14 - Irônico

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Os relâmpagos iluminavam o terraço, a expressão de terror percorria as minhas entranhas e o sangue parecia ter congelado em minhas veias. Contudo, ao ser tocado nos ombros pelas mãos de Namjoon, sai do estado de choque e me pus a sentir o alívio ao enfim perceber que Miranda estava longe de estar ao lado de Jungkook aquele momento, apenas ele parado relutando contra a grossa chuva que escorria em seus cabelos escuros se via lá embaixo.

- Venham logo! – Protestou e com um movimento rápido voltou para dentro de casa.

Descemos as escadas íngremes com a respiração ofegante e encontramos com ele sentado na sala de estar, enxugando-se com uma toalha branca. A luz amarelada do ambiente constrastava com o esplêndido show de raios que caia do lado de fora das vidraças.

- O que houve? – Namjoon perguntou aproximando-se da lareira ainda acessa para esquentar-se.

- Eu vi um homem muito estranho... estou realmente preocupado – Falou aproximando-se de mim.

- Você não pode estra falando sério! – Falei indignado.

Jungkook ficou apreensivo passando as palmas suadas da mão na coxa de sua calça jeans.

- Chamou a gente para isso? Deve ter sido algum dos funcionários... – Continuei, dessa vez sem a grosseria que deixei estampada anteriormente.

- Não sei não, era realmente assustador – Um silencio tomou conta do cômodo, o único barulho era das chamas consumindo a lenha dentro dela.

- Já é tarde, deveríamos estar dormindo, igual meus pais a essa altura... afinal, você viu meu pai passar por aqui?

- Sim, um tempo atrás disse que iria se deitar.

Sentei-me ao lado de Jungkook com uma expressão de compaixão, naquela noite pretendia passar das preliminares do chuveiro, ir mais além com ele e para isso não poderia eu dar um de grosso estúpido que normalmente sou. Cheguei mais próximo a ele e o envolvi em meus braços, contemplando a sombra de Namjoon recoberto pelo grande amarelado projetado pela lareira. Saiu de perto dela e foi caminhando com passos lentos até a velha vitrola de vovô, ficou olhando-a provavelmente para saber como liga-la. Abri a boca para impedi-lo, pois já era tarde da noite. Olhei para o relógio cuco da parede que marcava meia noite e certamente minha família estava no sono profundo, mudei de ideia e deixo-o fazer o serviço. Encaixou a agulha no disco e apertou um botão verde e logo uma música, estilo ópera, tomou conta da sala. Namjoon tirou mais um cigarro do bolso, todo amassado e agora não achava o seu isqueiro, bateu por todo corpo a sua procura, até que enfim achou quando olhou pela segunda vez no seu bolso da calça.

Jungkook agora encolhia-se em mim, corei um pouco, mas depois deixei-me levar pelo calor de seu corpo. A fumaça que saia da boca de Namjoon dançava pela sala assim como ele, passava por minhas narinas e deixavam-me aguçado para dar uma tragada.

- Espero de fato que Miranda esteja bem... fico parado aqui sem saber do paradeiro dela e isso me deixa nos nervos – Jungkook começou a falar no intervalo de uma música para outra, Namjoon parecia não ter lhe ouvido, continuava rodopiando de olhos fechados no meio da sala.

- Você não poderia fazer nada de qualquer jeito, isso é trabalho da polícia... sei como se sente... Miranda e eu brigamos minutos antes do desparecimento – Jungkook afastou-se de meus braços e fitou um olhar de indignação em mim. – Entretanto, me culpo por não sentir tanta preocupação quanto deveria, achava eu que iria me corroer por isso a cada minuto, mas simplesmente não consigo...

Namjoon parou de dançar, jogou o cigarro na lareira e começou a ficar interessado no assunto.

- Como assim? Achei que fossem namorados, ou sei lá – Acariciou as costas de minha mão - ... amigos...

- Somos. – Encarei os quadros da parede desesperado em busca de argumentos para aquela conversação. – Ah, sei lá, eu apenas não fico me corroendo. – Eles não pareciam muito satisfeitos com minha resposta, esperaram então para algo a mais, usar os mesmos argumentos que usei com Namjoon não pareceu satisfaze-lo. – Sabe, acho que não amo mais ela como antes, as coisas mudaram desde o baile, desde que descobri a traição.

- Que?! – Namjoon pareceu entusiasmado para descobrir sobre esta história.

- Não sabe? – Olhei para Jungkook depois para ele. – Jungkook e Miranda transavam as escondidas de mim enquanto eu e ela ainda namorávamos, um romance de mentira... basicamente – Engoli em seco, falar aquela frase foi difícil, pela primeira vez parecia eu ter aceitado que aquilo me aconteceu. Como diria os clichês: a ficha caiu. E parecia ter sido bem encima de minha cabeça.

- Uau, nunca imaginei... – Essa foi a reação de Namjoon e abaixou os olhos com certo constrangimento da situação.

Jungkook me fitava boquiaberto, de certa forma não esperava aquilo.

O fogo da lareira estava em seus momentos finais, voltei a envolver ele e desta vez segurei sua mão macia e trêmula por conta da chuva fria que pegara anteriormente, ainda pretendia passar das preliminares a qualquer custo ainda naquela noite chuvosa. Jungkook despertava-me uma estranha sensação, até então nunca sentida nos meus organismos e consequentemente em minha mente privada em entregar-se totalmente ao desejo alheio. Era isso. Queria satisfaze-lo acima de mim mesmo. Dar o melhor. Ser o melhor para ele. Exclusivamente para Jungkook e sabia que conseguiria querendo ou não. Ouvir seus gemidos de prazer seria minha vitória, minha ascensão longe da queda. Seria experimentar o sabor de uma conquista realizada com sucesso e de sobra receber novamente o triunfo perdido por dias desgraçados pelos alheios. Os quadros pareciam dançar ao meu favor, cantando e passando de uma moldura para outra, os livros com as histórias de amor mais bonitas saltavam das estantes e voavam pelo aposento, os raios que caiam do lado de fora pareciam fazer parte da orquestra e o lustre cheio de pedrinhas brilhantes pendurado sob o teto acendia e apagava simultaneamente simulando uma festa a favor de minha junção com Jungkook. Todos os objetos ao nosso favor, as pessoas também aceitariam nós como casal? Certamente não nos importaríamos, no baile do final do ano iríamos vingar o desastre que ocorreu neste último, dançaríamos uma valsa perfeita, beberíamos e transaríamos muito após a festa. Iriam coroar os dois primeiros reis do baile, querendo ou não. Saboreariam o prazer de um fetiche de ver dois humanos do mesmo sexo beijarem-se com gosto a cada hora no meio do salão e nenhum professor chato igual ao de filosofia nos atrapalharia. Tudo pareceu voltar ao estado inicial de normalidade chata e depois de os quadros voltarem a ser sérios e sem vida, o lustre voltar a ficar inteiramente acesso e os livros continuarem presos nas estantes, Jungkook me deu um beijo súbito, puxando meu lábio inferior junto a ele, pressionando suas mãos, desta vez firmes, em meu peito.

- Hora de dormir – Anunciou ele, com malícia na voz.

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