- Desculpe, senhor?
Eu ergui a cabeça ao ouvir uma voz feminina e uma senhora de meia-idade estava me olhando docemente.
- Gostaria de falar com ele agora?
- Ele acordou?
- Está meio adormecido, mas acordará assim que começar falando com ele.
Eu assenti e levantei-me, seguindo a mulher até chegar na porta do quarto onde estaria o homem loiro de quem eu nem sabia o nome.
- Uhm, você pode me dizer qual o nome dele? – Eu perguntei baixo antes de abrir a porta.
- Niall. – Ela falou, parando de seguida como que repetindo a minha pergunta na sua mente. – Mas você não é da família?
- Oh não – Eu falei suspirando de alívio. – Eu atropelei ele.
A mulher pareceu ficar incrivelmente surpreendida mas eu apenas entrei no quarto, fechando a porta atrás de mim. Vi ele deitado na maca com um braço engessado e algumas ligaduras no rosto. Fui me aproximando lentamente e tentei não fazer ruído para não acordar o ser diabólico que parecia falsamente angelical enquanto dormia.
Acabei me sentando na cadeira encostada na maca e esperei que ele acordasse enquanto observava o quarto à minha volta. Um cheiro a desinfetante não deixava o meu nariz e eu me sentia já enjoado, quando subitamente ouvi Niall se mexer.
Olhei o homem ao meu lado e tentei perceber se ele iria finalmente abrir os olhos. Ele contorceu o seu rosto e acabou abrindo lentamente os seus olhos azuis, pestanejando lentamente com as sobrancelhas contorcidas, tentando enxergar algo na sua frente apesar das luzes brilhantes.
- Seu filho da puta.
Ele falou usando das poucas forças que reunira.
- Sério isso? Primeira coisa que você faz quando acorda é me xingar?! – Eu perguntei escandalizado e ele assentiu calmamente.
- Você me atropelou! – Ele ripostou, se defendendo e eu fui obrigado a lhe dar razão.
- Foi um acidente, tá?
- Eu aposto que no fundo você me reconheceu e fez isso de propósito.
Eu soltei um grunhido de desespero e passei as mãos pelo rosto com força, tentando evitar uma reação mais agressiva.
- Eu fiquei aqui duas horas lhe fazendo companhia, seu ingrato.
- Eu dormi durante esse tempo todo? – Ele perguntou, nem me agradecendo e eu senti raiva ferver dentro de mim, mas tentei ignorar isso.
- Preferia que tivesse continuado dormindo... - Eu murmurei mais para mim do que para ele mas ele acabou ouvindo e semicerrou os olhos.
- Sai daqui, eu não quero a sua companhia, quero processar você! – Ele falou alto, e o seu ritmo cardíaco acelerou de imediato na máquina ligada ao corpo dele.
- Eu não posso ir embora sem que alguém fique com você.
- E por que não? – Ele perguntou franzindo as suas sobrancelhas loiras.
- Você não tem família? Alguém que venha te ver? – Perguntei ignorando a sua pergunta.
Ele desviou o olhar para o lado e cerrou os maxilares por segundos, parecendo se recusar a responder.
- Não. – Ele falou finalmente, sempre de olhar distante.
- Nem uma única pessoa? Uma única que seja?
- Já disse que não. – Ele repetiu ainda de voz baixa e dava para ver que era um ponto fraco dele, mas porquê?
- Você deve ser ruim mesmo, meu Deus.
- Não fala do que não sabe. Vai embora e espera o meu advogado te contatar.
Eu voltei a lembrar o contrato que estava prestes a fechar e o medo de ter tudo isso arruinado me fez insistir para que pudesse ficar.
- Já te falei que não posso deixar você sozinho nesse lugar. – Eu disse cruzando os braços, mostrando para ele que não planeava sair tão cedo.
- Que droga. – Ele murmurou, suspirando ruidosamente.
Eu revirei os olhos e olhei o relógio sob a manga da minha camisa, verificando que já era de madrugada. Ainda não pude explicar para Zayn o que se passava e sinceramente nem queria fazer isso. Ele viria de propósito para me arrancar desse lugar e me levar de volta para casa, custasse o que custasse.
- Qual é o seu nome? – Niall perguntou ainda sem me olhar.
- Harry. Harry Styles. – Eu sorri levemente e ele apenas me olhou com desprezo, embora a sua expressão mudasse imediatamente.
- Você é que é o dono da Styles Enterprises? – Ele perguntou de olhos arregalados.
- Uhm... Sim... - Eu falei meio que estranhando todo o fascínio súbito pela minha pessoa.
- De todas elas?! – Ele perguntou quase tendo um ataque cardíaco de tanto entusiasmo.
- Sim... - Eu respondi ainda com medo de que ele morresse ali de excitação.
- Mano eu estou nem acreditando! – Ele falou com um sorriso.
Esse sorriso foi se perdendo à medida que ele analisava o meu rosto e eu estranhei isso mas mantive o silêncio.
- Achei que fosse mais gostoso. – Ele deu de ombros e se encostou calmamente na maca de novo.
- O quê?! – Eu perguntei indignado e baixei o olhar pelo meu corpo, tentando perceber o que estava errado com os olhos desse daí. – Eu fico horas num hospital frio e você ainda fica me xingando?
Eu suspirei e cruzei os braços de novo, como que amuando embora não fosse intencional, era apenas uma reação natural que eu tinha quando me sentia ofendido.
Sem qualquer aviso prévio comecei a ouvir pequenas risadas que chamaram a minha atenção para o homem loiro tapado com cobertores finos. Os seus risos aumentavam a cada segundo que passava e eu estava estranhando isso, embora apenas o observasse.
O seu riso era muito doce, cara.
- Eu estava te zoando, Harry. – Ele falou parando de rir progressivamente. – Você é o homem mais gostoso de Los Angeles.
- Você acha? – Eu perguntei com um sorriso convencido e ele deu de ombros.
- Eu não, mas todas as revistas da cidade parecem achar.
- Talvez elas tenham razão. – Eu falei ainda com um sorriso vencedor e ele me olhou, revirando os olhos de seguida.
Eu soltei uma gargalhada com a sua expressão e ele começou rindo também, pelo que ficamos ali que nem loucos rindo sem qualquer motivo aparente. Apenas rindo. E isso sabia bem.
