Dormi tranquilamente, e fui procurar Belamino logo para o almoço. Nos encontramos em um restaurante, como sempre, ele estava com uma cara péssima. Me esperava em uma mesa ao fundo.
-Um homem honrado afinal. Vai cumprir com o prometido. – provoquei
-Não quero mais problemas com a Cosa Nostra. Vocês me tiraram um filho.
-Sinto muito. Você trouxe tudo?
-Tudo, está aqui. Mas antes, acho melhor que saiba de uma coisa.
-O que você tem para me contar Belamino? – olhei em seus olhos e vi apenas a coragem que este homem tinha.
-Alguém muito próximo de você é o assassino de Cesare e esta mesma pessoa vai tentar tirar a sua vida na primeira oportunidade.
-Está insinuando que tenho um traidor em minha casa? – imediatamente pensei em Bosco.
-Estou e não é quem você desconfia. Não vou citar o nome, mas há na casa alguém muito astuto e ambicioso.
-Pode falar, ninguém vai saber que foi você quem disse.
-As paredes têm olhos e ouvidos Miranda, olhos e ouvidos. – bebeu o que restava em sua taça de vinho – preciso ir agora.
Fiquei um tempo tentando entender o que ele queria dizer e subitamente me veio na cabeça a ideia de uma festa. Havia mais de trinta anos que a Cosa não dava uma festa de gala. Desde os tempos em que minha avó era viva. Fiz uma enorme lista de convidados, havia mais de cem pessoas em minha lista.
-Você está louca? Como pode sair de casa sem que ninguém ficasse sabendo? – Etore irrompeu pela porta furioso, referindo-se a noite anterior. – Você desobedeceu um mandamento!
-Sempre achei este mandamento patético e eu sou senhora de mim, posso fazer o que eu bem entender.
-Não funciona assim!
-Não quero saber como funciona. Pegue estes nomes, ligue para uma gráfica e mande fazer os convites anunciando um jantar na Casa.
-Uma festa? Esta é a ideia mais absurda que eu já ouvi.
-Eu não pedi a sua opinião. Mande avisar a todos, contate um bom bufê e eu quero tudo pronto em dois dias.
-Miranda... – começou
-Não quero ouvir. Vá e faça o que mandei, agora.
-Acha que sou seu escravo?
-Não, mas se não for as coisas vão ficar feias pra você. Não vou aturar ordens suas.
-Você é só uma menina, não sabe das coisas! – sua voz continuava alterada
-Escute aqui Etore, você não é nada além de um conselheiro e posso arrumar outro em dois segundos. Eu fui criada por Cesare para assumir a Cosa Nostra e estou cuidando de tudo tão bem quanto ele. Agora, vá e faça exatamente o que eu mandei, ou você vai se arrepender de cada afronta.
Sem dizer mais nada, ele saiu. Eu tinha quase certeza que era Etore o assassino. Estava claro como água agora. Ambicioso, foi por anos o braço direito de Cesare e esperou que meu avô deixasse as coisas para si quando partisse. Que engano terrível.
Era a noite da festa e todos estavam na Casa. A maioria dos meus convidados eram homens, eu pretendia não tornar este um jantar de negócios. Escolhi um vestido de seda e veludo preto, um modelo calda de sereia que deixava meus ombros à mostra. Coloquei também uma gargantilha de pérolas e diamantes com uma safira enorme ao centro. Perambulei pelo salão cumprimentando meus convidados.