Capítulo 5

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Admito que ainda não sabia direito o quê pensar, por quê todas as minhas opções não me pareciam nada viáveis quando colocadas em questão.

Meus pais eram racistas? Os meus pais? Aqueles que sempre me ensinaram a nunca discriminar nenhuma raça, crença, religião ou opção sexual de uma pessoa ou um grupo?

Era inaceitável.

Eu não sabia dizer o quê era pior; o fato de eles estarem discriminando Henrique pela sua cor, ou a atitude para com ele naquele momento.

- O quê vocês estão dizendo?! - gritei, agitada.

- Você sabe muito bem - meu pai retornou a fala novamente. - Sempre soube.

- Que vocês são racistas e sempre foram o tempo todo? Me desculpa, mas eu não sabia não!

Não era o momento certo para usar sarcasmo, não mesmo. Mas diante do quê eu estava ouvindo, não poderia usar tom diferente perto de duas pessoas com estado consideravelmente novo e mente tão velha.

Olhei para Henrique, ele estava estático. Não estava acreditando no que estava ouvindo, com uma feição completamente incrédula. Devia estar se sentindo tão mal quanto eu. Com certeza estava.

- Você precisa sair da minha casa - minha mãe se direcionou a Henrique, na postura mais educada que conseguiu fazer. - Agora.

- E porque? - Henrique se pronunciou, pela primeira vez naquela discussão. - Porque eu sou negro? - ele cruzou os braços, permanecendo calmo. - Porque eu tenho uma cor diferente da sua? Mas nós temos a mesma alma, os mesmo órgãos funcionando, creio eu, e o mesmo cérebro. Apenas com a diferença, permita-me dizer, que o seu cérebro é um tanto mais atrasado que o meu.

Coloquei meus braços em volta do meu corpo, com uma vontade imensa de chorar, por quê eu sabia que não importasse o quanto ele fosse se defender, aquilo não adiantaria de nada.

- Eu não me importo - minha mãe o respondeu, rindo pelo nariz em ato de deboche. - Nada do quê você diga vai mudar minha opinião sobre você e sua trupe.

- É uma pena - Henrique pegou na minha mão, enquanto eu impedia uma lágrima de cair sobre meu rosto com a outra mão livre. - Deus me ensinou, que devemos amar ao próximo como à nós mesmos. Fico triste que a senhora ainda não consiga se amar o sufiente.

De mãos dadas, demos passos lentos em direção a porta, com a sensação de quê aquela discussão sobre raças e etnias havia acabado. Até meu pai agarrar meu braço, com uma força exagerada, me fazendo grunhir.

- Você não vai com ele.

Me desvencilhei da sua mão sobre mim. Permaneci em silêncio, o encarando, esperando pra ver até quando ele achava que ia com aquilo.

- Você não vai sair por essa porta com esse rapaz, Camila.

- Eu vou sim, pai - limpei mais uma lágrima que insistia em cair. - Me desculpe não agradar o senhor, mas eu vou. Eu o amo.

Meu pai riu, debochado.

Minha mãe cruzou os braços, brava. Mas devia estar feliz por poder assistir tudo de camarote.

- Eu nunca mais quero te ver com esse homem negro dentro da minha casa, nunca - cuspiu as palavras. - Estou te expulsando da minha casa.

- O quê?! - gritei, largando a mão de Henrique por puro impulso.

Henrique me segurou, por quê ouvir aquilo quase me fez cair.

Era ridículo. Era ridículo até onde o preconceito podia ir por puro orgulho.

- Você entendeu - ele encarou o chão, sem coragem para me olhar nos olhos. Eu sabia que lá no fundo, bem no fundo, ele tinha plena noção do quê estava fazendo.

- Eu posso até sair, mas eu vou voltar. E quando eu voltar, o senhor vai conhecer os seus netos.

- Ah, cala a boca!

- E eles serão assim, negros. Ou pardos. Eu não sei... Mas sei que vão ser a mistura mais linda que o senhor já viu.

Caminhei o mais rápido que pude até a saída, segurando firme a mão de Henrique.

E eu sai porta à fora.

Melanina Do Amor (Conto)Onde histórias criam vida. Descubra agora