5 - Não fale

1K 204 114
                                    


Não demorou muito para que os rebeldes dessem as caras no jardim, ali era um local livre de monitores.

- Me passa essa garrafa – Falei em tom autoritário e aquele que segurava não pensou duas vezes ao estender suas mãos tremulas até as minhas.

Com uma garrafa de Johnnie Walker em mãos retirei-me e fui em direção ao salão da festa, para minha felicidade a entrada foi melhor do que a anterior. Com as luzes amareladas iluminando todos de cara pálida e me vendo segurando a garrafa com toda ousadia e fúria no peito. Sortudo sou por nenhum dos monitores terem prestado atenção, afinal eram apenas três deles, já que o resto não pareceu muito animado para cuidar de adolescentes em um baile entediante.

Pedi para que minha ex-amada levantasse do banco que ainda continuava a sentar. Sua preguiça me dava arrepios de raiva. Nem para a puta ficar levantada e dançando as musicas que o merda do DJ tocava... Frágil em todos os aspectos. Já não estava mais tão bela quanto antes e dela vinha um cheiro de perfume masculino barato, substituiu meu importado por um qualquer. Pensei em estrangula-la bem ali na frente dos pálidos urubus. Seria um ótimo final para um baile melodramático.

- Oh querida, levante-se para dançar um pouco comigo, ou terei que pega-la pelo colo!

- Não estou muito bem para tal dança, meu amado... – Cobriu o rosto com a máscara ao falar a certa frase, claramente envergonhada de seus atos infiéis. Mas nunca arrependida já que pelo cheiro que vinha de si podia-se perceber que o culpado, aquele no qual partiu meu coração estava livre e talvez dançando pelo baile com uma mascara qualquer.

Muita coisa acontecia na minha cabeça, tudo girava e girava igual um carrossel sem fim. Junte a bebida, a traição e o fato de um ser sem rosto dar conselhos piedosos. A garrafa ainda continuava em minha mão e virei-o bico dela entre meus lábios carnudos. A imunda mandava-me parar, dizendo que todos estavam a ver e que a qualquer momento um dos monitores iria me dar uma suspensão ou merda do tipo. Naquela altura eu juro que não ligava, nunca liguei mesmo. Minha reputação com os professores era inabalável, todos me adoravam (com exceção do de filosofia), se um deles visse aquilo provavelmente pediria para juntar-se a mim e beberíamos John walker a madrugada inteira, comtemplando a lua até que ela fosse embora e desse lugar ao odiado sol. Obviamente pensamentos de um garoto louco. Louco de raiva por ter sido traído.

Trair é algo forte, a pessoa que trai tem muita coragem e ousadia. Não tem coração, muito menos sentimentos complexos. Eu não faria nada em relação a traição de Miranda Tovesk. Ficaria por assim e ponto final. E o que conheço dela, sei que nunca admitirá nada. Ficara por isso mesmo e ponto final. Miranda quis assim e não há nada que eu possa fazer a não ser desistir de minha amada, ex-amada. Amada. Confuso. Enquanto estes pensamentos fluíam a bebida descia garganta abaixo, até que chegou ao infeliz fim.

Pois já não me necessitava mais de bebida, estava tonto e caindo pelos cantos. Quando parei para pensar no meu comportamento de bêbado fiquei corado de vergonha e me retirei do salão antes que algo de pior pudesse acontecer. Senti uma mão fria pegar meu braço e quando virei-me deparai-me com Jungkook, um colega de classe. Retirou sua máscara e a jogou longe. Sem duvidas o mais bonito da sala de aula, se não fosse por mim. Seus cabelos eram lisos e finos, além de pretos, sua pele era extremamente pálida e assim como eu, quando sorria aparecia-lhe as covinhas na bochecha levemente corada. Alto e com postura, olhos caídos, mas com certa empolgação neles.

- Tudo bem? – Foi o que o cavalheiro perguntou-me. Soltando meu braço, apesar de ter gostado da maneira de como ele me abordou.

- Ahn... Sim, sim, tudo bem.

E então o pior aconteceu. Tentei sair de perto para ir atrás de um ponto de táxi descendo a escadaria, mas tropecei e cai e Jungkook foi correndo me socorrer. De algum jeito consegui torcer o tornozelo e ele teve que me pegar no colo, era muito forte para ter conseguido me pegar. Mas o fato era: seu perfume. O perfume barato e repugnante que lhe impregnava o pescoço.

- SOLTE-ME! – Gritei e me pôs cuidadosamente no chão.

- Algum problema? Eu estava tentando ajudar...

- Ajudar? Escute aqui seu bostinha imundo, eu sei muito bem o que fizestes com minha amada Miranda e caso isto se repita terei que arrancar seu bilauzinho fora – Minhas orelhas ardiam igual fogo – Entendido?

- Bilauzinho? – Soltou uma gargalhada

- Sai da minha frente, não tenho tempo para essa merda – Ficou onde estava – Saia! Antes que...

- Antes que o que? – Agachou-se e ficou mais próximo de mim que continuava no chão frio. Estendeu a mão a mim e aceitei porque não iria conseguir sozinho. – Vou até o ponto de táxi contigo e sem reclamações!

Talvez tenha sido a primeira pessoa em toda minha vida que havia de conseguir me deixar intimidado

- Por que fez isso comigo?

- Miranda é gostosa. – Esta resposta foi estranhamente sensata.

- Você vai parar? – Espantei-me comigo mesmo fazendo tal pergunta, eu apenas mando, não faço pedidos.

- Vou. Hoje no armário de limpeza foi a ultima vez, ultima porque ela quer ser fiel a ti.

Chegamos ao ponto de táxi e havia um pronto para me levar.

- Quer ir para casa comigo? – Atitudes seriam necessárias.

- E porque eu faria isso? – Ficou parado do lado de fora do táxi e pôs a cabeça dentro dele.

- Hum... Podemos beber e fumar um pouco, conversar sobre isso tudo.

- Err... Tá bom, aqui já estava entediante de qualquer jeito – E entrou batendo a porta devagar e tendo que abrir e fechá-la de novo umas duas vezes.

Fui para o lado e apoiei minha cabeça na janela, deixando um espaço vazio entre nós.

Pecados Modernos | TAEKOOKOnde histórias criam vida. Descubra agora