Mesmo correndo o risco de mostrar que o moralizar, mesmoaqui, é sempre aquilo que foi, isto é, um modo corajoso de"montrer ses plaies" como diz Balzac — ousarei opor-mecontra a inconveniente e daninha desnivelação que ameaçaestabelecer-se, sem que nos apercebamos disso entre ciência efilosofia. Acredito que pela própria experiência — e parece-meque experiência significa sempre triste experiência — se devater o direito de se permitir uma palavra a respeito de umaquestão tão elevada como aquela do tipo: onde não se devefalar, como os cegos às cores, ou dos artistas e das mulheres,contra a ciência (ah! aquela maldosa ciência) gemem no seuinstinto e no seu pudor, sempre chega a descobrir em cadacoisa aquilo que esconde. A declaração de independência dohomem de ciência, a sua emancipação da filosofia é um dosefeitos mais delicados da ordem e da desordem democráticas.A glorificação de si mesmo, e a presunção do douto estão hojena plena floração de sua primavera — o que não quer dizer queneste caso que os louvores de si mesmo tenham um olor maisdelicado1 -"Chega de patrões! — também isto é requerido peloespírito plebeu e depois que a ciência soube defender-se com omaior sucesso da teologia, da qual longamente foi serva, agoraem sua audácia e irracionalidade quer ditar leis à filosofia etambém ser patroa, mas que digo — filósofa. Minha memória— a memória de um homem de ciência, com a devida vêniapulula de orgulhosa ingenuidade a respeito da filosofia e dosfilósofos, ingenuidade que ouvi de jovens naturalistas e velhosmédicos, sem falar dos mais doutos e presunçosos entre osdoutos, os filólogos e os pedagogos, que por sua própriaprofissão são obrigados a sê-lo. Algumas vezes o especialista, ohomem de horizontes, limitados, que se punha em guarda, 1 NT — Referência ao provérbio: "Eigenlob Stinkt" (O elogio a si mesmofede). instintivamente, contra todos os deveres e faculdades sintéticas,outras o trabalhador diligente que sentia um odor de otium earistocrática modo de viver na economia da alma filosófica eque se sentia prejudicado e diminuído com isso. Outras vezes odaltonismo do utilitarista, que nada mais vê na filosofia queuma série de sistemas refutados e um esbanjamento, que não"beneficia" ninguém. Outras vezes se revela o medo de ummisticismo mascarado e de uma limitação da consciência,outras vezes a falta de estima por alguns filósofos, que depoisdegenerou na falta de estima pela própria filosofia. Mas maisfreqüentemente encontrei nos jovens doutores, sob o altivodesprezo da filosofia, o efeito deletério da obra de um filósofoqualquer, ao qual se havia recusado obediência, porém sememancipar-se do desprezo que ele havia sido capaz de inspirarrelativamente aos outros filósofos e disso resultava uma espéciede aborrecimento com a filosofia em geral. (Tal me parece oefeito último de Schopenhauer na Alemanha Moderna —graças à sua pouco inteligente exasperação contra Hegel quasechegou a tirar fora de qualquer nexo com a cultura alemã àmais recente geração germânica — cultura, que a bem julgar,representa o ápice de um refinamento adivinhatório do sensohistórico, mas Schopenhauer nesse aspecto era pobre,insensível, anti-alemão até à genialidade.) Geralmente,tomando as coisas por alto, pode ocorrer que seja humano,demasiado humano, que a miséria dos filósofos modernos tenhacontribuído mais que qualquer outra coisa a reduzir o respeito àfilosofia e arreganhado as portas para os instintos plebeus. Setivesse a coragem de confessar a si mesmo, até que ponto onosso mundo moderno se ressente da falta de filósolos taiscomo Heráclito, Platão, Empédocles ou qualquer outro nomeque tenham tido os sublimes solitários do espírito, e quanto abom direito frente a certos representantes da filosofia e queestão hoje em moda — na Alemanha, por exemplo, os doisleões de Berlim, o anarquista Eugênio Duhring e o amalgamistaEduardo Hartmann — um honesto homem dedicado à ciência pode se sentir melhor. Frente aos filósofos confusionistas,particularmente, e que se autodenominam filósofos realistas oupositivistas, pode ser gerada uma desconfiança perigosa naalma de um jovem douto ambicioso. Pois mesmo estes, namelhor das hipóteses são apenas especialistas e cientistas —são facilmente convencíveis. São vencidos que forçosamenteretornam à senhoria da ciência, porque propuseram a simesmos algo mais, sem ter direito àquele algo mais, nemmesmo à responsabilidade que isso impunha, os quais,portanto, honestamente, mas cheios de cólera, de sede devingança, representam com palavras e com fatos aincredulidade na função diretiva e no direito de predomínio dafilosofia. Como poderia ser de outro modo!? A ciência estáhoje