O faminto insaciável

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O amarelo do sol entrava novamente pela janela automática, que deixava os raios incidirem progressivamente de forma a simular o amanhecer, e isso era possível graças a um filtro, controlando assim as cores e a luminosidade que passava através dela. Apesar de a janela deixar a região da cama um pouco iluminada, o restante do quarto estava escuro, mas ainda assim era possível enxergar seu interior sem dificuldade.

Se o som pudesse se infiltrar, seria possível ouvir os passos que se aproximavam e seguiam se distanciando conforme as pessoas do lado de fora circulavam pelos corredores. Já havia muitos humanos em atividade naquela manhã em Atlans.

Urik dormia tranquilo, como se o mundo que o esperava não existisse mais, e sua cama era como o único lugar restante do universo. A roupa que ele vestia estava desajustada em seu corpo, parte do seu short estava puxado em um dos lados, enquanto sua camiseta parecia torcer seu corpo. Não estava mais frio como na noite anterior, os termômetros do quarto marcavam 25 °C e era possível ver que Urik estava transpirando um pouco, pois sua testa estava coberta por gotículas.

Alguns estalados foram feitos no interior do quarto, depois outro som era produzido, como o crepitar das chamas de uma fogueira. Urik acordou com o barulho timidamente emitido ali, mas tudo se aquietou instantaneamente quando ele posicionou-se sentado na cama após despertar.

Depois, olhou em volta, tentou perceber se havia algo de errado, mas tudo parecia intacto e exatamente como ele se lembrava de ter deixado antes de ir dormir. Ele procurou pela caixa que havia deixado em cima da mesa e ela continuava no mesmo lugar. Ao se aproximar, ele notou que ela estava virada e havia pedaços de alguma coisa espalhados pelo chão. Ele reconheceu aquele material, eram partes da casca do ovo que ele havia deixado sobre a mesa na noite anterior. Urik rapidamente chegou à conclusão de que qualquer coisa que estivesse ali dentro, tinha se libertado.

Ele passou a procurar a suposta criatura que pudesse ter saído de dentro daquele ovo. Olhou pelo chão, paredes, dentro de gavetas e outras superfícies, mas não achou nada. Se voltou novamente para cima da mesa onde tudo parecia ter começado e percebeu algo estranho acontecendo por ali: antes havia um pequeno cesto de frutos que ele recebera dias atrás, e não eram frutos comuns da terra, tratava-se de um presente dos comerciantes de Mortard.

O humano aproximou-se mais para olhar e viu que partes de um fruto vermelho e escamoso estava mordido. Repentinamente, ele viu o mesmo alimento ser mordido, deixando-o um tanto assustado, mas não menos curioso.

Urik sabia que algo ali estava se alimentando, era óbvio, então ele, lentamente, se aproximou ainda mais na tentativa de poder ver quem ou que se comportava daquela maneira, mas o lugar continuava limpo e sem sinal visível de qualquer coisa viva. Ele pensou que talvez fosse alguma criatura tão rápida que os humanos não pudessem captar enquanto se mexia, ou que não refletisse a luz que normalmente enxergamos. Com isso em mente, logo ele pegou seus óculos especiais em uma das gavetas próximas e os colocou no rosto, ajustando-os em seguida para que pudesse captar qualquer coisa que estivesse evitando ser vista.

Novamente, olhou em volta do quarto e sobre a mesa, mas nada foi captado, a não ser uma fraquíssima onda de atividades biotérmicas, exatamente no mesmo ponto onde estava o fruto mordido. Urik vestiu uma luva especial e voltou ao mesmo local do ocorrido. Enquanto ele estendia sua mão, ele viu novamente outro pedacinho vermelho sendo arrancado da fruta. Aquilo o fez recuar um pouco, mas logo ele voltou a tentar colocar a mão para tentar tocar a coisa.

Urik sentiu seus dedos encostarem algo consistente, mesmo que continuasse não o enxergando. Imediatamente aquilo fez a criatura emitir um som baixo e melódico e o humano sentiu sua mão ser agarrada. Quatro pequenos pontos de pressão se fixavam na sua pele e foram percorrendo até que a criatura pudesse envolver seu corpo completamente em volta do braço do humano. Ele tentou, assustado, tocar com a outra mão no lugar em que sentia o bicho, sem a menor ideia do que pudesse estar acontecendo ali. Cores foram tomando vivacidade em seu braço e nele revelava-se uma criaturinha de cor azul, que lembrava muito um réptil ou lagarto qualquer. Lentamente, ele aproximou a mão esquerda um pouco acima de onde o bicho estava.

Elementar - Colisão Entre MundosOnde histórias criam vida. Descubra agora