II - Menina Estranha

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Enquanto Ye terminava de se trocar, resolvi finalmente olhar o que havia naquele guardanapo que Namjoon me entregou. Estava anotado um endereço. E embaixo dizia para que eu aparecesse apartir das nove da noite.

Apertei o papel contra meu peito. Namjoon tinha olhado bem em meus olhos. E, ao analizar suas palavras, parece que ele estava sem graça em falar comigo.

- Nyaa... tão fofo...

- Ai, Mana. Já está me irritando! - Ye apareceu em pouco tempo.

Era incrível o quão era bonita. E sua roupa valorizava muito o corpo. Usava um short preto não muito curto, uma blusa rosa bebê justa e um casaco curto também preto. Ela sempre amarrava o cabelo em um rabo alto, deixando uma franjinha linda. E eu ali. De jardineira e tomara que caia laranja. Meu cabelo volumoso não dava opção além de solto.

- Então, o que diz aí? - ela perguntou, enquanto pegava a mochila.

- Um endereço apenas. Nada demais.

***

Deixei as malas no meu quarto. Era sexta-feira, dez horas da noite e a viagem tinha me matado.

- Filha, amanhã cedo quero você procurando um emprego, okay? Como não estou sempre disponível em casa, prefiro saber que está trabalhando e não na balada.

Virei-me na cama. Aff. Eu só havia trabalhado de uma coisa na vida. Garçonete. Provavelmente, meu novo emprego seria a mesma coisa.

- Se você tivesse me deixado fazer Artes Plásticas, eu não precisaria estar no outro lado do mundo com você e a vovó. - resmunguei.

No Brasil, sempre morei com minha vó. Minha mãe morreu em um acidente. Meu pai, ficou no hospital por meses. Mas não perdera a força de vontade, assim voltando à Coreia. No meu aniversário de 19 anos, meu pai me ligou avisando que em um mês iria me visitar. E meu presente seria as primeiras parcelas do meu apartamento para quando eu entrasse na faculdade. Mas ele descobriu que eu queria fazer Artes e fez um barraco enorme.

"Ai, porque minha filha tem muito potencial pra fazer outra coisa, que dê dinheiro, de preferência, blá blá blá..."

Agora eu, Kangjeon Mana, 20 anos [coreanos], e minha vózinha linda, estamos em Seoul, Coreia do Sul. Para quê? Para fazer o que eu sempre fiz, mas com a supervisão do papai.

Peguei minha bolsa e me despedi de minha vó.

- Kangjeon Mana - meu pai chamou, firme -. Aonde vai?

Parei na frente do espelho, dando uma voltinha.

- Ainda não sei.

Desci as escadas nervosa. Eu preferi não usar o elevador por medo de encontrar um desconhecido. Eu devia estar no Brasil. Com minhas amigas, meus amigos, meus gatos. Eu devia estar no tapete da sala com calça de moletom e uma blusa curta, com um pote de Nutella, assistindo animes com a vovó. Ela gosta de shoujos.

Mas não.

Eu estava sentada na calçada da frente do prédio, com um vestido preto de tecido leve. A sensação era de estar nua. Mas ainda era desconfortável. Na Coreia eu não podia usar minhas roupas desleixadas na rua. As pessoas julgavam descaradamente. Tirei meu sapatinho de salto baixo e fui andando a uma sorveteria.

Let Me Sing | kim namjoonOnde histórias criam vida. Descubra agora