em plena floração e demonstra sinceramente a boa fé comque está animada, enquanto aquilo, que representa o gradualenvelhecimento da filosofia, aquele avanço da filosofia quenestes dias permanece apenas pode gerar desconfiança e malhumor, se não levar a menosprezo ou compaixão. Filosofiareduzida à "teoria do conhecimento", mas, na verdade, nadamais que registro de uma época, uma teoria da abstinência, umafilosofia que não sabe ultrapassar a soleira e quemeticulosamente recusa a si mesma o direito de entrar — masesta é uma filosofia agonizante. algo que provoca piedade. Ecomo tal filosofia pode dominar!?? Os perigos que a formação e desenvolvimento do filósofomoderno devem temer são tão múltiplos que se chega a duvidarse um tal fruto pode chegar a amadurecer. A ciência abrangeum círculo monstruosamente vasto e com isso cresceu tambéma possibilidade de que o filósofo se detenha nos primórdios deteu estudo e se ponha a se "especializar" em algum aspecto; detal forma que não possa chegar à altura desejada, que lhepermitiria olhar do alto, ao alto, para baixo e ao seu redor. Ou que chegue a ela demasiado tarde, quando já tiver esbanjadoseu melhor tempo, as suas melhores forças ou chegardesgastado, pesado, degenerado, de tal modo que seu juízo dosvalores tenha apenas uma pequena importância. A tal ponto quea agudeza de sua consciência intelectual o torne titubeante e fazcom que protele sua chegada; teme as se, duções dodiletantismo, que se encontra em todas as coisas, sabe muitobem que perdeu a consideração por si mesmo, ainda quechegue ao conhecimento não mais pode mandar, não podeguiar, deve resignar-se a ser, no máximo, uma espécie deCagliostro, um engodador da espírito, em outras palavras, umsedutor. Em última análise isto é uma questão de ação, se nãofosse uma questão de consciência.Para aumentar ainda as dificuldades entre as quais sedebate o filósofo acresce-se, que este peça a si mesmo umjuízo, um sim ou não, não acerca da ciência, mas sobre a vida esobre o valor da vida. Dificilmente ele chega a se persuadir quetem um direito, antes, um dever d-. externar esse juízo, e,hesitante, duvidoso e interdito, é reduzido a procurar seucaminho para esse direito e esta crença, ajudando-se apenascom as mais vastas experiências, talvez as mais confusas e asmais violentas. Na verdade o vulgo se enganou inteiramenteacerca do filósofo, desconheceu-o, trocando-o por homem deciência ou douto idealista, ou com o sentimental, que vive forados sentidos e do mundo, inebriado pela divindade, e se hojeem dia escuta-se louvar alguém que vive "sabiamente" por"filósofo" isto quer dizer apenas que vive "prudentementeretirado".A sabedoria, na idéia do vulgo, é uma espécie de fuga, ummeio, um artifício para se livrar a bom preço da embaraço, maso verdadeiro filósofo pelo menos assim nos parece, não é, meusamigos? vive "antifilosoficamente", "contrariamente àsabedoria" e antes de mais nada imprudentemente e sente opeso e o dever de numerosas tentativas e tentações da vida —arrisca-se continuamente, joga o grande jogo. Frente a um homem de gênio, isto é, um ser que cria oufecunda, estas duas expressões tomadas em seu sentido maislato, o homem de ciência, o douto, tem sempre em si algo dasolteirona, uma vez que exatamente como esta não tem a menoridéia destas duas funções, as mais importantes do homem. Defato, ambos, tanto a solteirona quanto os doutos, sãorespeitáveis, à guisa de compensação, e em tais casos tambémse a sublinha, mostrando um certo despeito ao se sentirobrigado a fazer uma tal concessão.Olhando mais de perto, o que é homem de ciência? Antes demais nada uma espécie de homem sem nobreza, isto é, nãodominante, não exercendo a autoridade, e nem mesmosuficiente a si mesmo, possui a laboriosidade, a paciência declassificar e ordenar as coisas, o senso da regularidade e damedida nas suas faculdades e necessidades, o instinto própriode seus pares, as necessidades idênticas a de seus pares, porexemplo, daquele tanto de independência, daquela quantidadede pastagem verde, sem o que um trabalho tranqüilo pareceimpossível, duma certa pretensão às honras e à consideração(que sobretudo supõe que se reconheçam seus méritos e que écapaz de fazer reconhecer), este raio de sol da fama, estaconstante ratificação do próprio valor, da própria utilidade, parapoder domar a desconfiança interna, congênita a todos oshomens dependentes e agregados. O douto possui ainda, comoé bem natural, a franqueza e os defeitos de uma raça semnobreza: inveja grosseira superabundante e um olho de lincepara os mais leves defeitos das naturezas superiores. Mostra-sefamiliar, mas se entrega voluntariamente e não se deixa