O turno de aulas tinha acabado, segui com Rita até o lugar que tínhamos ido mais cedo, a noite parecia ainda mais bela, as estrelas, o jeito que até o tão majestoso sol se escondia para que a lua pudesse mostrar seu encanto. Os olhos de Rita, aaaah, os olhos dela, eles refletiam o mesmo brilho que a lua trazia, não era uma comparação exagerada, talvez eles fossem ainda mais lindos, azuis da cor do mar, daqueles que você não se esquece quando vê, nem que seja rápido... Enquanto admirávamos a noite, começamos a conversar mais, eu queria muito conhecer mais sobre aquela garota, tanto quanto queria conhecer de perto aqueles belos lábios.
- É... Então, o que achou daqui? Claro, não é a melhor coisa do mundo, mas sabe, já foi pior... Tenho um amigo dessa vez, antes a única pessoa que conversava comigo era a diretora.
- Com certeza eu trocaria tudo isso pela minha casa, minha família, mas gostei de ti, torna, é... Tudo isso... Menos horripilante, acho que é isso...
- O que você fazia antes de, você sabe, usar drogas e tal?
- Eu sempre gostei muito de jogar futebol no time da escola, mas também me dedicava a passar algum tempo escrevendo, era uma forma de me ver livre do mundo real.
- Nossa, tem algo que escreveu ai? Quero ver, vamos, vamos, mostra! - Ela parecia extremamente empolgada em ler algo que eu havia escrito, mas eu era muito fechado, nunca ninguém tinha lido nada que eu havia escrito, talvez porque ninguém nunca se interessou mesmo. - Vai me mostrar não vai?
- É, posso pensar! Hahaha! Mas não tenho nada pronto aqui, prometo que escrevo algo para ti, tudo bem?
- Tá, mas olha que vou cobrar viu? - Ela sorriu, aaah, meu deus, aquele sorriso acabava comigo, eu conhecia ela há algumas horas e juro que só queria mais uns vinte anos?! Algo em volta disso...
- E você, o que fazia antes?
- Eu sempre fui muito ligada em música, eu tinha uma guitarra, não era lá a melhor guitarrista do mundo, mas costumava me divertir incomodando os vizinhos.
- Nossa! Eu gosto muito de música, na verdade, quem não gosta né? O que você ouvia?
- Ah, muita coisa, sou meio confusa com isso, mas gosto de músicas que conseguem te transmitir sensações, te levar para outro mundo, sabe... Como a droga me levava... - Ela abaixou a cabeça e parecia triste com o que tinha acabado de dizer. - Olha, me desculpa, não devia ter dito isso.
- Não, tudo bem, eu também me sentia assim... Lembro-me da primeira vez que experimentei o tal do doce, açúcar, lsd, seja lá como eles chamam isso, mas foi maravilhoso... Nosso time tinha acabado de ganhar mais um jogo, meus amigos iam sair dali e ir para uma festa, apenas avisei para minha mãe que estava indo e pra lá fui com eles... Eu nunca tinha ido numa festa assim, a música era bem alta, tinha muita bebida, gente dançando, outras jogadas pelo chão, quando George, um dos jogadores do time, me cumprimentou e colocou algo no bolso do meu casaco, ele me disse para destacar e colocar em minha língua... Era algo similar a uma cartelinha, eu destaquei e coloquei, fiquei algum tempo com aquilo e não deu efeito algum, mas uns vinte minutos depois, veio o que eles chamam de boom, tudo começou a ficar borrado, cores começaram a passar diante dos meus olhos, todo o mundo parecia ser diferente, eu cai no sofá que estava atrás de mim e fiquei pelo menos umas duas horas ali deitado tendo uma alucinação atrás da outra... Quando acordei, só lembrava que havia sido bom demais, todos já tinham ido embora e somente uma galera estava dormindo esparramada pela sala, eu só queria encontrar George e perguntar o que era aquilo, pedir mais, cada vez mais, sabe, era um sentimento muito bom...
- Tive as mesmas sensações, mas parecia ser muito mais forte com a cocaína, era muito fácil se sentir totalmente tomado por ela... Engraçado, a gente nunca imagina que vai chegar a esse ponto, de estar aqui, até chegarmos...
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Azul da cor dos Sonhos
Teen FictionWilliam, um garoto de 17 anos, após ter uma overdose, é internado na clinica de reabilitação para adolescentes, Reviver. Lá ele conhece uma garota chamada Rita, que tenta lhe fazer enxergar o mundo de outros modos, mas o medo o consome e a vontade d...