Part 7

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Ao chegar em casa, Ana parecia não acreditar que a irmã havia ido mesmo embora, foi correndo em direção ao quarto, em meio às lágrimas. Tomada pela tristeza, chora desesperada. Realmente, a irmã a tinha deixado.

Foi então que viu o vestido dobrado, e, em cima do vestido, o par de sapatos, como ela havia prometido. Junto havia uma folha de papel dobrada ao meio. Logo Ana percebeu que era uma carta de despedida. Na esperança de encontrar uma resposta, Ana foi ler a carta na beira do riacho.

"Minha querida irmã, Aninha.

Estou escrevendo esta carta chorando. Não estranhe se o papel estiver manchado, pois foram as minhas lágrimas que o mancharam. Esta foi a única maneira que achei para me despedir de você. Estou indo embora, pois encontrei o amor da minha vida. Talvez um dia eu volte... ou talvez não.

Mas estou levando comigo a esperança de que vamos nos reencontrar outra vez. Mas não quero fazer promessas que não posso cumprir. Sei que não adianta pedir para não chorar. Fiquei muito triste por não ter lhe contado a verdade, pessoalmente... Meu coração está agoniado de tanta tristeza, tento enganá-lo, mas não consigo.

Já estou sentindo a dor da saudade, pois a vida não me ensinou a dizer adeus.

Minha pequena Ana, quero que saiba que mesmo estando longe, estarei sempre perto de você, em pensamento, e também acredito que a saudade irá se unir ao destino e, juntos irão construir um caminho que nos levará a nos encontrarmos novamente.

Talvez você não entenda o fato de tê-la deixado, mas peço que me perdoe. Para mim também não está sendo fácil, pois a dor que estou sentindo só se compara com a dor que senti quando perdemos a mamãe.

Ai, Aninha, sei que seus olhinhos estão nadando em lágrimas... Perdoe-me por estar fazendo você sofrer... Sei que deve estar à beira do riacho, pois é o lugar que gosta de ficar quando está triste.

Quantas vezes choramos juntas e vimos nossas lágrimas se misturarem com as águas do riacho?

Por mais que eu tente, não consigo parar de chorar. Não queria dizer adeus.

Já é quase meia-noite, a dor em meu coração vai aumentando, pois está chegando a hora da partida.

Estou deixando uma caixinha em forma de coração, eu mesma a fiz... É para você poder guardar todas as nossas lembranças.

Os banhos no riacho, as brincadeiras de roda, o pôr do sol, que muitas vezes víamos juntas, as inúmeras noites na varanda, olhando a lua refletir seu brilho sobre as folhas de bananeira, enfim... todos os bons momentos que passamos juntas.

Deixo também o vestido e o par de sapatos que te prometi.

Te amo, Aninha... Não fique triste, porque a nossa despedida será como o pôr do sol que é engolido pela noite, mas no outro dia volta a brilhar novamente.

Até um dia, com carinho.

Maria."

Ao terminar de ler a carta, a dor que sentia era tão grande, que nem mesmo a música dos pássaros flutuando sobre a brisa, que por sua vez trazia o cheirinho das flores, nem o suave som das águas do riacho, podiam amenizar tanta tristeza.

Permaneceu imóvel por algum tempo, tentando entender o porquê da irmã a ter abandonado. O coraçãozinho de Ana estava sangrando, mais uma vez a navalha do destino parecia tê-lo cortado ao meio.

Perdida entre as lembranças dos bons momentos que passara com a irmã, por alguns instantes pôde fugir da dura realidade, e não percebeu que o pai estava a observando.

O homem também estava amargurado. Sofria, mas não queria deixar transparecer para a filha caçula, que já passava por aquele período difícil. Ao se aproximar da Ana, abraçou-a com carinho.

— Oh, minha pequena! Sinto muito por tudo o que está lhe acontecendo. Eu daria tudo para tirar essa dor do seu coração — e os dois se abraçaram, chorando.

Permaneceram em silêncio por algum tempo.

O sol se pôs, a noite chegou negra como a dor do adeus, e tão intensa como a saudade, que mesmo as estrelas, com seu brilho radiante, pareciam se perder em meio a tanta escuridão.

Havia um mundo dentro de Ana que ninguém podia ver, e que a levava mais uma vez ao encontro do sofrimento.

Pobre menina!

Vagando em meio a escuridão daquele momento, só desejava poder dormir e esquecer.

Capítulo 8

A mudança

N

O olhar da inocenciaOnde histórias criam vida. Descubra agora