arrastarpela corrente e precisamente diante do homem da grandecorrente ele permanece frio e fechado em si mesmo — seu olhoassemelha-se então a um lago liso, antipático. sem encrespar deondas por nenhum entusiasmo, por nenhuma simpatia. Mas ascoisas piores e mais perigosas das quais é capaz um douto são provenientes do instinto da mediocridade da própria espécie,daquele jesuitismo da mediocridade que inconscientementetrabalha na demolição do homem extraordinário e tende adespedaçar todo arco tenso ou, melhor ainda, a diminuir a suatensão. Tudo isso, entendamos, com o devido respeito,delicadamente: eis a verdadeira arte do jesuitismo, que sempresoube se fazer passar pela religião da piedade. Por maior que possa ser a gratidão que se deveexperimentar pelo espírito objetivo — e quem jamais não teveocasião de sentir-se pelo menos uma vez cansado do subjetivoem geral da sua maldita piedade — é preciso ter cautela mesmocom a própria gratidão evitar os exageros, que na renúncia àindependência e à personalidade do espírito surge um escopoem si, uma redenção e uma transfiguração, como aquilo queacontece principalmente na escola pessimista, a qual tem, deresto. todos os seus bons motivos para decretar a honra máximapara a consciência desinteressada". O homem objetivo, que nãoblasfema nem injuria, como o pessimista, o douto "ideal" emque o instinto científico depois de inúmeras tentativasconseguiu com grande risco surgir e desenvolver-se, encontrasecertamente entre os instrumentos mais preciosos que podemse encontrar, mas necessitam ser manejados por um braço maispotente São apenas instrumento, melhor, um espelho, nãoobjetivos em si mesmo. O homem objetivo é realmente umespelho, habituado a prostrar-se diante de tudo aquilo que deveser conhecido, sem outros desejos, além daqueles que sãoconcedidos pelo conhecer, o "espelhar" — espera sempre quealgo aconteça e então se distende delicadamente em toda a suaextensão, até que os traços de passos leves, as sombras dosfantasmas se imprimam sobre sua superfície e em suaepiderme. Aquilo que ainda lhe resta da "persona" parece-lhe ser algocasual, muitas veles arbitrário, mais freqüentemente importuno,assim tornou-se para si mesmo um objeto através do qual passa,em que se refletem imagens e ocorrências estranhas a ele. Épara ele dura fadiga, ter consciência de si mesmo e talvez atenha de um modo falso, mistura facilmente a sua pessoa com ade outro, desconhece as próprias necessidades eparticularmente nisso é indelicado e esquecido. Talvez oatormente a saúde, as pequenas misérias da vida, a atmosferapesada que reparte com a mulher, com o amigo, ou ainda a faltade amigos, da sociedade, mas, embora se esforce em pensar emsua miséria, tudo é em vão — Seu pensamento já voou paralonge,, partiu para a generalização do caso e amanhã saberámenos que hoje, qual medicação precisa. Deixou de tornar-se asério. não tem mais tempo para si próprio; está contente, nãoporque esteja destituído de penas, mas porque faltam-lhe osdedos para tocá-las. A condescendência consuetudinária, ahospitalidade serena e aberta com que acolhe qualqueracontecimento, a sua benevolência ilimitada, seu perigosodescuidar do sim e do não: — em muitos casos deverá pagarbem caro essa sua virtude! -, e depois, especialmente comohomem torna-se facilmente o "caput mortuum" de tal virtude.Se se lhe pede amor e ódio (entendo amor e ódio, como ocompreendem Deus, a mulher e o animal), ele fará aquilo quepode e quanto pode. Mas não precisa fazer maravilhas se nãopode dar muito, se precisamente aqui se mostra um ser falso,frágil, equívoco e carcomido. O seu amor é volúpia, seu ódioartificial e mais um "tour de force" de homem vaidoso, umexagero. Não é sincero, às vezes pode ser objetivo, sobretudono seu sereno "totalismo" é ainda "natureza" e "natural". Suaalma especular e lisa não mais sabe afirmar, não mais sabenegar: não comanda e nem mesmo destrói — "je ne méprisepresque rien" — diz com Leibniz, observe-se a importânciadesse "presque"! Não é mesmo um homem modelo; nãoprecede ninguém, não seque a ninguém. coloca-se a uma distância muito grande para poder tomar o partido do bem oudo mal. Se por tanto tempo foi tomado por filósofo, com oimperioso domador, com o homem superpotente da civilização,e ainda, se lhe foram prestadas excessivas honras e se não seviu o essencial nele — que é uma espécie de instrumento, umaespécie de escravo, ainda que uma das escravidões das maissublimes, mas nem por isso mesmo — presque rien!O homem objetivo é um instrumento, um preciosoinstrumento de medida, que se gasta facilmente, um espelhoartístico que se turva facilmente, que é preciso manejarcuidadosamente, que se deve honrar, mas não é um fim, umponto de partida, de saída não é um homem complementar, emque o resto da existência se justifica, não é uma conclusão, emenos ainda principio, uma geração, uma causa primeira, masalgo primitivamente maciço, sólido, que tolhe por si mesma,que deseja dominar. É, antes, um vaso, delicadamentetrabalhado, com contornos finos e movimentados, que deveesperar o advento de um conteúdo qualquer para conformar-se.