Dia, lugar e hora

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Sábado. Sete e quinze da manhã. Meu quarto. Acordei desnorteada. O vento batia em minha janela. Treze chamadas perdidas da Leda. Cinco torpedos da Lauren. Alguma coisa aconteceu. Enrolei-me no meu roupão de seda rosa pastel, calcei minhas pantufas e desci as escadas. Papai estava sentado no sofá, muito apreensivo. Leda só fazia tremer-se e chorar.
- Pai? O que houve? Leda, por que você está chorando? - sentei ao lado dela no sofá.
-A... Lauren... Sa-saiu durante a-a noite... Depois que vocês vo-voltaram do shoping... E-eu não sei mais o que fazer, minha menina - falou, abraçando-me e chorando muito.
- Como assim ela desapareceu?
- Filha, tudo indica que ela saiu enquanto todos dormiam. Leda acordou e viu que ela não estava dormindo, então saiu procurando-a em todos os lugares possíveis dessa casa e ligou para ela, mas o telefone só dá caixa postal.
- Calma, Leda. Nós vamos encontrá-la. Eu prometo - tentei acalmá-la, mas o nervosismo subiu à cabeça que nem conseguia parar de soluçar.

Fui novamente ao meu quarto, tomei um banho rápido, troquei de roupa, escovei os dentes e fui ler as mensagens que a Lauren tinha mandado para mim:

"Lyn, adivinha onde eu estou em plenas três horas da manhã. Sim, você não vai acreditar. Na casa do Brendon."

"Não conte nada a minha mãe. Ela vai surtar quando souber que estou namorando."

"E não se preocupe. Vou voltar para casa hoje. Mas só vou depois da festa do James."

"A propósito, você vai com quem?"

"Chegar lá , a gente conversa. Tenho muita coisa para fazer, se é que você me entende. Beijos da Lau."

Definitivamente eu estava em choque. Cheguei a pensar que ela havia sido sequestrada. Fui até a cozinha falar com Leda:

-Ledita, não precisa se preocupar. A Lau está bem, só precisou sair de casa logo cedo, porque foi trocar um... Uma... Uma peça de roupa que compramos, porque... É... Estava em liquidação hoje e a loja estava trocando produtos.
- E então por que ela não me avisou? Só avisou a você?
- Não sei, mas foi isso que ela disse.
- Pelo menos ela está bem.
- Pois é, cara amiga... Pois é... - falei, aliviada, porém chateada por ter mentido para alguém que admiro e gosto muito - Mas mudando um pouco de assunto, Leda... É... Há quanto tempo é empregada?
- Governanta, na verdade, mocinha.
- Ah, desculpe-me. Há quanto tempo é governanta?
- Bem, antes de eu engravidar da Lauren, eu trabalhava em uma casa grande. Acabei me apaixonando pelo filho da dona da casa. Ele apaixonou-se por mim também. Tivemos um caso e... Hum... Engravidei. Quando a mãe dele descobriu, me despachou imediatamente. Tentei entrar em contato com ele durante algum tempo, mas não consegui.
- Ela não conheceu o pai? - Leda balançou a cabeça, negando.
- Assim que a Lau nasceu, conheci um homem de classe média. Nem muito rico nem muito pobre, mas que ganhava bem. Ele cuidou muito bem de nós duas, mas quando a Lauren completou 7 anos, ele estava indo viajar de carro a trabalho e sofreu um acidente. O carro caiu num barranco. Nem adiantou chamar os paramédicos. Ele morreu na hora.
- Sinto muito, Leda. Não sabia. Desde então você não se apaixonou mais? - falei, sentando à mesa e colocando suco de laranja no meu copo.
- Não. Passei o resto da minha vida dedicando-me a ela e aos meus novos patrões, os antigos donos dessa mansão. Foi então que o seu pai comprou a casa e vocês vieram morar aqui - falou, servindo-me pães de queijo.
- Mas você é muito nova, Leda. Tem muita coisa a se viver ainda.
Realmente ela era muito nova. Trinta e cinco anos. Mãe aos dezenove. Uma guerreira. Lutou a vida toda para ter melhores condições de vida para a filha e para si mesma.
Tomei café e fui procurar a Lauren. Peguei meu carro, um Porsche cinza, e fui até a casa do James. Aparentemente, não havia ninguém em casa. Uma casa grande, amarela, com cinco janelas de frente para a rua, um jardim enorme cheio das mais variadas flores, e um portão de ferro dividindo a propriedade da rua. Então liguei para ele:

*Telefone tocando*

- Alô? - atendeu ele com voz de sono.
- Hey, little boy. Sou eu.
- Ah, oi meu amor. Acordei agora. Desculpe-me.
- Primeiro de tudo, feliz aniversário. Segundo: estou de frente à sua casa. - falei olhando para as janelas de cima - Terceiro, preciso da sua ajuda. A Lauren "fugiu" de casa ontem e disse que estava na casa do Brendon, mas não sei onde fica. Precisamos ir...
- Como é? A Lauren está onde?
- Isso, na casa do Brendon.
- Meu Deus, isso não vai acabar bem. Estou descendo. Não saia daí.

*Telefone desligando*

Cinco minutos depois, o portão abriu e o James saiu correndo, entrando no meu carro.
- Cheguei a tempo, agora corre para a 5th Avenue com a rua Thompson. Corre, Lyn. - falou ofegante.
- Está bem, mas calma. Eu estou um pouco desesperada, mas não sei o que aconteceu. Ela apenas fugiu durante a noite e foi à casa dele.
- Apenas? Sério?
- Ué, falei algo demais?
- Meu amor, para o carro.
- O quê? Eu não posso parar aqui e agora.
- Só para o carro.
Estacionei num canteiro de obras no final da rua dele.
- Agora fala o que está acontecendo.
- O Brendon... Ele... Ele é esquizofrênico. Ele tem surtos durante a noite e durante os treinos no colégio. O treinador já o levou várias vezes para o hospital com crises desse tipo. Ele enlouqueceu mesmo. Não era para ela ter ido.
- Espera, ele é doente? Mas... Quando a gente conversou, ele era tranquilo.
- Aparentemente, sim, mas nunca se sabe quando ele vai ter um ataque.

Chegando na casa do Brendon, aparentemente simples, com uma cerca ao redor e um jardim enorme, lá estava a Lauren, saindo da casa correndo e chorando, enrolada em seu cobertor, com chinelinhos de bichinhos, uma mancha roxa em seu rosto.

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⏰ Última atualização: Jan 03, 2018 ⏰

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