Final - Transmissão

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Mateus havia chegado atrasado para variar. A professora nem reclamava mais quando ele batia na porta, com seus cabelos completamente despenteados e um Toddynho na mão.  Foi correndo para sua mesa, na minha frente e me cumprimentou com um rápido beijo no rosto.

- Desculpa... sabe como é, estudando.

- Aham, estudando.

Poucos minutos depois, com a professora na sua mesa esperando que os alunos fizessem a atividade, o menino virou para trás com seu sorriso azul metálico.

- Bom dia, lady. E aí? Vai contar aquilo ou vai fazer cu doce até o intervalo.

- No intervalo eu vou estar com as meninas. - respondi já sabendo a reação. Um sorriso de canto, insatisfeito, acompanhado de um resmungo. - Por isso vou falar agora. E até tem a ver com o Dudu.

- Não use seus apelidos de casal perto de mim. Eu me sinto como um melhor amigo gay que tem que aturar todos os seus surtos com garotos.

- Todo mundo chama ele de Dudu, não começa...

- Vou sim. Você sabe que sou super afim de você. Que estou na escola por você. Que até gosto de ver esse seu sorriso falando do Dudu, mas não por causa do grude de vocês e sim porque sua felicidade faz a minha. Você tem amigas, não tem? Aquelas que vão na tua casa comer o brigadeiro que você faz pra elas mas não faz pra mim, que passam o intervalo com você e fazem careta quando eu me aproximo.

- Nós já conversamos isso. Você é a única pessoa que eu confio de verdade e...

- Como pode namorar um cara em que você nem confia?

- Por isso eu terminei com ele.

- T-terminou? - Mateus ficou confuso e me pareceu envergonhado por tudo que falou. Soltou um sorriso, mas logo ficou sério. - O que aconteceu? Não é nada comigo, né?

- Não. Eu só achei que a relação entre a gente estava estranha, sem afeto. Ele parecia gostar de ficar comigo, mas não da minha companhia... - falei baixo. Paredes tem ouvidos. Mateus jogou o cabelo para trás com a mão e bufou. Ele tinha me avisado algo parecido. E eu ignorei. - O foda é que temos que finalizar o trabalho de química...

- E é difícil quando a dupla não tem química. - soltou rapidamente. Sorriu. - Entendeu? Química. E tals.

- Por que não podemos ter uma conversa séria?

Mateus ria escandalosamente de sua piada mal feita. A professora mandou ele ficar quieto, assustando-o. Ele me mandou um sorriso fraterno, acariciando minha perna por debaixo da mesa. Ele fazia aquilo quando tinha muita coisa na cabeça e pouca na língua. Fiquei nervosa imaginando que tipo de coisa poderia ter passado na cabeça dele.

- Eu vou te proteger, my lady.

- Não prometa o que não pode cumprir. Não vamos ficar juntos para sempre.

- É. - ele soltou baixinho. - Mas eu tenho que te proteger até a pessoa certa te encontrar.

***

Mais uma noite mal dormida. Trabalhei sem conseguir disfarçar o rosto cansado e voltei para a casa morta. Não. Morta não é a palavra certa. Quem está morto aproveita de seu descanso eterno. Eu usufruía meu cansaço e decepção eternos. Cerca de sete da noite quando cheguei em casa, comi uma fruta qualquer, tomei um longo banho e me deitei. Meu corpo pedia arrego e minha cabeça também. Pensei em meu pai e em Namjoon o dia inteiro. Cada vez que a porta da lanchonete se abria eu rezava para ser aquele garoto de cabelos esverdeados que eu tanto amo...

Let Me Sing | kim namjoonOnde histórias criam vida. Descubra agora