É geralmente um homem sem conteúdo de qualquer ordem, umhomem "sem essência própria", conseqüentemente um nãovalorpara a mulher. Isto entre parênteses. Se um filósofo, na atualidade, quer fazer crer que não é umcético — será que foi possível perceber algo na precedentedefinição de espírito objetivo? — uma tal confissão provocaráum mau humor geral, ou se olhará nesse caso com um certotemor duvidoso, como se se desejasse perguntar tantas coisas,tantas... até, os mais tímidos, daqueles que aguçam os ouvidos,e que não são muitos, e muitos o proclamarão como um serperigoso. Parece-lhes, ouvindo-o renegar o ceticismo, como seestivessem ouvindo ao longe um rumor ameaçador, como seestivessem fazendo experimentos com substância explosivanova, com qualquer dinamite espiritual, alguma "niilina" russa recentemente descoberta, entrever um pessimismo "bonaevoluntatis" o qual não apenas diz não, quer o não, mas coisahorrível de se pensar, faz o não. Contra esta espécie de "boavontade" — vontade da renegação real, efetiva da vida — nãohá melhor antídoto, melhor calmante que o ceticismo, do doceceticismo que acalenta, e mesmo Hamlet é prescrito pelosmédicos contemporâneos contra o "espírito" e seu rumorejarsubterrâneo."Não temos cheios os ouvidos dos perigosos rumores defatos?", diz o cético, no seu amor pela quietude, como umpolicial que deve zelar pela segurança pública, "este nãosubterrâneo é terrível. Silêncio. pelo menos uma vez, animaissubterrâneos!" Aqui é que o cético, este ser delicado,amedronta-se facilmente, a sua consciência está pronta a sesobressaltar a cada não e mesmo a um sim decidido, eexperimenta uma espécie de ofensa. Sim e não! — mas isto aseu ver vai contra a moral — contrariamente, gosta de festejar asua virtude com uma nobre abstenção, por exemplo dizendocom Montaigne: "Que sei eu?" ou, com Sócrates "Sei que nãosei nada", ou ainda: "Desconfiei de mim mesmo, nenhumaporta se me abriu aqui" e, "supondo que fosse aberta, por queentrar depressa?" Ou ainda: "Para que servem as hipótesesapressadas?" Abster-se de todas as hipóteses poderia ser provade bom gosto. "É necessário endireitar aquilo que é curvo? Outapar um buraco com uma estopa qualquer? Não há tempo paraisso? E o tempo não tem tempo? Mas sois endiabrados que nãoquereis ESPERAR? Mesmo o incerto tem seus atrativos, aEsfinge é uma Circe, e Circe também era filósofo."Estes são os consolos do cético e é necessário concederque os necessita. O ceticismo é a expressão mais espiritual paraum estado fisiológico complicado, que vulgarmente se chamadebilidade nervosa e morbidez, e que se manifesta todas asvezes em que raças ou classes longamente divididas entre si seentrecruzam de modo decidido e repentino. Na nova geraçãoque herdou, por assim dizer, diferentes medidas e valores, tudo é inquietude, turbamento, dúvida, tentativa, as melhores forçasagem inibidoramente, as próprias virtudes não permitem,reciprocamente, a crescimento e fortalecimento de cada umadelas, falta equilíbrio à alma e ao corpo, a força gravitacional ea segurança perpendicular. Mas aquele que nasceu de tais raçascruzadas é, antes de mais nada. adoentado e degenerado emtermos de vontade, ignora a independência que há na resolução,a sensação valorosa, a satisfação do querer, duvidam do "livrearbítrio", até em seus sonhos. A nossa Europa é em nossos dias,teatro de uma tentativa insensatamente repentina de misturaradical de classes e conseqüentemente de raças e portantocética, daquele ceticismo móvel que salta impaciente de ramoem ramo, outras vezes sombrio como uma nuvem prenhe depontos de interrogação e freqüentemente mortalmente saciadodo próprio querer! Paralisia da vontade — onde não seencontra, na atualidade, esse ser raquítico?! E quantas vezescom que fausto não é visto! E que fausto sedutor! Esta moléstiaendossa as mais suntuosas vestes da mentira, e assim, porexemplo, tudo aquilo que é pomposamente tratado, naatualidade, sob o nome de "objetividade", de "filosofiacientífica" de "l'art pour l'art", de "conhecimento puro eindependente da vontade", nada mais é que ceticismo,paralisação da vontade pomposamente apresentada -, asseguromeo diagnóstico dessa moléstia européia. A vontade doentedifundiu-se de modo desigual na Europa, manifesta-se commais força e sob os aspectos mais variados onde a culturaaclimatou-se há mais tempo e tende a limitar-se na medida emque o "bárbaro" tende a manter — ou a reivindicar — os seusdireitos sobre os negligentes vestuários da civilizaçãoocidental.