Capítulo 2

10 2 0
                                    

Aprendi o duro ofício da caça, estudei as criaturas com afinco, entendendo sua anatomia e consequentemente a origem de suas forças e o mais importante, aprendendo a detectar suas fraquezas, este é o trabalho do caçador, saber onde e o momento certo de atacar qualquer besta. Nas presas abatidas por meu mentor eu observava o local onde o golpe fatal as atingira, ele não errava nem desperdiçava golpes, era um especialista como eu talvez nunca venha a ser, mas existia um motivo para a excessiva habilidade que eu só descobriria depois, então, em momento oportuno compartilharei também esta história.

Assimilava rapidamente as lições enquanto trabalhava meu corpo, o caçador é diferente dos guerreiros, não se pode treinar vários caçadores ao mesmo tempo, não é possível sistematizar os inúmeros tipos de ataques de animais e monstros, a extensa variedade de situações exige que o treinamento seja em sua grande parte prático e aqueles aos quais enfrentamos não usarão garras ou presas de madeira, jamais demonstrarão misericórdia. Coelhos, cervos e porcos selvagens (também os temos) qualquer aldeão pode caçar, o caçador ultrapassa esses níveis e desde o primeiro teste prático arrisca sua vida, por este motivo poucos se aventuravam, encontrar coragem para se opor a um homem, talvez até mais, era fácil, mas para enfrentar montanhas de músculos com oito patas e presas venenosas, seres cuspidores de fogo ou ácido ou aberrações quase invisíveis era preciso desespero e loucura, coisas que eu não tinha, ou ingenuidade e orgulho, os meus pontos fracos.

Ao fim de cada dia, já exausto e com o segundo sol desaparecendo no horizonte, eu saía para buscar lenha naquele que seria o momento de repouso para aprendizes e mestres, isto por ser preciso me preparar para longas jornadas onde nem sempre encontraria as melhores condições para aquela atividade, a maioria das criaturas não dormem e acordam com os homens.

Foram desesseis anos de treinamento, nos quais adquiri profundos conhecimentos sobre animais, insetos, seres mágicos, seres malditos, semi-vegetais e todos os pequenos dracôneos ainda encontrados, pode parecer muito mas vos lembro que meu corpo envelheceu o equivalente a seis anos de seu mundo.

Oafson* parecia o mesmo, até para nossos padrões era espantosa sua resistência aos rigores do tempo, e seguiu caminho rumo a uma jornada secreta transferindo para mim o posto de Caçador do Reino de Walkoren, não houve cerimônia, apenas um comunicado ao Rei e o pedido de confecção das minhas vestimentas, cotas de malha, armaduras e novas armas: espadas, facas, lanças, setas e machados de variados tamanhos, gumes e tipos de metais.

Não vou mentir, àquela altura me sentia especial, era orgulhoso e imprudente, queria ser posto à prova e conquistar grande reputação no reino. Aguardava com ansiedade um pedido de grande caça ou o surgimento de um monstro que assolasse o reino para que eu tivesse a chance de mostrar minhas capacidades, mas os pedidos eram os rotineiros e  a tranquilidade aparentemente reinava.

Em terras distantes, alheio às minhas aspirações de fama, Rosand trabalhava em um maligno plano e entre seus ajudantes estava Paullyn, uma ourives de bom coração mas que nutria secretamente uma paixão pelo vilão e atuava em segredo a favor do mesmo. Juntos trabalharam a gema negra e com partes dela fizeram amuletos capazes de carregar magias que afetavam ou conferiam poderes ao portador.

Sem que eu sequer ousasse imaginar, minha aventura tinha início no local que ficou conhecido como Reino dos Mortos

* Antes de adotar Oafson como pseudônimo já havia batizado o mentor de Yscot com este anagrama quando tentei criar um jogo chamado O Guerreiro de Walkoren, então resolvi mantê-lo nesta obra.

O Guerreiro de Walkoren - O Reino da MorteOnde histórias criam vida. Descubra agora