Part 9

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Capítulo 9

A vida na casa de estranhos

Ana, muito tímida, mal cumprimentou a senhora que veio até a porta para recebê-los. Dona Marta era uma senhora muito meiga, aparentava ter uns cinquenta anos. Trabalhava na casa do fazendeiro.

— Entrem, por favor, sentem-se, vou chamar a senhora patroa.

Por uns instantes, Ana pensou em sair correndo, pois o medo tomara conta de si.

— Bom dia — disse a esposa do fazendeiro, uma mulher com roupas elegantes e com ar superior. Seu nome era Antônia.

— Como se chama menina? — perguntou.

— Ana — respondeu ela, quase sussurrando.

— Muito bem Ana, a dona Marta vai mostrar seu quarto e depois vou até lá para conversarmos um pouco.

Ana abraçou o pai com angústia na alma. Só de pensar que ficaria ali, sozinha, com pessoas totalmente desconhecidas, ficava entristecida. Pobre Ana. Depois de um forte abraço o pai de Ana foi embora. Além da tristeza e da solidão, Ana tinha por sua companhia, mais uma vez, a sensação de abandono.

Da janela, Ana observava o pai ao longe, até o perder de vista.

— Vamos menina, vou levá-la até o seu quarto.

Um pequeno e velho quarto todo empoeirado seria onde Ana dormiria.

— É aqui Ana, o seu quarto — disse dona Marta muito meiga. — Fique arrumando suas coisas, pois tenho que voltar pra cozinha, assim que der eu volto para lhe ajudar.

Havia ali uma cama com um colchão de palha e um velho baú, para Ana guardar suas coisas. Sentada na cama, Ana chorava muito, pois ainda era uma criança para entender. O seu frágil coração parecia querer explodir de tanta tristeza, a saudade da mãe era grande, o que Ana mais queria naquele momento era que a mãe estivesse viva.

Mergulhada na dor da saudade, Ana viajava nas boas lembranças de um passado distante.

As fortes batidas na porta foi o que a trouxeram de volta a realidade.

— Ana, abra a porta!

Ana enxugou as lágrimas, pois não queria demonstrar que estava chorando.

— Então, menina... acha que vai passar o dia todo dentro do quarto, sem fazer nada? — perguntou a mulher com certa ironia. — E tem mais... Você aqui não é visita! Sai já desse quarto e vai ajudar a dona Marta na cozinha. Entendeu?

Ana arregalou os olhos sem entender o porquê de tanta grosseria, em desespero começou a chorar. Não sabia o que fazer, pois mal acabara de chegar.

— Para de chorar! — ordenou a mulher, energicamente. — Não pensa que vou ter pena de você. Prenda esse cabelo e vai já pra cozinha!

Tremendo e sem saber o que fazer, pois nunca ninguém a havia tratado assim antes, mal conseguia prender os cabelos. Ao chegar à cozinha, dona Marta percebeu que a menina estava assustada, e muito meiga disse:

— Oh, minha pequena, não fique assim, vou fazer uma água com açúcar, isso vai acalmar você — e preparou um copo com açúcar e deu para Ana beber. Depois disse: — Olha, não leve em conta a grosseria da patroa, ela é mesmo assim. Dona Antonia é uma pessoa muito amarga e muito má, talvez o fato de não poder ter filhos a fez ficar assim — disse dona Marta tentando explicar as atitudes da patroa.

Depois de algum tempo, Ana se acalmou, ajudou dona Marta a preparar o jantar, apesar de ainda ser uma criança, já sabia fazer muitas coisas. Desde pequena a sua mãe sempre lhe ensinava.

O olhar da inocenciaOnde histórias criam vida. Descubra agora