É por esta razão que na França atual, a vontade, como é fácilperceber e palpar, se encontra mais adoecida; e a França quesempre foi mestra em tornar sedutoras e atraentes mesmo àsmutações mais fatais de seu espírita, aparece hoje,propriamente, à Europa como escola e a exposição universal do ceticismo naquilo que possui de mais atraente. — A força doquerer e querer longamente já é mais acentuada na Alemanha eem o Norte mais que no centro, consideravelmente maior naInglaterra, na Espanha, na Córsega, ali condicionada pelafleugma, lá pela cabeça dura dos seus habitantes — sem falarda Itália que é ainda mais jovem. demasiado jovem para saber oque quer e que deve provar antes de mais nada que sabe querer,mas maior e mais maravilhosamente desenvolvida se encontrano império do meio, onde a Europa se coliga à Ásia, isto é, naRússia. Lá, a força do querer foi mantida durante muito tempo,acumulada, lá a vontade permanece alerta — sem saber se seráafirmativa ou negativa — em espera ameaçadora, em esperaque poderá descarregar-se. para adotar um vocábulo entre osprediletos dos físicos modernos. Não haverá sobretudonecessidade de guerras e complicações nas Índias, para que aEuropa seja liberada do maior perigo a ela atinente, comorevoluções internas, de um desagregamento do império empequenas partes e ademais da introdução da absurdidadeparlamentar, com a obrigação de cada um ler o seu própriojornal. Digo isso não como pessoa que o deseje. o contrário éque corresponde ao meu desejo, isto é, um tal crescendo naameaça russa que forçasse a Europa a tomar-se igualmenteameaçadora, isto é, unir-se numa vontade única de uma novacasta dominante na Europa, numa vontade durável, terrível,especial, que pudesse prefixar-se uma meta — a fim de que acomédia, de muito longa duração, de sua divisão em pequenosestados, da pluralidade de vontade dinástica e democráticapossam finalmente cessar. O tempo da pequena política passou,o próximo século promete a luta pelo domínio do mundo, anecessidade de fazer a grande política. Até que ponto a nova época belicosa, na qualevidentemente entramos nós europeus, possa ser talvez favorável ao desenvolvimento de uma nova espécie deceticismo mais robusto, poderei expressar apenas através deuma comparação, que será compreensível a quem tiver sededicado à história da Alemanha. Aquele rei da Prússia, ardenteentusiasta dos granadeiros de alto e valoroso porte, que deuvida a um gênio militar e cético — e no fundo também ao novotipo, ou vitoriosamente afirmativo, do alemão — o paiexcêntrico e louco do grande Frederico possuía ainda o golpede vista e a garra afortunados do gênio, sabia o que a Alemanhaprecisava, mais urgentemente, por exemplo, do que uma culturaou formas sociais — a sua antipatia pelo jovem Fredericoprovinha da angústia de um instinto muito profundo. Faltavamhomens, e ele com seu amargo despeito, suspeitava que seufilho ainda não fosse, suficientemente homem. Nisto seenganava, mas quem em seu lugar não teria se enganado? Viuseu filho cair nas garras do ateísmo, do "esprit", da vida sensualdos franceses de espírito entrevia no fundo o grande vampirodo ceticismo, pressagiava o tormento incurável de um coraçãoincapaz de resistir ao mal e também ao bem, de uma vontadedesprezada que não comanda mais, não mais sabe comandar.Mas em seu filho se radicava uma nova espécie de ceticismo,mais perigoso e tenaz — talvez fomentado pelo ódio paterno epela melancolia glacial de uma vontade formada na solidão —o ceticismo da virilidade audaz, que é mais afim ao gênioguerreiro e conquistador e que sob o grande Frederico adentrouna Alemanha pela primeira vez.Um tal ceticismo despreza e no entanto atrai, escava ealarga sua possessão, não crê, mas com isso não perde aconsciência de si mesmo, concede ao espirito uma liberdadeperigosa, mas contém com duro freio ao coração. Esta é aforma alemã do ceticismo, o qual, sob a forma de umfredericianismo crescente, levado ao seu supremo grau deespiritualização manteve a Europa sob a denominação doespírito alemão e sua desconfiança histórica e crítica. Graças ao caráter indomavelmente forte e tenaz dosgrandes filólogos alemães e dos críticos históricos (os quais,em verdade, foram conjuntamente os artistas da demolição e dadecomposição) afirmou-se aos poucos. apesar do acentoromântico na música e na filosofia, um novo conceito doespírito alemão, no qual se