligue para o seu pai. Por mais que ele tenha um humor dos diabos, não vai te impedir de nos ver. Ele acha que tem muito em jogo.

Sim, ele acha. Dinheiro é tudo o que interessa àquele velho ambicioso e ele pensa que Antônia pode servir como ponte para o que ele deseja, de alguma forma. Como se já tivesse nos tirado pouco.

– Eu só consigo viver naquela casa ainda por causa de minha mãe, Linha. Eu já não aguento mais conviver com ele.

– Shhhhh... não vamos falar mais sobre isso. Aproveite esses dias aqui conosco. O que vocês estão assistindo? – Mudo de assunto, me sentindo enjoada apenas por trazer a lembrança daquele verme à tona.

– Ah, apenas um filme leve. A floresta maldita, já ouviu falar? – É a vez de Gui responder, aos risos, porque ele sabe que eu odeio filme de terror.

Antônia se joga na cama dando tapinhas no colchão para que eu me junte a eles. De jeito nenhum! Não que eu tenha medo de fantasmas e coisas misteriosas, mas sou uma pessoa naturalmente impressionada sem ter minha cota de filmes desse tipo. Imagine se os assistisse.

Eros: Quando a paixão entra em campo (lançamento disponível na Amazon)Onde histórias criam vida. Descubra agora