Capítulo 3

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Minha mãe se recusava a aceitar que aquele pudesse mesmo ser Eduardo na gravação.

Ela estava sentada ereta na cadeira, dizendo entredentes, firme e forte, que aquilo só poderia ser mais uma "tramanha da internet".

Meu pai ainda permanecia calado, depois de ouvir tudo. Eu precisava que ele me desse uma luz no fim do meu túnel, o trem estava se aproximando.

- Por quê ele faria uma coisa dessas com você? - mamãe questionou, mais para si mesma do quê para qualquer um naquela sala.

- Eu falei pra senhora como ele era - respondi, sem acreditar que ela estava agindo como se já não soubesse. - Falei que queria terminar a muito tempo atrás, e que ele continuava relutante. E agora que eu trouxe a prova disto você se recusa a acreditar?

Ela suspirou pesadamente.

- É difícil aceitar que o nosso garotinho, quase como um filho, de tanto tempo atrás, cresceu e ficou assim...

- Então acredita em mim?

- Claro que acredito - falou como se fosse óbvio. - Só não é fácil acreditar nele. Não desse jeito, entende?

Eu entendia, claro. Mas também entendia que, sendo filha dela, ela devia ter tomado alguma atitude como mãe a muito tempo atrás. Desde o tempo em que eu venho tentando terminar com ele, e ela sabia disso.

- Onde ele mora mesmo? - meu pai se pronunciou.

- Pai, não quero que o senhor faça nenhuma loucura sem pensar.

- Eu só quero saber o endereço dele.

Lhe dei o endereço, com cautela, prestando atenção nas suas feições para ver se deixava pistas do quê ele estava prestes a querer fazer.

Eduardo era um babaca, que tinha feito muita besteira comigo e errado muito quando o assunto era relacionamentos. Mas mesmo assim, eu não queria que ninguém o machucasse. Por que, ao contrário dele, ainda me restava um pingo de decência e eu iria usa-la, ele sendo merecedor ou não.

Meu pai era muito descabeçado quando queria, e 70% das vezes agia por impulso. Ele tinha problemas com raiva quando adolescente, e isso não o ajudou muito quando adulto. Então, como meu lindo papel de futura ex-namorada, eu não podia deixar que ele fizesse nenhuma besteira.

Muito menos sozinho.

- Eu vou até lá.

- Pai, não! - pedi, levantando para alcança-lo. Segurei em seu braço, mesmo sabendo que isso não seria uma boa ideia.

- Me solta, Camila! - ele exclamou, se soltando do meu aperto. - Eu nunca vou deixar alguém encostar em você e sair impune. Ele tirou a sua honra!

- Eu deixei - murmurei, me sentindo envergonhada.

- Eu sei - respondeu, quase inojado. - O quê quer que eu faça?!

- Não quero que faça besteira, só converse com ele. Faça-o entender que o quê temos precisa acabar. Acha que consegue fazer isso, sem que ele enlouqueça?

- Se isso irá te deixar melhor, é claro que eu consigo - mais calmo, ele me deu um sorriso cansado, mas acolhedor.

Então me abraçou, e eu sabia que, independentemente do quê ele fosse fazer ou dizer, eu depositaria todas as minhas fichas de confiança nele.

*

Marcavam 17:34h no relógio de parede da sala, e a cada tic-tac me dava vontade de gritar. Meus pais ainda não tinham voltado. Minha mãe decidiu ir junto, e mesmo sabendo que aqueles dois no mesmo espaço com Eduardo depois de ouvir a gravação, não seria uma boa ideia, não me vi na posição de tentar impedir qualquer ação que eles fossem tomar.

Eu achei que não poderia piorar mais do quê já estava, iria ser o quê deveria, e eu estava pronta para aceitar.

Então quando eles chegaram, eu tentei parecer a pessoa mais calma do mundo e ouvir sem fazer interrupções que:

● Eduardo ouviu tudo o quê meus pais tinham a dizer.

● Então, ele surtou e disse que eu estava mentindo (essa era a grande história que ele tinha para inventar pro meu pai. Surpreendente!).

● Meu pai se irritou com sua atitude, e quase socou a cara de Eduardo.

● Minha mãe tentou impedir, mas sendo pequena, Eduardo acabou saindo deste round com um olho roxo batizado pelo meu pai, e um claro entendimento que nunca mais poderia chegar perto de mim.

Depois de saber de tudo isso, eu não sabia se sorria ou se chorava. Mesmo sendo um relacionamento conturbado, construímos uma história, e deixar uma história para trás não era fácil. Mas eu não podia estar mais feliz por ter conseguido terminar tudo de uma boa forma.

Bem, quer dizer, não fui eu quem teve que sujar as unhas.

Melanina Do Amor (Conto)Onde histórias criam vida. Descubra agora