manifestava resolutamente apropensão ao ceticismo viril, como, por exemplo a impavidezdo olhar, na coragem e inflexibilidade da mão que corta, seja natenaz vontade de descobertas perigosas, expedições polarestemerárias, sob céus ameaçadores e desolados. Aqui deveresidir seu bom motivo, homens humanitários. ardentes ousuperficiais partiram para guerrear o espírito assimconformado: "cet esprit fataliste, ironique, méphistophélique"como o chama, não sem ter calafrios, o Michelet. Mas se sedeseja compreender quanta distinção há neste medo do"homem" segundo o espírito alemão, através do qual a Europafoi despertada de seu "sonho dogmático", basta lembrar doantigo conceito que devia ser vencido e superado, basta lembrarque, numa época não muito longínqua um virago. em suadesenfreada presunção, ousou recomendar aos alemães comoseres tolos, inofensivos, bonachões, destituídos de vontade esentimentais, às simpatias da Europa. Intui-se final eprofundamente, o espanto de Napoleão ao ver Goethe, istoserve para explicar a idéia que durante muitos séculos se tevedo "espírito alemão". "Voilà un hammel" Isto significa: "Mas éum homem] E eu esperava apenas ver um alemão! Admitindo, pois, que qualquer evento deixe entrever naimagem dos filósofos do futuro quanto deverão ser céticos, nosentido indicado anteriormente por nós, apenas seria explicadauma pequena parte de seu ser, e não eles mesmos. Com omesmíssimo direito poder-se-ia chamá-los críticos e em todocaso seriam homens que experimentam. No nome com que ousei batizá-los sublinhei expressamente a tentativa e o prazerque experimentam na tentativa, talvez porque, críticos pelaalma e pelo corpo, gostam de se valer dos experimentos numsentido novo, talvez mais lato, talvez mais perigoso?Serão constrangidos pela grita a perceber que é tormenta levarmais adiante com suas tentativas audazes e dolorosas, do quecomporta o gosto efeminado de um século democrático? Éindubitável que aqueles que estão por vir não poderãodesprezar aquelas qualidades sérias e profundas quedestinguem o crítico do cético, como a segurança na medidados valores, o manejo consciente de uma unidade de método, acoragem reflexiva, o sentimento de ser só, de poder justificarse,se se concederam encontrar prazer em dizer não, emdesmembrar, a possuir uma espécie de crueldade raciocinante,que sabe manejar o cutelo com segurança e delicadeza, mesmoquando o coração sangra. Serão mais duros (e talvez nemsempre contra si mesmos) do que alguns humanitaristaspoderão desejar, não procurarão a verdade porque essa lhesagrada", lhes "enleva" e lhes "entusiasma" — antes, estarãomuito longe de acreditar que a verdade reserve tanto prazer.Sorrirão, aqueles espíritos severos, quando alguém disser diantedeles: "Esta idéia me enleva, como não seria verdadeira?" Ouainda: "Aquela obra me agrada, como poderá não ser bela?"Ou: "Aquele artista me exalta, como poderia não ser grande?"Talvez não se limitem a um sorriso, mas sintam náusea de umtal sentimentalismo, sentimentos tão idealistas, femininos,hermafroditas, e quem pudesse seguir o seu pensamento atémesmo nas profundidades mais íntimas do coração dificilmentepoderia encontrar a intenção de reconciliar os sentimentoscristãos com o "gosto antigo" e menos com o "parlamentarismomoderno" (aquilo que, porquanto se afirma, em nosso séculomuito instável nas suas idéias e conseqüentemente tendendomuito a conciliações, acontece também a certos filósofos).Disciplina crítica e tudo aquilo que possa habituar a umpensar puro e rigoroso, os filósofos do futuro pretenderão para si mesmos e mais ainda, ostentarão como um grande ornato —mas, apesar de tudo, não desejarão ser tratados pelo nome decríticos. Aos seus olhos parece não pequena vergonhasentenciar, como se deseja fazer hoje em dia: "A filosofia em simesma é crítica e ciência da critica — e nada mais!" Estaavaliação encontra ainda o aplauso dos positivistas franceses ealemães (e pode ser que recebesse ainda a gratidão de Kant.basta lembrar os títulos de suas obras mais importantes), osnossos novos filósofos dirão precisamente isso: os críticos sãoos instrumentos do filósofo e por serem instrumentos, muitolonge de serem propriamente filósofos. Também a grandechinês de Koenigsberg não era mais que um grande critico tiofundo. Insisto em que se deixe de confundir, de uma vez por todas,os operários filosóficos — e em geral, os homens de ciênciacom os filósofos, e que a cada um seja dado aquilo que lhepertence, nem mais, nem menos. Pode acontecer que para aeducação do verdadeiro filósofo seja preciso que ele percorratodas as gradações, nas quais os seus servos, os operárioscientistasda filosofia estão aboletados