Um Vulto

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Acordei num sobressalto. Um pesadelo terrível sonhei que corria na névoa aflita, mas nunca cheguei a lugar algum. Pela janela do meu quarto, vinha a pouca claridade da lua que estava encoberta por uma nuvem. Sentei na cama, suada e cansada.

Sabe aquela sensação estranha de que há alguém te observando? Foi exatamente o que eu senti naquela hora. Olhei em volta e tudo parecia igual. Fiquei deitada em silêncio e ouvi o som de uma respiração.

-Quem está aqui?

-Acalme-se, eu não quis acordar você. – sussurrou uma voz intrigante, um pouco rouca e sensual

-Quem é você?

-No momento, tudo o que precisa saber sobre mim é que eu vou ajudar você.

-Me ajudar como?

-Vou ajudar a ser a líder perfeita.

-Fui treinada para isso, eu sou uma ótima líder.

-Existem coisas que você ainda não conhece. Se confiar em mim, se me deixar mostrar, vai ver que existem milhares de possibilidades. Os homens da Cosa Nostra vão aceitar você, desde que siga as minhas instruções.

-Como eu vou saber que você é confiável?

-Não vai. Você precisa acreditar. Agora, volte a dormir.

Não era uma ordem que eu desejava cumprir, mas adormeci sem perceber. Acordava sempre às sete da manhã sem precisar de despertador. Olhei em volta e não havia sinal que alguém além de mim havia entrado em meu quarto. Tomei banho e desci para o café da manhã.

-Precisamos conversar. – Etore entrou sério na sala de jantar, mais vazia do que nunca comigo sentada à cabeceira da enorme mesa de mogno de trinta lugares de meu avô.

-O que faz aqui tão cedo? – não havia olhado em seus olhos, estava concentrada cortando uma maçã.

-É melhor você se preparar, talvez ainda não tenha lidado com isso.

-Com isso o que? – só então parei de brincar com a fruta e vi que Etore estava tenso, de punhos cerrados.

-Um dos associados saiu da linha, você precisa dar um jeito nisso.

-Tudo bem, eu vou colocar uma roupa e encontro você na sala de reuniões de baixo. – sala de reuniões de baixo era um subsolo onde eram feitas as reuniões mais decisivas e secretas e também aplicadas algumas punições. – o que eu visto?

-Seu avô vestiria um terno, eu não entendo de mulheres. Vocês não usam ternos? – Etore ergueu uma sobrancelha

-Eu não.

-Então use algo que dê para sujar.

Fui para o meu quarto não achei que teria que fazer algo tão rapidamente. Era só o meu primeiro dia oficial. Encontrei uma calça preta e uma blusa preta adequada, eu precisava parecer séria e meter medo como o meu avô. Mas isso era quase impossível, uma vez que ele dizia que eu era graciosa como um cisne. Desci as escadas e passei por um pequeno túnel que levava até a sala de reuniões de baixo. Bosco, o subchefe estava lá com mais alguns membros e Capos.

-O que está acontecendo? – sentei-me na cadeira que outrora pertencia ao meu avô.

-Podem trazer. – mandou Bosco a um dos Capos. Segundos depois entrava na sala um homem amarrado e totalmente ileso. A regra era clara: nenhum arranhão até que o Don decidisse o que deveria ser feito. – Este homem é acusado de conspiração com forças inimigas.

-Quais forças?

-Policiais. Ficamos sabendo que ele andou abrindo o bico sobre algumas de nossas operações. Temos algumas fotografias. – ele jogou um envelope em cima da mesa

Sussurros na EscuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora