Lily

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Tudo estava escuro, meu corpo imóvel, mesmo tentando, era como se meu corpo não respondesse à mim, um som perturbador ecoava pelo profundo vão, era como as batidas de um coração, continuei à olhar todo aquele escuro, o medo tomava conta de mim, onde estava o senhor Dean, e o meu irmão? Será que os homens vestidos de armaduras reluzentes, haviam pego eles? Mal conseguia pensar, a minha cabeça doía como se concreto tivesse caído encima dela. Fragmentos de memórias embaralhadas rodeavam minha mente e me deixavam cada vez mais confusa; E, finalmente, me lembrei do que havia acontecido.
Lembro-me de estar sonhando, eu estava feliz, caminhava nas ruas com minha mãe, eu mal me lembrava como era seu rosto, essa era a triste realidade. E, do outro lado, estava meu pai, ele era um homem musculoso, usando um terno velho, com sua pele branca, essas eram as únicas coisas que eu via, seu rosto era coberto por uma sombra, mas, então, ouvi um barulho e acordei, assustada, me levantei com o corpo tremendo, nunca acreditei em um monstro no armário ou debaixo da cama, meu irmão sempre dizia, “Os monstros não ficam no armário, ou debaixo da cama. Eles estão em todo lugar, eles tiraram nosso pai, nossa casa, e deixaram nossa mãe morrer, mas eu sempre vou te proteger”, desde pequena a única coisa próxima de uma figura paterna era meu irmão, ele sempre tentou ser a melhor pessoa para mim, mas o vazio no peito só podia ser preenchido por um pai que eu nunca tive como conhecer, era muita pequena quando ele morreu e minha mãe nunca quis falar muito dele, no fundo, todo dia o meu sonho era ver ele entrando e dizendo que estava vivo; Ao descer as escadas cambaleante devido ao sono, olhei meu irmão assustado e o senhor Dean encarando um homem com cabelos loiros como um príncipe, pele pálida como a neve e um sorriso assustador, ele estava acompanhado de homens usando armaduras reluzentes avermelhadas escalarte com traços pretos, a armadura cobria a maior parte do rosto, deixando de fora somente a boca e o queixo, o capacete era avermelhado também, mas não havia a parte escura. Nas armaduras, o preto fazia leves desenhos de símbolos encontrados em Saturno no momento em que as cidades começaram a ser feitas, reconheci dois, um deles era uma espécie de lança carregada por um humanoide de asas, significava “O guerreiro vindo dos céus”, retratando o lorde de Saturno como seu líder escolhido por Deus, um anjo do senhor, e seus seguidores eram homens escolhidos pela palavra de Deus. O outro, era uma espécie de símbolo nazista, uma suástica, essa foi escolhida pelo lorde Michaels, o único símbolo que não havia sido inspirado nos desenhos de Saturno, mas sim em um homem chamado Hitler, ele não aparecia nos livros de história, meu irmão disse que Michaels proibiu de falarem sobre a história dele.
Meu corpo não se mexia, o medo tomou conta de mim, eu estava em choque, nunca havia passado por uma coisa tão assustadora, os homens do lorde que eram para nos proteger estavam queimando e destruindo nossa casa, mesmo ela sendo velha, com cheiro de morfo, era a coisa mais próxima de casa que eu tinha e eles tiravam isso de mim, enquanto meu irmão me segurava, meus olhos ficaram atentos nos homens que invadiam e destruíam minha casa, um deles desferiu um soco no senhor Dean, foi rápido, eu mal o vi, mas em um breve momento, eu podia jurar que tudo estava em câmera lenta, e, no momento exato que ele desferiu o ataque, eu vi, mas quando finalmente voltei a mim, tentei me esconder enquanto as lágrimas caíam de meu rosto, então, meu irmão desferiu um chute entre as pernas de um homem colossal, enorme, ele tinha duas vezes o tamanho de meu irmão, mas com o golpe, ele cambaleou  e rangendo os dentes com os punhos cerrados, ele desferiu um soco no estômago de meu irmão que começou a vomitar, não era a primeira vez que eu via o meu irmão brigar, mas ao tentar avançar, ele me olhou nos olhos e estendeu a mão, mandando eu ficar lá, ele tentou se levantar, mas o homem malvado e cruel desferiu um chute nele, ao meu redor, somente se ouvia o barulho das chamas e escombros sendo abafado pelos risos dos homens vendo meu irmão sendo espancado e outros vendo a briga do senhor Dean, eu tentei ir até meu irmão, estava desesperada, sentia medo, mas o amor por meu irmão me movia, então, eu senti uma dor agonizante, eu queria gritar, chorar, meu corpo doía como nunca, um dos homens desferiu um chute em mim com aquela armadura pesada. Meu corpo doía, mas eu ainda tentei levantar, somente para ouvir um barulho ensurdecedor que me deixou desnorteada, ao olhar para a frente, vi o sangue de meu irmão e ele caindo ao chão, seu ombro havia sido atingido, eu tentei correr, mas levei outro chute, dessa vez, sangue saiu de meu corpo, mas toda a adrenalina me fez tentar ignorar toda aquela dor, eu não podia perder meu irmão, meu único irmão, a única pessoa que sempre esteve ao meu lado e a última pessoa da família que sobrou, era uma maldição, todas as pessoas que eu amava, morriam ao meu redor, ainda me lembro de ver minha mãe chorar todas as noites, meu irmão brigar com quem falava algo de meu pai, e, o momento mais triste da minha vida, enquanto minha mãe agonizava de dor, chorando e ninguém fazia nada, meu irmão chorava segurando ela com uma das mão, suas lágrimas caíam como um bebê enquanto batia a outra mão na parede até sangrar, lembro-me de ver a vida se esvaindo do corpo de minha mãe por trás da porta; Senhor Dean havia sido encurralado, mais um morreria ao meu redor, a essa altura mal havia lágrimas para sair, foi então, que as chamas saíram do corpo dele, em um breve momento eu podia jurar que senti as chamas saindo como se fosse uma áurea, não só nele, mas em todos ao meu redor, era como se eu pudesse sentir suas almas, o ar bom e ruim saindo delas, a presença esmagadora que cada um deles fazia lá, inclusive o senhor Dean e o homem de cabelos loiros.

