Prólogo

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Existem pesadelos que não podemos negar.

- Ei, psiu, garoto? Acorda. - Disse um velhote olhando para mim enquanto, ainda zonzo, eu acordava no banco de trás de seu carro.- Vamos, vamos, tem mais alguns como você para trazer!

- Onde eu estou? Eu ao menos te conheço? - Não me lembrava de nada que havia acontecido, como eu tinha ali chegado, olhava em volta, olhava para o rosto do velhote e realmente não tinha ideia do que estava acontecendo. - Para onde estamos indo?

- Ah, tudo bem... Mais um daqueles que se esquece do que aconteceu... Bem, vamos lá, esquecidinho.- Ele olhou para mim pelo retrovisor, ele usava um daqueles óculos de caminhoneiro sabe? Alguém devia avisar pra ele que essa moda já era. Ele respirou fundo e com um ar de deboche continuou falando. - Não deve se lembrar bem, mas seria estranho se lembrasse mesmo, você basicamente é mais um desses drogadinhos juvenis, teve uma overdose após utilizar o que vocês chamam de doce, LSD né? Sua família ficou apavorada depois da revelação e te mandou para passar uns tempos na Clinica Reviver, mas eu não me espantei nem um pouco, mais um garoto filho de uma madame rica que vem parar aqui, acontece toda semana, pode ter certeza. - Ele sorriu e pelo retrovisor eu conseguia perceber alguns dentes que lhe faltavam.

- Como? Bem... Eu me lembro de ter utilizado isso algumas vezes, mas era só em festas, com meus amigos, sabe, nada demais, isso é alguma brincadeira deles? - Nesse momento eu já estava gélido, soando frio, olhava para as janelas e não sabia identificar onde estava.

- Amigos? Só pode ser brincadeira! - Ele gargalhou muito e eu continuei a não entender o que estava acontecendo. - Esses seus, é, amigos, não é? Pelo que sei, quando notaram sua overdose, lhe abandonaram próximo a sua casa, sabe, como um corpo qualquer, claro, amizade é tudo.

- Não, eles não fariam isso... Qual é em tiozinho? Fala ai velhote, tem alguma câmera aqui? É alguma pegadinha deles?

- Claro que sim, na verdade, eu irei abrir a porta agora mesmo e te deixarei pensar se quer correr e encontrar seus amigos lá fora, tudo bem?

Balancei a cabeça afirmando que queria mesmo encontrar meus amigos, ele cumpriu com sua palavra, abriu a porta do carro, lá eu vi um lugar coberto em neve, muito diferente de onde eu morava, comecei a pensar, se o que aquele homem dizia era realmente verdade, mesmo que não fosse, a porta estava aberta, eu podia ir para qualquer lugar, se tem a chance de dar um único tiro, você sabe... Atire. Eu corri como se não houvesse amanhã, esperando em algum momento encontrar meus amigos novamente, eu olhava para trás e via o tal do velhote se debruçar no carro de tanto rir, de repente, uma única picada e uma voz feminina, trêmula e confusa me dizia:

- Isso não vai doer nada, foi só uma picadinha.

- Ah, isso sempre funciona e nunca perde a graça não é mesmo? - Pude ouvir o velhote do carro dizer.

Realmente, existem pesadelos que não podemos negar.

Azul da cor dos SonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora