Putz!

25 3 0
                                    

Bati a porta do meu quarto com força. Corri, pulei em cima da minha cama e comecei a chorar. - Eu não acredito que ele fez aquilo!
- Calma, Lyn! - Lauren falou, fechando a porta do meu quarto.
- Meu Deus, Lauren! Eu nunca o enfrentei dessa maneira! Estou com medo dele fazer algo comigo - falei com a voz embargada, levantando a cabeça e baixando-a novamente nos travesseiros - Você o humilhou legal. - Sentou-se à minha frente.
- Mas a minha intenção não era aquela.
- Nós sabemos disso. Você deix...
"Toc-Toc". Alguem bateu na porta. Abriu a porta devagarzinho. Leda.
- Hmmm... Senhorita, seu pai deseja falar com você assim que eu tirar a Lauren daqui. - Saiu puxando-a pela orelha.
- Ai, ai, ai, mãe! Devagar!
Quando elas saíram, enxuguei minhas lágrimas para me manter firme em meus argumentos, enquanto meu pai entrou no quarto com um semblante que não dava para identificar se era tristeza, humilhação ou decepção.
- Sabe o quanto eu dei duro pra fazer essa festa acontecer, filha? - ele se aproximou da minha cama.
- Eu não tenho mais nada a falar.
- Mas eu tenho, Lyndha! - ele começou a se alterar, andando do lado da minha cama de um lado para o outro repetidas vezes - Que palhaçada foi aquela? Acha que eu sou idiota? Me fazer uma vergonha daquela não tem perdão! Porque não esperou os convidados saírem? Porque me humilhou daquele jeito?
- Ah, é tão bom humilhar os outros, não é, pai? - o sarcasmo ficou explícito na minha face, que nem conseguia disfarçar - Espero que o senhor tenha aprendido que o mundo não gira ao seu redor e que muito menos eu sou obrigada a girar.
- Quem você pensa que é, Lyndha Olivia Queen? Só porque nós acabamos de nos mudar, aí você se vê na obrigação de me fazer aquela... Aquela...
- Ainda foi pouco o que eu fiz, papai!
- Pare de faltar com respeito comigo! Quem você acha que está falando com você? É aquela sua amiguinha tosca filha da empregada? - Ele falou com um nojo horrível, debochando da Lauren - Pois você está de castigo a partir de hoje! E ai de você se me desobedecer! Durante um mês não poderá sair sem minha autorização a não ser para ir à escola! Estamos entendidos? - ele gritou comigo como se estivesse falando com um de seus empregados.
- Agora quer agir como pai... Merece palmas, mas não vou descer ao nível.
- Chega, Lyndha! Já deu o que tinha de dar nessa noite! Você passou dos limites!
- Ah, Harrison, só porque eu defendi uma das suas "empregadas"? Ah, poupe-me de seu controle patriarcal, por favor! - falei, deitando-me de lado, dando as costas para a porta.
- Eu não vou mais falar nada! - ele saiu, fechou a porta com toda a força possível.
Ah, fala sério? Ele não tem coisa melhor para fazer do que encher o saco das empregadas? Coitadas.

***********************************
DUAS SEMANAS DEPOIS

O clima estava frio. Era seis horas da manhã. Chovia bastante. Levantei enrolada no meu cobertor. Desci as escadas, tentando não fazer barulho para não acordar ninguém. Fui procurar a Lauren, mas ela estava dormindo no sofá.
- Lau, acorda. Eu acho que não vou à escola hoje. - balancei-a, afim de acordá-la.
- Hã? O quê? - ela acordou meio desnorteada, mas não tomou susto.
- Eu disse que não vou à escola.
- Você sabe que o James vai perguntar por você de novo, não é?
- Está chovendo. Não quero ir.
- Você faltou a semana passada toda.
- Eu já te avisei que só vou sair de casa depois que eu sair do castigo.
- Mas seu pai disse que...
- Não quero saber o que o meu pai disse. Eu já tomei minha decisão.
- Ok, então, mas semana que vem tem prova de literatura. Não se esqueça de estudar.
- Tudo bem - beijei-a na cabeça e subi para o meu quarto. Escolhi um vestido rodado, com quatro dedos acima do joelho, de cor vermelha, com florzinhas brancas e com detalhes de renda nas costas, então fui tomar banho. Debaixo do chuveiro, pensei no que a Lau falou: será que o James realmente vai perguntar por mim? Será que ele realmente se importa comigo? Será que ele gosta de mim? Saí, troquei de roupa, me arrumei e desci para tomar café. Chegando na cozinha, Leda falou:
- Minha menina, sente-se aqui do meu lado. Vamos conversar - ela estava com cara de preocupada.
- O que quer comigo, Leda? - falei, pegando um pão de queijo para comer.
- Porquê você não está indo à escola? Tem algo lá te incomodando?
- Não... - falei, mastigando - Apenas estou fazendo o possível para evitar o que meu pai quer que eu faça.
- Ô, minha filha... Não faça isso. Vai deixá-lo magoa...
- Magoado, Leda?! Ele pensou nas coisas que ele fez antes de vir para esta casa? Ele pensou em mim quando decidiu me tirar de Phoenix para me colocar numa cidade onde todo mundo conhece todo mundo? Acho que não! - falei, me levantando
- Onde você vai, Lyn?
- Vou resolver minha vida, Leda, e não me espere para o almoço.

O Que Somos, Afinal?Onde histórias criam vida. Descubra agora