O menino de Saturno

33 2 5
                                        

Naquela noite mal dormido com os meus pensamentos, faltava somente um ano e eu teria a idade para me alistar ao exército de Saturno. Por um lado estava realmente contente e poderia finalmente sair de onde morava, levaria a minha irmã comigo até as pequenas casas que ficaram ao leste do castelo onde vivem os guardas, mas também o medo que trazia as lembranças do meu pai vinham a tona e servir a um rei como Michaels era realmente algo que me incomodava; durante o dia sai com minhas roupas imundas, cinzas e brancas manchadas, em busca de alimentos com o pouco dinheiro que os ricos me davam pelos trabalhos pesados que havia, mesmo sendo ricos eles ainda mal davam dinheiro.
Com o dinheiro que havia conseguido durou três dias com duas refeições, mas o dinheiro estava acabando e tudo era bastante caro, meu pai costumava a dizer “Uma maçã aqui vale como uma carne de boa qualidade na Terra antes da crise”, somente deu o suficiente para duas fatias de pão e um copo de suco. Estava bastante desanimado e pensativo, antes de ir até o mercado ela disse que estava com fome e eu estava também, mas ela era mais importante para mim, assim que cheguei em casa ela arregalou um sorriso e correu até mim, abraçando me.

— Irmão, você chegou, estava com saudades. — Sorriu ela.
— Eu também, Lily. — Falei tentando esconder a aflição. — Consegui duas fatias e um pouco de suco.
— Que ótimo. — Os olhos dela “brilharam”. — Então, vamos dividir?
— Não estou com fome. — Sorri.
— Ah, sério? — Perguntou um pouco surpresa.
— Sim, eu comi um pouco antes de chegar. — Menti.
— Eu posso deixar um pouco para você, se quiser. — Ela falou.
— Não se preocupe. — Novamente sorri.

Coloquei minha mão direita sobre seus cabelos loiros escuros longos e despenteados, dando um sorriso enquanto acariciava seus cabelos e após caminhei até a mesa que ficava na sala. Toda a casa era bem precária, havia dois quartos encima e uma sala com poucos móveis em baixo, nesta sala havia uma mesa bamba de plástico com duas cadeiras sendo uma delas tendo um dos pés com fita devido ter quebrado uma vez, um raque aos pedaços, vários travesseiros com a fronha rasgada para assimilar um sofá no canto direito da sala e uma TV que não funcionava; os pisos de toda a casa eram feito de uma madeira escura e velha que fazia ruídos quando pisava a maioria das vezes e vários remendos ou pedaços soltou, a parede da sala era branca originalmente, mas estava quase toda descascada.
Peguei a cadeira e levei até o lado da porta enquanto olhava o teto, onde havia um buraco e fiquei lá refletindo enquanto Lilith devorava as fatias e aos poucos adormeci, quando notei estava em uma área toda branca, diferente da nossa casa não havia cheiro de morfo, comecei a caminhar naquela área sem parecer que havia uma saída ou coisa diferente, novamente tudo ficou escuro e quando notei estava abrindo uma porta de carvalho, era uma noite fria, reconhecia aquele local, era a casa que costumava a morar com o meu pai. Tudo que pude ver quando abri foi um homem alto, muito alto, nem ao menos pude ver sua cara, não sei se eu estava pequeno ou ele era enorme.

— Ahnn... — Tentei quebrar o silêncio. — Quem é você?
— Onde está a senhorita Margaret? — Perguntou o homem com uma voz grossa e séria.
— Margaret? Você quer dizer a minha mãe? — Perguntei. — Ela está doente, de cama, o meu pai não está também, você é?
— Meu nome é Chris. — Respondeu. — Sou do 3° Esquadrão do exército de Saturno, seu pai era meu companheiro e infelizmente ele morreu depois de tomar um tiro pelo barão Wyllis em uma tentativa de tomar o poder de saqueadores.
— O... Meu pai? — Perguntei aos prantos.

Aquelas palavras rodavam a minha mente e penetravam no meu coração, meu corpo estava gélido e as lágrimas escorriam do meu rosto, o som da brisa solitária daquela noite ecoava nos meus ouvidos conforme as lágrimas do meu rosto caiam, eu estava em choque, meu pai que havia saído de manhã e mal se despediu para ver uma possível Rebelião nunca mais ia voltar, não, eu me recusava, não podia ser verdade. Meu pai havia morrido, eu não estava pronto para isso, minha mãe não estava, muito menos minha irmã. Em um ato desesperado comecei a socar a barriga daquele homem enquanto negava e chorava.

The immortalOnde histórias criam vida. Descubra agora