4 - Eclipse do meu coração

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Tomava meu banho para depois vestir meu traje de gala que me esperava lavado a seco e passado encima de minha cama. Meu quarto era uma suíte, o melhor e maior quarto da casa, na televisão passava algum clipe do nirvana na MTV, o céu escurecia e o telefone já tocou umas dez vezes desde que entrei no chuveiro, provavelmente eram os urubus querendo saber quando ia aparecer no baile, mas minha entrada seria triunfal, um segredo entre eu e Miranda.

Sequei-me e olhei no relógio o quão atrasado estava, não liguei, pois ela atrasava-se o tanto quanto. O nosso encontro seria aqui em casa, meu pai nos levaria com a limusine alugada, abriria a porta e eu sairia primeiro, logo depois, Miranda, com ajuda de minha mão. Subiríamos os degraus da escola como rei e rainha e então todos ficariam boquiabertos e ligeiramente invejados por sermos o casal da escola. Fetiches da escola.

Era uma camisa preta social por baixo da calça segurada por um cinto de fivela incrivelmente bonita, juntamente com um sobretudo fechado arroxeado com botões cheios de detalhes e um sapato mocassim da Gucci. A máscara uma replica usada pelo fantasma da opera, queria eu usar igual a de Alex em laranja mecânica, mas meus pais proibiram-me. Penteei meus cabelos para trás, meu rosto era livre de espinhas ou qualquer outra marca.

A campainha tocou e meu pai devidamente arrumado de motorista atendeu. Do topo da escada pude ver Miranda sendo revelada pela porta aberta. Usava um vestido branco bufado embaixo, cheio de detalhes, parecia até ser feito à mão e com seus cabelos loiros soltos para trás, mantendo a postura digna de rainha, deixando seus seios fartos valorizar por conta do decote, uma das mãos estava ocupada pela máscara que usaria, máscara esta de nariz pontudo e cheia de glitter prateado. Perfeita.

- Estão prontos? – Papai perguntou quando eu descia as escadas apreciando cada detalhe de minha amada.

- Sim, estamos. – Decretei abrindo a porta para que todos saíssem, mas antes de sair mamãe me parou e perguntou se poderia tirar uma foto minha, cedi. Na foto apareci de língua para fora, ela me deu um soquinho e me acompanhou até a limusine, onde Miranda me esperava com um sorriso encantador.

Fechei a divisória entre o motorista e os passageiros e dei uns amassos nela, o que eu poderia fazer? Estava linda e a puberdade não ajudou muito. Puberdade é sempre uma desculpa ótima usada por nós adolescentes. Maravilhosa. Uma pena Miranda não ter deixado toca-la nos seios. Ela parecia um tanto quando nervosa e sem dizer os motivos saiu do carro, não como o planejado, no qual eu pegaria em sua mão. Saiu primeiro e subiu os degraus quase que correndo. Fui mais rápido e a peguei pelo pulso.

- O que houve? – A olhava com expressão fingida de preocupado, como se a pior das coisas tivesse acontecido.

- Eu te amo. – Seguidas essas palavras por um beijo caloroso e afetivo, carinhoso acima de tudo.

Acho que aquilo acalmou minha curiosidade, maldita curiosidade. Meu único defeito. Entramos no salão como o planejado, ela segurava-me pelo braço e caminhávamos até o final do local repleto de mortos-vivos. Havia uns holofotes que nos seguiu o caminho inteiro, gostei daquilo, Miranda nem tanto. Todos nos olhavam, como o planejado, mas não eram os olhares com o qual sonhei. Olhares zombeteiros e sem piedade alguma. Invejosos com certeza, mas nunca igual o do planejado. Oh, malditos. Oh, maldito eu sonhador. Miranda parecia bastante ciente dos acontecimentos, alguma coisa estava errada e Deus sabia que querendo ou não eu iria descobrir. Queria eu não ter dito estas palavras mentalmente. Pobre de mim! Desprovido de clarividência, desprovido de amor real perante aqueles que me olhavam naquele momento horrendo e vergonhoso. Então a nona sinfonia de Beethoven começou a tocar e o salão que até aquele momento nos encarava com vigor passou a praticar os passos ensaiados. O salão que até então estava escuro parecia ter esperado exclusivamente nossa entrada para que as luzes amareladas fossem acessas e a sinfonia ligada. Juro que não paguei a ninguém para fazer isto. Pura coincidência. Coincidência de uma noite perfeita e sem fim.

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