Capítulo 3

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Morrer seria tão ruim assim?

Era a minha mãe, era ela quem estava naquela sala, esperando para me ver, cinco, seis dias depois, já não sei

— Filho, graças a Deus! – Ela disse, se aproximando de mim num gesto de abraço, seus olhos estavam cheios de lágrimas e sua pele que antes parecia tão vívida, hoje estava pálida. – Você Você Não sabe a falta que fez nesses últimos []

— Falta? Eu fiz falta? – Fugi do abraço dela e sentei-me em uma cadeira velha que ali estava, ela rangia, rangia muito, com cada pequeno movimento que eu fizesse. – Não me venha com essa história! Eu não sou uma criança, mãe. Você me deixou aqui, me deixou aqui como um velho, me deixou pra morrer mãe!

— Não diga isso, por favor, William, não diga isso

— Porque não, querida mãe? É muito difícil aguentar a verdade? Pois essa é a verdade, é o que vocês fazem de melhor, abandonam as pessoas!

— Não, Will, não – Ela me respondeu de cabeça baixa, chorando. – Você sabe que não é verdade

— Mãe, aceite. O que você sabe sobre mim?

— Sei que você quase morreu, Will, quase morreu! Eu te vi numa maca de hospital, filho, inconsciente, já parou pra pensar como eu me senti?

— Devia ter me deixado morrer.

— Não diga isso, não Will, não diga isso

— Morrer seria tão ruim assim? Seria tão pior que estar aqui?

— Will, você está aqui para uma segunda chance, você errou, está aqui para se recuperar

— Errei? Quem errou foi você, nunca teve sequer uma conversa comigo, nunca soube nada sobre drogas, sexo, porra nenhuma! E eu aprendi do jeito que pude, aprendi do jeito que deu Você não me conhece, não sabe nada sobre mim e me enfiou aqui! Cadê meu pai? Ele veio me ver?

— Não, ele não veio – Ela sentou-se e começou a chorar, encostou suas mãos no rosto e chorava.

— Aaaaah, mas é claro! O trabalho, sempre o trabalho Ele nunca me amou, ele só ama a porra do verdinho na carteira dele e o seu maldito escritório!

— Não é isso, filho

— Claro que é, para quem acha está mentindo mãe? Aquele homem não ama ninguém, ele Ele Ele não deve nem lembrar meu nome, eu []

— Ele morreu, filho

— O que? Do que você tá falando?

— Seu pai Ele não aguentou

— Não aguentou o que? O que aconteceu com meu pai?

— Ele teve um infarto

— O que? Não pode ser! - Eu apoiei meus braços sobre a mesa e deitei minha cabeça, imaginando motivos que pudessem ter causado um infarto em meu pai. — Aquele trabalho Eu sabia Eu sabia que um dia todo aquele estresse causaria algo a ele

— Não! Não foi o trabalho! Foi a decepção de filho que você é, tá? Eu não queria ser rude contigo, mas não dá Ele não aguentou toda essa dor, não aguentou te ver daquele jeito - Ela gritava, furiosa e triste ao mesmo tempo, chorava, gesticulava muito, e eu estava em total estado de choque. - Você Você só destrói tudo que toca! Acha que morrer não seria ruim? Então morre e me devolve seu pai!

— O Do que você tá falando cara? Isso não pode ter acontecido Sabe, tem razão, eu devia morrer

— Não Olha Me desculpa, filho. Eu não devia ter te dito isso, foi impulso Eu pensava que eu era forte, eu sempre pensei que se algo acontecesse eu teria força para sustentar tudo isso, mas não foi só um deslize, sabe, tudo desmoronou, como um castelo de areia que de repente caiu sobre mim.

Azul da cor dos SonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora