Notei movimentos repentinos na cama após um tempo já adormecido. Virei-me de bruços para o lado e continuei a dormir. A chuva não caia mais do lado de fora.
Acordei minutos antes do sol nascer, com empurrões reconhecíveis de Jungkook.
- Acorde, Tae! – Sacudia-me tanto que cedi e voltei a olhá-lo.
- Hum? – Falei sonolento.
- Miranda! Achei ela.
Arregalei os olhos no mesmo instante. Seria um sonho ou algum delírio do tipo visto do terraço? Certamente eu esperava que sim. O sol forte apareceu amarelando o quarto e os passarinhos cantarolavam.
- Que? Onde? – Certamente não eram essas palavras que queria eu tivesse falado, mas pressenti ter de dizer algo.
- No túnel... por favor desça, ela está lá embaixo esperando. – Ele parecia radiante e de certa forma apavorado ao mesmo tempo.
Vesti minhas roupas e adentrei a sala. Miranda estava ali, sentada, olhos arregalados iguais os meus, os cabelos loiros desgrenhados, descalça e com alguns arranhões avermelhados na pele branca delicada. Ela mexia nas unhas, algumas compridas e outras quebradas, sujas. Parecia não respirar, depois soltou um grande suspiro.
- Taehyung...
- Miranda... – Jungkook ficou entre nós, olhando aquela cena sem reação.
- Está tudo bem com você – Obviamente não, então reformulei minha pergunta – Digo, fisicamente...
- Sim. – Falou passando a mão em um dos arranhões do braço.
- Jungkook me explica.
- Bom, eu fiquei muito atordoado com uma coisa que vi no bosque, no final do túnel... um velho casebre abandonado escondido entre as moitas, sabia que tinha algo de errado – Ele ficou com dificuldade de continuar a fala – Sabe Tae... algo de errado ali... eu senti... – Isso baixo demais – Não ia conseguir dormir até ver o que tinha lá.
Miranda levantou-se e abraçou com força Jungkook, que corou e abriu um sorriso meigo.
- Obrigado. – Miranda disse radiante com o sol iluminando os dois.
- Vou chamar a polícia.
Ninguém protestou, apenas ficaram abraçados e eu fui ao telefone.
Depois de alguns minutos uma viatura chegou ao local, o policial perguntou se Miranda queria acompanha-lo até a delegacia, ela assentiu, Jungkook também foi junto para prestar depoimento. Ela entrou no carro tremendo em choque. Meus pais e avós conversaram com o policial, agradeceram e entraram, mamãe e papai pediram para eu arrumar minhas coisas que dali uma hora iríamos voltar para casa e foram em direção a cozinha para tomar o café da manhã.
Entrei inconformado com o que acabara de acontecer. O temível aconteceu. Pude sentir meu estomago revirar-se com desgosto e um refluxo de vomito veio até minha garganta, não se atreveu a passa dali e voltou. Jungkook roubou meu mérito. Tornou-se o herói da história no último ato. Cai de bunda no chão do hall de entrada, em pânico. Desacreditado que ele havia sido o protagonista dessa grande merda e eu apenas um coadjuvante infeliz com medo do seu pior.
Com os olhos cheios de lágrimas olhei para a escrivaninha distante da biblioteca, ouvi passos vindos da cozinha e temendo encontrar algum familiar, me fechei dentro da biblioteca. Pairado encima da escrivaninha tinha um bilhete segurado por uma das canetas de meu avô. Era de Namjoon, provavelmente um bilhete de despedida e a primeira lágrima caiu depois disso.
"Tae, agradeço por ter me convidado e agradeço também por ter tornando-se um amigo. Volto qualquer dia desses, aguente firme.
N"
Uma semana passou-se, Jungkook e eu nos encontrávamos todos os dias depois da aula para rapidinhas nos fundos do ginásio.
- Miranda parece ter superado aquela merda toda, hein? – Falei dando um beijo na sua bochecha pálida.
- É, já voltou até a estudar... achei que iria precisar de um tempo para superar... caralho ela ficou três dias com um cara horrível... – Jungkook olhava o nada apreensivo.
- Cara? – Lhe dei um olhar de surpresa.
- Sim, a polícia não achou ele... parece ter abandonado ela naquele casebre no meio do bosque, ela estava umas cinco horas petrificada esperando ele voltar, mesmo tendo a oportunidade de fugir... a coitadinha apenas ficou lá esperando, cheia de medo – Parecia ter uma enorme compaixão na sua voz.
- Nossa... realmente deve ter sido difícil. Mas você viu Namjoon ir embora?
- Não, provavelmente estava no túnel quando ele saiu.
- Ah, preciso ir... - Dei um selinho demorado nele, peguei minha mochila e acenei com a mão em sinal de despedida.
No dia seguinte do ocorrido na casa dos meus avos eu estava determinado a nunca mais olhar na cara de J, certamente eu faria isso, porém ele cativava-me de um modo insano e cruel. Cheguei na escola de cara fechada na segunda-feira, ele chegou me abraçando por trás e beijando meu pescoço. Então deixei os meus próprios orgulhos de lado e entreguei-me inteiramente e só para ele. Coisa que nunca faria.
Agora todos sabiam que éramos um casal, inclusive Miranda. Sabia ela que havíamos terminado na noite de seu desaparecimento e apoiava a nossa união apesar de devotada a sua religião restrita que julga casais homossexuais. Trocávamos algumas palavras quando encontrávamos nos corredores da escola. Parecia mais séria e sem vida, ficou afastada da maioria de suas amigas e os urubus a cercavam para enche-la de perguntas fúteis e cruéis ao meu ver. Na verdade parecia não ligar mais para sua religião e nem para nada mais que costumava ligar. Mudou suas virtudes do início ao fim e isso ficou claramente evidente durante essa semana. Inclusive suas roupas ficaram mais vulgares e escuras. Pintou as pontas do cabelo de um roxo vívido muito bonito e isso chamou mais atenção dos urubus famintos por fofocas e curiosidades do sequestro. Ela ia e vinha da escola a pé, coisa que só acontecia quando a mesma brigava com seus pais. Comecei a ter muita preocupação por ela e isso me castigava o dia todo, queria certificar-me que estaria bem para compensar a falta de saudade durante seu sumiço.
Jungkook parecia sentir o mesmo que eu, sempre arrumava uma desculpa para ficar perto dela. As vezes via de longe ele conseguir arrancar um sorriso ou riso dela, isso me deixava feliz, mas ao mesmo tempo uma pontada de ciúmes adentrava meu coração poluído. Afinal, os dois já transaram e tudo mais nas minhas costas... não me culpo por esse ciúme que é digno de existir.
O ano letivo estava na sua reta final, todos os alunos pareciam apavorados com as provas finais, eu certamente não. Conseguia fazer tudo sem pensar muito, única matéria que me fez apertar os dentes foi a irritante filosofia. Por outro lado, ao receber minha nota me surpreendi ao ganhar um nove. Não tão surpreso assim na verdade. O professor parecia sofrido ao me ver segurando a prova, provavelmente queria ter me dado uma nota menor. Jungkook tirou notas razoáveis e em um dos encontros no corredor Miranda disse ter ido bem.
Namjoon vinha me visitar pelo menos duas vezes por mês, ficava hospedado em minha casa durante o final de semana. Fumávamos e conversávamos noite a dentro e nas noites estreladas tentávamos contar as estrelas sem sucesso (contávamos uma única estrela duas vezes sem querer). Jungkook raramente participava desses momentos, mas quando participava ficava chapado demais e caia no sono. Namjoon me contou em uma dessas noites que conseguiu um emprego digno e jogou sua arma em uma vala. Isso fez-me ficar mais aliviado. Gostava muito da presença dele ali, contava os dias para encontra-lo, parecia meu psicólogo particular, no qual eu podia contar tudo e ele contar tudo para mim. J tinha ciúmes dessa nossa intimidade, porém Jungkook sabia tanto quanto eu que não suportava a ideia de ter que ficar ouvindo os problemas alheios.
O baile de formatura já era anunciado, o tema era fundo do mar. Achei estúpido. Jungkook ficou feliz e deu uns pulinhos de alegria ao imaginar sua vestimenta. Namjoon irá conosco ao baile e isso já era um grande motivo para ser bem melhor que o baile anterior.
- Vou vir de Ariel! – Jungkook disse e seus olhinhos fechavam em um sorriso.
Ri e lhe dei um empurrãozinho.
- Tô falando sério – E fomos rindo de mãos dadas até a sala de aula após o fim do intervalo.
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Pecados Modernos | TAEKOOK
Fiksi PenggemarTaehyung é um garoto egocêntrico e narcista nos anos 90, até conhecer Jungkook, amante de sua namorada. Agora ele viverá uma aventura sexual, enquanto tenta entender acontecimentos estranhos no bosque da cidade. HOT HOT HOT HOT HOT! • Comente, adic...