e devem permanecerfirmes — também ele deve ter sido crítico, cético, dogmático ehistórico e ademais, poeta, coletor, viajante e xaradista emoralista e vidente e "espírito livre", tudo enfim para poderpercorrer o circulo dos valores humanos, dos sentimentos devalor e poder lançar um olhar de múltiplos olhos e múltiplasconsciências da mais excelsa altitude aos abismos, dos baixiospara o alto. Mas tudo isso é apenas uma condição preliminar dasua incumbência. seu destino exige outra coisa: a criação devalores.Os operários da filosofia segundo o nobre modelo de Kant ede Hegel têm por função estabelecer a existência de fato decertas apreciações de valores — isto é de antigas suposições e criações de valores, que com o tempo se tomaram dominantes,constrangê-los em certas fórmulas, seja no reino da lógica, sejada política (ou moral) ou da arte. A estes investigadorescompete a função de tornar claros, inteligíveis, palpáveis atodos os acontecimentos, todas as avaliações verificados atéagora, de abreviar tudo isso, a tudo aquilo que é longo, mesmoo "tempo" e de tomarem-se senhores ,absolutos do passado,função imensa e admirável, na qual todo orgulho delicado, todavontade tenaz podem encontrar satisfação. Mas os verdadeirosfilósofos são dominadores e legisladores, dizem: "deve serassim preestabelecem o caminho e a meta do homem e fazendoisso usufruem do trabalho preparatório de todos os operários dafilosofia, de todos os dominadores do passado. Estendem para ofuturo as mãos criadoras, tudo aquilo que é e foi, torna-se paraeles um meio, um instrumento, um martelo. O seu "conhecer"equivale a um criar, o seu criar a uma legislação, o seu querer àverdade,, ao querer o domínio. Existem na atualidade taisfilósofos? Não existiram? Não é talvez necessário que existamtais filósofos? Cada vez mais me inclino a acreditar que o filósofo, ohomem necessário do amanhã e do depois de amanhã, semprese tenha encontrado e tenha devido encontrar-se emcontradição com sua época, o seu inimigo sempre foi o ideal dehoje. Até agora, todos esses favorecedores do homem que sechamam filósofos — os quais por si mesmos raramente tiveramo sentimento de serem os amigos da sabedoria, mas antesloucos e pontos de interrogação perigosos — acharam seutrabalho duro, indesejado, ingrato e impreterível, mas do qualreconheceram a grandeza ao representar a má consciência dotempo em que viveram. Aplicando o escalpelo do vivissectorao peito da túrtude da época deixaram transpirar a própriosegredo, o de conhecer uma nova grandeza no homem, de buscar uma nova senda inexplorada para alcançar tal grandeza.Todas as vezes desmascararam a hipocrisia, a comodidade, odeixar andar, o deixar cair, em resumo toda a mentira que seencerrava no tipo mais respeitado de moral da sua época...revelaram ao mundo quanta virtude havia sobrevivido a simesma; sempre disseram: "devemos vencer lá, lã onde tendesmenor familiaridade". Frente a um mundo das "idéiasmodernas" que deve confinar cada um num ângulo "especial"um filósofo, se atualmente pudessem existir filósofos, seriaconstrangido a contrapor à grandeza do homem, o conceito da"grandeza" por si mesmo em toda sua extensão, na suamultiplicidade, na sua integridade, na pluralidade e assimdeterminaria o valor e o grau segundo quanto cada um podesuportar e tomar para si, segundo a tensão de que é capaz a suaresponsabilidade.Agora, o gosto do dia debilita e afina a vontade. nada émais moderno que a fraqueza da vontade, pelo que, no ideal dofilósofo, no conceito "grandeza" devem estar compreendidas aforça da vontade, a força de resistência, a capacidade deassumir resoluções duráveis, e isto da mesma forma e igualdireito que a doutrina e os ideais opostos de uma humanidadesabiamente renunciadora, resignada. humilde e altruística eramadequados a uma época que era o contrário da nossa, a umaépoca que a exemplo do século dezesseis sofria sob o peso daenergia da vontade acumulada e da impetuosidade selvagemdos seus sentimentos egoísticos. Nos tempos de Sócrates, entreos homens de instinto enfraquecido, entre os velhos ateniensesconservadores, que se deixavam andar — "rumo à felicidade"como diziam, mas realmente apenas segundo seu desejo, — etinham ademais a boca sempre cheia de magníficas expressões,ás quais a sua vida não mais dava nenhum direito, talvez aironia fosse necessária à grandeza da alma, era talveznecessária aquela segurança socrática e maligna do velhomédico ou do plebeu, que cortavam sem piedade a própriacarne, — começaram-a servir da carne cru do coração dos "aristocratas", com um olhar que dizia francamente "não fingidiante de mim — nisto, somos iguais!" A Europa da atualidade.ao contrário, apresenta os animais de rebanho distribuindo ashonras e possuindo-as, é lugar onde a "igualdade de direitos"por pouco não se transmuta na igualdade da injustiça, querodizer no guerrear tudo aquilo que é raro, estranho, privilegiadoao homem superior, à alma superior, ao dever superior, àresponsabilidade superior, ao império da força criadora; —atualmente o ser aristocrático, o ser por si mesmo e diferentedos outros, o ser só e viver para si só, são atributos da"grandeza" e o filósofo deixará entrever o seu ideal quandodecretar: "será o maior aquele que souber ser o mais solitário, omais misterioso, o mais diferente entre os homens. aquele queserá colocado além dos limites do bem e do mal, que será odominador da própria virtude, que será transbordante devontade, isto se chamará grandeza, o ser múltiplo e ao mesmotempo uno, o conjugar a máxima extensão ao conteúdomáximo". E perguntamos uma outra vez: a grandeza é possívelna atualidade? Saber o que é um filósofo é algo difícil de determinarunicamente pelo fato de que não é possível ensiná-lo, é preciso"sabê-lo" por experiência, ou ainda é preciso ser tão orgulhosoque não se queira sabê-lo. Mas o hábito que todos possuem defalar de coisas das quais não têm nenhuma experiência, hácomo alvo principal o filósofo e as coisas filosóficas: umnúmero muito limitado de pessoas tem condições de conhecê-loe todas as opiniões populares acerca desse assunto são falsas.Assim, por exemplo, aquela consistência genuinamentefilosófica de uma espiritualidade impertinentemente audaz, queseque um ritmo de "presto" e de uma dialética rigorosa enecessária, que não dá nenhum passo em falso, é na verdadedesconhecida por experiência pela maioria dos pensadores e dos doutos, razão pela qual não é digno de fé cada um deles quefale sobre o assunto. Figuram-se as coisas necessárias como umdever, como argumentação penosa, à qual se é constrangidonecessariamente e o próprio pensar aparece como algo de lento,de doentio, de penoso e freqüentemente "digno do suor dehomens melhores" mas jamais, como algo lépido, divino, eafim à dança, ao entusiasmo juvenil! "Pensar" e tomar algo a"sério" com "gravidade" para aqueles é uma única coisa e istolhes é ensinado pela própria experiência. Os artistas nestesentido já têm o faro mais aguçado. sabem precisamentequando algo não está à sua altura, quando não podem fazeralgo, mas se são constrangidos a fazê-lo, os seus sentimentosde liberdade, de refinamento, de plenos poderes, de predispor.dispor e traduzir em realidade as suas criações, atinge o maiorgrau de elevação, em resumo, a necessidade se confunde numaúnica coisa com o "livre arbítrio". Existe enfim uma ordemgradual dos estados de alma, a qual é conforme à ordemgradual dos problemas, e os mais altos problemas ferem sempiedade quem quer que ouse aproximar-se sem estarpredestinado pela elevação e potência da sua intelectualidade, apoder resolvê-los. Que ajuda, se hábeis sabichões bons paraqualquer função, ou tolos operários ou empiricistas promovembalbúrdia, no seu orgulho plebeu, como tão freqüentementeacontece na atualidade, em torno de tais problemas, como se seencontrassem na "corte das cortes"! Mas sobre tais tapetes nãodevem ser impressas as solas de pés grosseiros, isto já foiprevisto pela lei mais primitiva, para estes descarados a portapermanece fechada, e esses tentam em vão colocá-la abaixo amarradas. É preciso nascer para os mundos elevados, ou paradizê-lo com maior clareza, é preciso ter sido elevado; umdireito à filosofia, tomando a palavra no sentido mais amplo, sóé dado pelas próprias origens, os antepassados, "o sangue",decidem mesmo aqui. Muitas gerações devem ter preparado oadvento do filósofo, cada uma de suas virtudes deve ter sidoaquisitada, cultivada, herdada e incorporada; não sobretudo o fluxo leve e delicado dos seus pensamentos, mas antes e antesde mais nada a sincera disposição para as grandesresponsabilidades, a imperiosidade dos olhares, o saber-seseparado do vulgo, dos seus deveres e de suas virtudes, aproteção e pronta defesa de tudo aquilo que é mal interpretado,que é caluniado, seja Deus ou o Diabo, a propensão e aadmiração pela grande justiça. a arte do comando, a vastidão davontade, a lentidão do olhar, que raramente admira, raramentese exalta e raramente ama...
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Além do bem e do mal - FRIEDRICH WILHELM NIETZSCHE
RandomDo Original Alemão: JENSEITS VON GUT UND BÖSE © Copyright 2.001 by Hemus S.A. Todos os direitos adquiridos e reservada a propriedade literária desta publicação pela HEMUS LIVRARIA, DISTRIBUIDORA E EDITORA S.A. Visite nosso site: www.hemus.com.br Ped...