Danny

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Minhas vestes estavam encharcadas com sangue e meu corpo com vários ferimentos para todos os lados, no entanto, havia conseguido escapar ao menos por enquanto de Ângelo. A coisa estava totalmente fora do controle, eu estava me arriscando a falar com um cidadão, mas aquele menino, eu lembro agora, eu o vi. Foi de relance, mas vi aquele menino de cabelos escuros e vi Ângelo tentando matá-lo depois dele o desafiar, talvez pudesse confiar nele.

- Você.... Você é o cara que o Ângelo estava levando ao lorde... -Falou ele hesitante.
- Sim, acalme-se. - Tentei o acalmar.
- Me acalmar? Você deve ser um ladrão ou até um daqueles terroristas! - Gritou o menino.
- Calado, eles ainda me procuram. - Sussurrei.

Coloquei minha mão sobre sua boca enquanto ele tentava gritar, mas minha mão não deixava, aos poucos ele parou e quando soltei a minha mão da boca dele, ele me desferiu um soco, mas era ineficaz, ele era lento de mais para me acompanhar, facilmente desviei e o coloquei contra a porta com minha mão segurando seu pescoço.

- Droga, escuta, aqueles caras querem me prender e acredite, eu tentei achar outra pessoa, mas não deu. Todas que eu pedi auxílio me traíram devido a uma recompensa. - Falei em um tom alto.
- Quem... Está gritando agora é você. - Falou ele com dificuldade.
- Qual é o seu nome? - Perguntei.
- Danny... - Respondeu.
- Bom, Danny, eu não sou um cara mal, eu bati em várias portas, a maioria não respondeu ou mandou eu ir embora sem nem abrir a porta nesse bairro, onde estou? -Perguntei em um tom sério.
- Se você... - Tossiu ele. - Se ao menos me largar, eu posso responder.
- Certo. - Concordei.

Soltei minha mão do pescoço dele e me afastei um pouco, ele estava com medo, eu de certa forma estava com medo, Michaels e Ângelo eram muito fortes, não só eles, os guardas também tinham conhecimento básico de Mana.

- Saturno é conhecida como o lar dos escravos, há treze cidades ao todo, estamos na capital, o nosso lorde é tão humilde que deu o nome dele a essa cidade. E, bom, aqui é onde vivem os que não tem dinheiro, a maioria órfãs ou antigos membros do exército, até ricos falidos, o custo de vida daqui é alto. - Falou Danny.
-E você, onde você se encaixa? -Perguntei.
- Órfãos. Mas, espera, eu estou conversando com um possível terrorista, o que você me diz para eu não te entregar você e ficar com o dinheiro? Não vivo muito bem no luxo. - Perguntou.
- Eu vi o que você fez, você desafiou Ângelo, eu não conheço ele muito bem, mas ele é o tipo de cachorro louco, só dele não ir com sua cara é motivo para te mandar para debaixo da terra. Você deve saber disso, mas você o desafiou ainda porque? - Perguntei.
- Escravo, rico, pobre, qual a diferença? Estamos todos na merda, não acho que ninguém deve se achar superior ou ferir os outros só por poder. - Respondeu.
- Bela resposta, leu isso em um gibi? -Sorri. - Você é ingênuo, a maioria teria deixar o escravo morrer e teria chamado os guardas assim que eu pisei os pés aqui.
- Isso foi o que meu pai me ensinou, isso é o certo, eu não me importo se é clichê, ser bom é engraçado agora? - Perguntou ele em um tom diferente.
- Não, não é isso. Não me entenda mal, você me lembra como um dia eu fui ingênuo, acredite, se eu estivesse no seu lugar ia só fechar a porta. Neste mundo louco que vivemos, os caras bons só sofrem, acredite, eu mais do que ninguém sei disso. - Falei um tanto melancólico.
- E qual o motivo de você ser levado até Michaels? -Perguntou.
- Ele quer me usar como uma arma, como o escudo humano dele em uma guerra sem sentido em busca de um poder. Ele é um cara egoísta que não mede esforços para fazer o que quer, assim como Ângelo. Não, me entenda mal, não sou o bom da história, eu estava quieto e me buscaram para me fazer liderar um exército para Michaels, afinal ele é covarde de mais para lutar a própria guerra. - Respondi.
- E o que me impede de eu fechar essa porta na sua palavra? Michaels... - Ele proferiu o nome com um certo ódio. - Ele é o rei de Saturno, o lorde de um dos planetas e que fez um. Juramento, você está o acusando?
- Você sabe que é verdade, eu vejo sua raiva, todos temos histórias tristes e não quero saber do seu ódio por Michaels ou seja quem for, mas eu preciso de um lugar para ficar até a poeira baixar, posso dormir aqui? - Pedi.
-- Ficar aqui? Você tá brincando? Com um monte de guardas atrás de você? Ótima ideia, gênio, o que vai fazer agora, roubar uma nave? - Perguntou ele em um tom irônico.
- Essa é a ideia. - Respondi.
- A resposta é nã... - Ele foi interrompido.

