Part 6

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Capítulo 6

Pedido da irmã

— Bom dia, Aninha!

— Bom dia — respondeu Ana, ainda meio sonolenta para sua irmã.

Afinal ainda era muito cedo.

— Levanta dorminhoca! Vamos aproveitar o dia — sugeriu Maria toda empolgada. — Hoje vou tirar o dia inteiro para ficarmos juntas.

Ana sorriu feliz, há muito tempo que ambas não faziam as coisas que mais gostavam juntas.

Pulou rápido da cama, tomaram o café que o pai havia preparado, e logo em seguida foram ver o pai ordenhar as vacas. Andaram a cavalo e aproveitaram para colher flores silvestres para a tia Maria. Todos os sábados, elas e o pai iam almoçar na casa dela.

Depois de colherem as flores e fazer um lindo arranjo, foram tomar banho no riacho. A água do riacho estava mais cristalina do que nunca, o colorido das flores plantadas à sua volta dava um toque especial, sem contar o cheiro de jasmim que se espalhava pelo ar. Tudo estava perfeito, e, com certeza, este dia ficaria para sempre na memória de Ana.

O almoço na casa da tia Maria estava uma delícia, sem falar na sobremesa: doce de abóbora! Hummmmm!

Ana e Maria sentaram debaixo do pé de Ipê, que havia no quintal da casa da tia. Foi então que Maria fez um pedido a Ana:

— Aninha, quero te fazer um pedido — disse séria. — Quero que você durma hoje na casa da tia Maria.

Ana ficou em silêncio, sem entender o porquê daquele pedido, afinal a irmã sabia que ela não gostava de dormir fora, nem mesmo na casa da tia, de quem gostava muito.

— Eu não quero! — negou Ana.

— Por favor, Aninha — insistiu a irmã.

— Eu não quero! — negou novamente

— Olha, se você concordar em dormir aqui, eu lhe dou aquele vestido e o sapato que você tanto gosta! — Maria sabia dobrar a sua irmã.

Ana pensou, pensou e mesmo contra vontade decidiu aceitar. Maria a abraçou, agradecida, mas ao mesmo tempo, chorava. Ana não entendeu, mas não questionou.

As duas foram para casa arrumar as coisas para Ana levar, Maria fez questão de arrumar tudo com muito carinho, como se fosse uma despedida. Em seguida, retornou com Ana para a casa da tia. E depois de um forte abraço, disse:

— Adeus, Aninha, dorme com Deus. Eu te amo... nunca se esqueça disso.

E foi embora. Ana em meio às lágrimas ficou olhando, até não conseguir mais ver a irmã. Seria este um adeus? Depois de um dia exaustivo, Ana adormeceu como um anjo.

*****

No dia seguinte.

— Bom dia, tia Maria.

— Bom dia, Aninha. Dormiu bem, meu anjo?

— Sim, tia, dormi.

— Então, vamos tomar café? — indagou a tia, carinhosamente. — Acabei de fazer biscoito de polvilho, como você gosta.

Sentaram-se todos à mesa, o cheirinho do café se misturava com o cheiro do biscoito. Todos se deliciavam.

O pai só viria buscá-la após o almoço. Depois de tomarem o delicioso café, Ana e o primo foram para o pomar colher laranja, para a tia fazer geléia. Luís era filho único... Era deficiente auditivo. Ana gostava muito do primo. E os dois aproveitaram pra fazer um passeio pelo bosque. Por algum tempo estiveram ali, observando as borboletas, que por sua vez davam um lindo show de cores.

Quando, de repente, Ana ouve a tia chamando-os, então logo voltaram para casa, e de longe Ana percebeu que o pai já tinha chegado.

Achou estranho, pois ainda era cedo, e o pai dissera que viria só depois do almoço.

— Papai, que saudade!

— Oh, minha princesa! O papai também sentiu saudades.

Ana percebeu que o seu pai estava triste.

— Está tudo bem, papai? — perguntou Ana preocupada.

— Minha pequena... — disse o homem cabisbaixo —, precisamos conversar.

O coração de Ana disparou como se pressentisse que algo ruim fosse acontecer.

— Aconteceu alguma coisa com a Maria? — perguntou ela ao pai.

O pai, sem saber como dizer, abaixou a cabeça num gesto de preocupação, pois a última coisa que queria era fazer a filha sofrer, logo agora que Ana parecia estar superando a perda da mãe, e com muito jeito disse:

— Sua irmã foi embora! Fugiu! — disse ele bruscamente, com a voz magoada.

Ana sentiu as pernas perderem as forças, não podia acreditar no que estava ouvindo.

E foi então que percebeu porque sua irmã havia insistido tanto para que ela dormisse na casa da tia Maria, sem contar o abraço apertado, como se tivesse se despedindo.

— Por quê? Por que ela me deixou papai?

E o pai, sem palavras, não sabia o que fazer, pois seu coração estava sendo partido duas vezes, uma por Maria ter partido e outra por ver o sofrimento de Ana.

Não podendo fazer nada, apenas abraçou a filha, como se com aquele abraço a quisesse proteger. E os dois choraram juntos copiosamente, levando as pessoas que estavam ao redor deles a se emocionarem com a dor que os invadia.

E mais uma vez o destino fazia parte da vida de Ana, deixando mais uma profunda marca que, com certeza, jamais seria removida.

Capítulo 7

A carta de despedida

O olhar da inocenciaOnde histórias criam vida. Descubra agora