Ele sempre estará ali.
Uma luz muito forte em meus olhos, eu desperto. Vários jovens em volta de mim, eles tinham olheiras enormes, aparentavam ter 16 ou 17 anos, minha idade praticamente. Há um zumbido muito forte em meus ouvidos, eu estava assustado, que lugar era aquele? Lembro-me de olhar em volta e ver várias outras beliches iguais a que eu estava deitado, as paredes eram cinza e com diversas palavras rabiscadas em canetinha, no chão um tapete vermelho, velho e empoeirado, duas enfermeiras na porta do lugar, alguns quadros de uns senhores bigodudos que me causaram pavor só de rapidamente olhar. Realmente, tudo estava muito confuso, eu me sentei na cama, olhei para tudo em volta e novamente, corri, corri como quando aquele velhote abriu a porta do carro, mas desta vez eu estava fraco, cambaleando para um lado e para o outro, quando o escuro brotou em meus olhos e eu simplesmente caí.
- William, acorde, ei, vamos garoto! - Dizia uma senhora, muito elegante, cabelos ruivos, uma linda pele branca, olhos azuis, assim como os meus, não sabia quem ela era, mas acabei acordando e estava sentado numa poltrona, não muito confortável, olhando para ela, que não parecia muito contente com a situação. - Aaah! Ainda bem que acordou garotinho, imagino que nem ao menos saiba onde está não é?
- Não... É, na verdade, não estou entendendo nada que está acontecendo, o velho, digo, o homem que me trouxe até aqui me contou uma história, mas não parecia muito lógica... Desculpe, qual seu nome mesmo?
- Me chamo Margot, sou a diretora da Clinica Reviver... Seu nome é William, certo? - Balancei a cabeça afirmando que sim. - Olha, não sei o que o Anthony lhe contou, ele costuma brincar muito com meus pacientes e algumas coisas são, digamos que... Sensacionalistas... - A senhora Margot sorriu com o canto da boca.
- É um alívio, porque ele me contou uma história de que minha família tinha me internado por conta de drogas e que me encontraram [...] - Antes que eu terminasse de falar, ela me interrompeu.
- Parece que o Anthon disse a verdade dessa vez, sim, você foi mandado pela senhora Marta, sua mãe, correto? Para que pudesse ser tratado devidamente em nossa clinica.
- Mas o que? Onde ela está? Quando eu volto pra casa? Isso deve ser algum engano! Chama ela, vamos, chame-a! - Levantei-me apavorado, não sabia pra que lado ir.
- Sente-se garoto, se acalme, não vai sair daqui enquanto não estiver devidamente tratado de seu vício.
- Argh, não, não posso ficar aqui, quero minha casa, meus amigos. - Respirei fundo e sentei de volta naquela poltrona velha e nada confortável.
- Por enquanto, essa será sua casa e os garotos e garotas que viu no dormitório, serão seus amigos, tudo bem? Combinemos assim, você não apronta por aqui e poderá ter uma vida pacata, agora se o medo te atacar e você aprontar sofrerá a devida consequência de seus atos, o medo só traz dor e angústia.
Abaixei minha cabeça, respirei fundo mais algumas vezes e comecei a pensar em um jeito de me acostumar com essa ideia, mas era difícil, eu não tinha mais os amigos, eu não tinha mais as festas, muito menos meu amor que me transportava para vários mundos diferentes, meu querido docinho.
- Venha, vou te apresentar a alguns lugares básicos e a uma pessoa muito legal que poderá ser sua amiga, tá? - Margot parecia animada, ela realmente acreditava na recuperação de todos aqueles idiotas, mas eu não era igual eles.
Saímos da sala da diretora e fomos caminhando pelos corredores, as paredes eram cobertas por um papel de parede vermelho com diversos losangos, o chão tinha um carpete beje sobre um piso de madeira que rangia a cada passo que dava, havia diversos quadros no corredor, praticamente todos eles vandalizados com giz de cera, com piadas infames ou senhoras de bigode, alguns com órgãos sexuais, eu tentava segurar o riso enquanto ela me apresentava tudo como se aquilo fosse normal. Ela me mostrou onde ficavam os banheiros, os acessos as salas de aula, o pátio de alimentação e seguimos até os dormitórios, onde ela me apresentou Rita, uma linda garota de cabelos pretos, olhos maravilhosos, tão azuis quanto os meus, pareciam refletir a luz do céu, em sua boca um lindo batom preto, que me remetiam as mais belas e obscuras histórias de Edgar Allan Poe.
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Azul da cor dos Sonhos
Teen FictionWilliam, um garoto de 17 anos, após ter uma overdose, é internado na clinica de reabilitação para adolescentes, Reviver. Lá ele conhece uma garota chamada Rita, que tenta lhe fazer enxergar o mundo de outros modos, mas o medo o consome e a vontade d...