— Nem pense em mover um músculo, ou eu atiro na cabeça dele e depois na dela! — Ameaçou o homem.
— Irmão! — Gritei aos prantos. — Eu estou com medo, não quero lhe perder!
— Vai.. — Danny tossiu sangue. — Ficar tudo bem, não se preocupe, eu vou acabar com eles! — Tentou deixar ela mais calma.
— Cala a boca fedelho. — Ordenou o homem.

Então, eu vi a luz ofuscante saindo da arma do homem que apontava-a para a testa de meu irmão, que apenas mandava-me  fechar os olhos, o homem estava assustado e encharcado de suor, eu sentia o poder saindo daquela arma.

— Vamos, três segundos, renda-se ou ele morre! — Gritou o homem. — 1... 2...

Tentei me levantar, mas um homem me segurou pelo pescoço com só uma de suas mãos e me levantou como se fosse uma pena, ele apertou tanto que eu sentia a vida se esvai do meu corpo, a vista escurecer e me sufocando, o desespero do oxigênio, meu corpo se mexia, tentando bater nele, mas até meu corpo desistiu.

— Lilith, feche os olhos. — Danny ordenou. — Eu não me importo de morrer, vamos, me mate, mas poupe ela! — Implorou enquanto se aproximava do caso da arma, encostando nela.
— Pare! Pare, eu me rendo! — Gritou senhor Dean.
— Eu ganhei, Dean, no final eu sempre ganho. — Sorriu o homem loiro.

Aos poucos eu me via no escuro com meus pais de costa, caminhando, eu tentava correr, mas não conseguia, eles me deixavam para trás e ao olhar para trás, vi um homem enorme de preto, seu tamanho era colossal e sua aparência assustadora, como uma caveira, mas com a pele saindo ainda, caindo de sua face que saia inúmeros insetos e vermes, tentei correr, mas meu corpo não me respondia.

— Chega, chega! — Gritei. — Chega de correr, chega de ver todos a minha volta morrerem, eu vou salvar todos, mesmo sendo pequena e fraca, essa noite, meu irmão não irá morrer!

Então, eu me levantei, fitando o homem e aos poucos ele desapareceu, novamente voltei à mim, o homem havia me largado, então eu corri até meu irmão e o abracei com toda a força que pude, vi o sangue saindo do corpo dele e o olhar trêmulo, ele estava com tanto medo quanto eu,  olhei para o senhor Dean, ele havia se rendido por nós, a maioria sairia de lá ou lutaria, ele era admirável, mas então, ao ver ele se ajoelhando, o homem loiro se aproximou e desferiu vários tiros contra ele, eu fechei os olhos, enquanto ouvia o barulho dos tiros, mas para minha surpresa ele ainda estava vivo, como se nada tivesse acontecido, mesmo com seu sangue caindo e seu corpo trêmulo.

— O que podemos fazer com eles? — Perguntou o homem.
— Eles abrigaram um foragido, não é óbvio? — Sorriu o homem de cabelos loiros. — Matem eles, espalhem os pedaços pela área e coloquem as cabeças no centro da cidade como um aviso.
— Espera, nós tínhamos um acordo! — Exclamou senhor Dean.
— Seu erro é achar nessa altura que eu iria deixar dois traidores escaparem ou cumprir uma promessa, eu não me importo se são duas crianças, que sirvam de exemplo! — Gritou o líder deles, o homem de cabelos amarelos.
— Seu bastardo de merda! — Senhor Dean chingou-o.

Meu corpo estremeceu, ao ver um homem apontando a arma para mim enquanto o que havia antes apontado para meu irmão, novamente engatilhou a arma, estava com medo, eu disse que não deixaria ele morrer, mas de fato, o que eu podia fazer? Apenas gritar e chorar enquanto morreria em seguida; Foi então que eu me senti mais forte e confiante, era como se tudo ao meu redor estivesse conectado comigo e ao ver minhas mãos, vi uma áurea lilás saindo e se mexendo de forma calma, era uma sensação indescritível de poder, eu me sentia capaz, quando os tiros vieram, foi como se tudo estivesse em câmera lenta, eu não ia deixar meu irmão ou alguém que eu amo morrer nunca mais, a áurea lilás expandiu-se criando uma cúpula que defendeu os tiros e mandou os dois homens para longe enquanto meus ferimentos e de meu irmão simplesmente sumiam, então, eu me senti desnorteada, e fraca, mas a áurea lilás ficou lá, acolhedora, estava esgotada e meu corpo parecia estar fervendo, antes da minha vista escurecer, vi a cúpula expandir como se estivesse instável e explodir; Então era isso, eu falhei, estava morta, os batimentos aos poucos paravam e um ser de pura luz apareceu a minha frente, de início, quase me cegou, mas ele estendeu a mão e senti algo acolhedor, divino, vindo dele, não havia forma, era somente um ser de pura luz, tentei estender minha mão, mas eles aos poucos se afastava e ao ele sumir, tudo ficou branco e ao abrir meus olhos, ainda desnorteada, vi um homem de cabelos escuros encaracolados com lágrimas nos olhos e outro de cabelos também escuros, mas lisos e longos, indo até o ombro, com uma barba, então finalmente percebi, era meu irmão e senhor Dean. Meus olhos ficaram com lágrimas de felicidade, eles estavam vivos, os abracei com tudo que pude, nós estávamos à salvo.

The immortalOnde histórias criam vida. Descubra agora