Ata

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*Telefone tocando*
- Alô?
-Lau, sou eu. Você recebeu alguma mensagem do James?
- Amiga, a namorada dele é você e não eu.
- Olha suas mensag...
-Sim, acabei de receber, dizendo: Lauren, sábado que vem vou dar uma festa em comemoração ao meu aniversário. Te espero lá.
- Ótimo, valeu, Lau.
- Tá, mas agora posso saber o que foi? Por que você me ligou podendo ter gritado pir mim, já que eu estou um andar abaixo de você?
- Desculpa. Força do hábito
- Ah, tá bem então. Tchau.
- Bye.
*Telefone desligando*

Estava tão chocada com o convite que fui me certificar se a Lauren também havia recebido, senão nem iria pisar os pés lá. Comecei a pensar os possíveis lugares para onde o Jay poderia me levar, quando ouvi uma leve batidinha na porta do meu quarto. Harrison, meu querido papai.
- Está muito ocupada? - falou ele, colocando sua cabeça entre a porta.
- Pode entrar, pai.
- Olha, filha, vim desculpar-me por ter feito aquela ceninha toda na hora do almoço. Vi que você tinha razão e... - falou sentando na beira da minha cama, olhando para mim - Eu não quero ser mais assim. Não quero ser arrogante e preconceituoso. Quero ser uma nova pessoa. Poder viver coisas que nunca tive oportunidade de fazer com você. Sei que no fundo sou uma pessoa boa, mas quero descobrí-la contigo.

Minha reação imediata foi abraçá-lo. Queria sentir seu cheiro, o calor dos braços de um pai que jamais tivera em toda a vida:
- Não precisa desculpar-se, papai. Eu já o perdoei há muito tempo.
- Que bom, filha. Eu te amo. Nunca esqueça que só quero o seu bem. Ah, está fora do castigo também. Não precisa agradecer. Só viva sua vida - falou, dando-me um beijo na testa e se levantando para ir embora.
- Pai, antes que o senhor vá, preciso te dizer algo.
-Pois então fale.
- Sábado tenho uma festa de um... Um... Um colega de classe. James Kurt. Lauren também foi convidada. Posso ir?
- Colega de classe, é?
- Sim, eu acho...
- Tudo bem, não me importo, com o tanto que você não chegue no domingo pela manhã.
- Pode deixar, papai. Vou chegar cedo.

Saiu do quarto e fechou a porta. Estava tão empolgada que esqueci a hora. Anoiteceu. Chamei a Lau para ir comigo ao shopping. Compramos roupas para usar no sábado, um vestidinho vinho com detalhes dourados na gola e na cintura rodado com uma jaqueta jeans, uma meia calça preta fumê e uma botinha preta com uma corretinha dourada para mim. Para ela, um short preto de cintura alta com um cropped cinza escuro e um tênis branco básico. Damos mais uma volta no shopping quando nos esbarramos com o Luke Jackson:

- Ora, ora, se não são a princesinha mimada do papai e a sua amiga idiota filha da empregada...
- Como se não bastasse a palhaçada do café, ainda tem a audácia de aparecer na nossa frente aqui no meio do shopping, não é mesmo, Jackson? - falei, com tom irônico.
- Você ainda vai me pagar por tudo o que me fez passar na cafeteria, Queen, você e seu namoradinho. - falou apontando o dedo para mim.
- Olha aqui, seu otário, você pode até me chamar de filhinha de empregada, mas com a minha amiga você não ouse se meter, se não apanha aqui no meio. Acho que não vai querer que isso aconteça para acabar com o resto da sua reputação, não é mesmo? Imagina que louco se saísse na capa do jornal da cidade "Filho de milionário apanha de uma garota por tentar ameaçar sua amiga". Acho que não ficaria tão bem para você, não é? E ainda seria chamado de covarde.
- Lau, para. Não se mete com ele. Vamos embora. Não preciso olhar mais para ele - falei, puxando-a para longe dele - E você, Luke, mantenha distância de nós.
- Isso, pode manter distância mesmo, seu ridículo! - Lau saiu xingando-o enquanto eu a puxava pelo braço.
- Não quero que você se meta em confusão por minha causa, Lauren.
- Por você, eu bato, xingo, vou até a lua se precisar, Lyn. Você é como uma irmã que eu nunca tive e só faz menos de um mês que nos conhecemos.
- Obrigada, amiga - falei, abraçando-a - Mas agora temos que ir.

Faltavam apenas 2 dias para o aniversário do James. Comprei algo singelo, simples, uma corrente dourada com as letras J e L, nossas iniciais. Talvez ele goste, talvez não goste. Chegando em casa, Leda estava aflita. Já passava das dez da noite quando chegamos em casa.

-Posso saber onde vocês duas estavam? Estava a ponto de chamar a polícia - falou, abraçando uma de cada vez.
- Mãe, estamos bem. Demos uma volta no shopping e comoramos coisinhas para a festa do James no sábado.
- Desculpe, Leda, por carregá-la, mas eu precisava me distrair. Não precisa preparar nada, já comemos pizza.
- Tudo bem, então. Lauren, vamos para o nosso quarto?
- Vamos sim.
- Até amanhã, minha menina - Leda falou, beijando minha cabeça.
- Até amanhã, Lyn. Qualquer coisa, me liga ou manda um torpedo que eu vou correndo - Lau me abraçou e foi embora.

Tomei um banho e troquei de roupa. Então mandei mensagem para o Jay:

"Hey, estás aí?"

"Hola, muchacha. Estoy."

"Hummm, estudando para a prova de espanhol?"

"Na verdade, só estava revisando. Afinal, devo manter minhas notas muito boas se eu quiser entrar em uma boa faculdade."

"E o que pretendes fazer na faculdade, señor Kurt?"

"Letras. Por incrível que pareça."

Não acreditei no que li naquele momento. Letras? Esse definitivamente era dos meus.

"Sério? Achei que fosse algo relacionado a Educação Física."

"Pretendo entrar em Yale. Mas não queria entrar com bolsa de estudos por causa dos esportes, mas sim por mérito próprio. Y usted, señorita Queen?"

"Ah, Direito em Boston ou Artes Plásticas em Amherst College."

"Uau. Belos cursos. Preparada para sábado?"

"Pode apostar que estou. Mais preparada que nunca."

"Vais dormir agora?"

"Acabei de chegar do shopping com a Lau. Adivinha quem eu encontrei por lá."

"Quem?"

"Jackson. Luke Jackson."

"Como é? Aquele cara não ousou tocar em vocês duas não, né?"

"Não. Em nenhum momento. Mas ameaçado ele foi. Lau me defendeu com unhas e dentes. Acho que ganhei uma irmã."

"Lauren sempre foi assim. Acho que vocês duas tem muito em comum. Por isso se dão bem, fora que moram na mesma casa."

"Vantagem grande morar na mesma casa."

"Pois é."

"E então... Jay... Vou ter que ir. Amanhã ainda é sexta. Acordar cedo e ir para escola. Eca."

"Tudo bem, Lyn. Dorme bem. Ah, e mais uma coisa: obrigada por ser quem você é. Meu coração é teu."

Queria dizer que o amava, mas eu estaria indo rápido demais.

"Meu coração também é seu. Somente seu. Boa noite, meu jogador. Até amanhã."

"Boa noite, minha princesa."

Larguei o celular, virei-me para apagar a minha luz do abajur e fechei os olhos. A melhor sensação do mundo. Ser amada. Friozinho na barriga. Ah, James Kurt, você não existe.

O Que Somos, Afinal?Onde histórias criam vida. Descubra agora