Antes que Danny terminasse sua decisão ouvimos o ranger de escadas e antes que eu percebesse uma menina pequena com cerca de oito a nove anos se aproximou ainda sonolenta, ela usava uma espécie de "Maria-chiquinha", como cabelo, o cabelo dela também era escuro, ela utilizava um vestido que ia até um pouco mais do joelho de cor branca, mas ele estava manchado. Quando Danny se virou ele ficou pálido, aquela devia ser a irmã dele, ele era muito novo para ter uma filha daquela idade.

- Ah, Lily, estou conversando, tem como dar licença? Volte a dormir. - Sorriu ele tentando disfarçar.
- Irmão... É seu amigo...? - Falou ela enquanto esfregava os olhos.
- Olá, tudo bem, Lily? Eu estou conversando com seu irmão, pode dar licença? - Falei em um tom calmo, abaixando-me.

No momento em que ela despertou finalmente viu o meu estado, com vários hematomas e encharcado de sangue, ela gritou no mesmo instante e olhou para mim preocupada.

- Irmão, irmão, ele está sangrando! Temos que ajudar ele! - Gritou ela.
- Fala baixo, ele estava indo embora, não precisa se preocupar. - Danny acalmou ela e me fuzilou com os olhos.
- Ah, sim, desculpe, tenho que ir. - Sorri.

Me virei e comecei a caminhar enquanto ouvia o ranger da porta fechando e antes que ela fechasse, foi aberta bruscamente batendo na parede e no mesmo momento senti uma mão pequena me puxando, quando me virei ela me olhava com aquele olhar inocente, fazia muito tempo que alguém me olhava dessa forma, durante um milésimo, recordei-me de uma criança do meu passado e quando voltei a mim ela estava tentando me puxar para dentro.

- Não, não! Você está machucado, tenho que te ajudar! - Gritou ela.
- Espere, ele não pode entrar! - Gritou Danny.
- Eu realmente tenho que ir... - Falei em um tom baixo.
- Ele vai entrar sim, a mamãe nunca iria deixar alguém sangrando desabrigado! - Ela fuzilou ele com os olhos.
- Mas... - Hesitou ele. - Tudo bem.

Então nós entramos naquela casa, ela estava bem velha, o cheiro era ruim e parecia que iria cair a qualquer momento, até os hotéis baratos eram melhores do que aquela casa, mas lá eu podia sentir em meio ao mofo e toda aquelas coisas velhas um lar, uma coisa que eu não tinha a muito tempo. Me sentei em uma cadeira e a irmã dele subiu dizendo que ia procurar alguma coisa que pudesse parar o sangramento enquanto Danny me fuzilava com os olhos sentado na cadeira.

- Escute bem, eu só deixei você entrar por ela ter tocado no meu ponto fraco, mas não confio em você e se você tentar alguma coisa, eu juro, eu vou te matar. - Falou ele em um tom sério.
- Você matou alguém antes? - Perguntei.
- Não. - Respondeu ele.
- Entenda, é inevitável no mundo em que vivemos matar alguém, mas entenda a consequência disso, uma vez que você tira o brilho da alma do olho de uma pessoa e sente a vida desse ser se esvair diante de você, isso lhe muda, nunca ameace matar alguém se não está preparado. - Sorri. - E você está tremendo, ameaçar alguém tremendo não é muito... Convincente.

Ele pegou uma faca e tentou fincar no meu ombro, mas no momento em que a faca entrou em contato com minha pele ela quebrou e ele andou para trás até cai de bunda no chão com as mãos tremendo.

- Irmão, aconteceu alguma coisa? - Gritou a menina de lá de cima.
- N-Não! Só cai. - Respondeu ele.
- Não sou seu adversário, você quer fazer uma coisa boa? Então, me ajude. Você iria gostar que sua irmã fosse levada para ser uma arma para enfrentar o lorde de Júpiter? É, creio que não. E se fosse você? Entenda o meu ponto de vista, eu não conheço a cidade e não tem ninguém disposto a me ajudar. - Falei.
- Bom... - Ele estava ofegante, mas aos poucos parava de tremer, ele deve estar entendendo a situação. - Eu vou te ajudar, Dean, mas tem uma coisa que me intriga, o que você é?
- Só um homem que perdeu tudo que ama. - Suspirei. - Mas não quer fazer mal há ninguém ou ter mais sangue nas mãos, não sou hipócrita, eu matei, mas todas as mortes eu me culpo e carrego esse peso, eu não me arrependo, mas sei das consequências do meu ato, só não quero fazer o errado de novo.
- Entendi. Você parece uma boa pessoa. - Ele sorriu. - Descanse, amanhã eu vou te ajudar, como você disse, eu não sou muito fã do governo, eu tenho meus motivos.

Ele estendeu a mão e logo eu retribui, também tive que explicar os meus ferimentos sumindo como um fator de cura como daqueles heróis dos quadrinhos, não queria envolver muito eles. Durante toda a noite eu e Danny conversamos e aos poucos ele caiu no sono, mas eu não conseguia dormir, foi então que eu ouvi o barulho de várias pessoas gritando e pessoas correndo, antes que pudesse notar a porta estava do outro lado da sala e as coisas haviam começado a queimar, Lilith correu para o primeiro andar enquanto Danny acordou e se levantou acolhendo ela. Vários homens saíram da porta, eles usavam armaduras e logo a frente dele estava Ângelo, ele havia me encontrado.

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