Capítulo 1

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Quando tudo isso começou, eu não tinha a mínima ideia do que estava acontecendo. Como toda adolescente que está prestes a se tornar adulta eu achei que seria perfeito. Não tinha erro, apenas ninguém precisava saber.

Estava tudo indo assim, até a Flávia contar pra minha mãe. Daí em diante ele virou outra pessoa, e o "Dudu" que eu tinha conhecido na sexta série anos atrás não era mais o mesmo. De namorado perfeito à um estranho surtado, tudo em questão de dias.

Eu estava de mãos atadas, de qualquer forma, por que toda vez que eu ameaçava terminar ele rebatia dizendo que iria contar pro meu pai. Claro que meu pai não iria concordar com o Eduardo, ele iria querer mata-lo por tirar o meu título de filha pura intocável da família. Mas o Eduardo iria inventar uma história qualquer que eu não conseguia ouvir em meio a seus gritos quando ele ameaçava.

Desde então, isso vem acontecendo. As ameaças, as pressões psicologicas...

Liguei para Flávia nesta manhã, alegando que precisava da sua ajuda para executar o meu plano. Mesmo ela tendo grande culpa nos acontecimentos atuais que estão bagunçando a minha vida, ela é minha melhor amiga. E se arrependeu muito do que fez, querendo ou não, ela só queria ajudar.

Ela sabia o quanto era chato ter que ficar se encontrando escondido com o Eduardo. As vezes nem dava pra ficarmos sozinhos, um final de semana ou outro, e se minha mãe aprovasse seria perfeito. Se ela aprovasse... coisa que não aconteceu, e cá estamos nós.

O meu plano era rápido e prático: terminar com o Eduardo.

Mas eu não podia fazer isso sozinha, pois seria inútil como em todas as outras vezes. Eu até pediria a ajuda da minha mãe, mas ela diz que se há tantas divergências, por quê eu não terminei antes? É uma ótima pergunta, mãe, mas acredite, eu não tenho a mínima ideia de como deveria respondê-la.

Mas para essa pergunta não precisar mais ser feita, eu precisava pôr meu plano em ação. Então quando Flávia chegou, eu estava atônita.

- Me desculpa mesmo por ter que te fazer passar por isso até hoje - ela disse, falando com verdade.

- Se tudo não der certo hoje, nunca irei te perdoar - brinquei, rindo. Mas ela não achou graça, e me olhou incrédula. - Flávia, eu estou brincando, está tudo bem.

- Mesmo?

Assenti.

Contei para ela que queria que gravasse cada palavra que ele dissesse enquanto eu fosse terminar o nosso relacionamento conturbado, e que, mesmo se Eduardo não concordasse (o quê era uma grande possibilidade), mostrariamos a gravação para meus pais. Assim que meu pai ouvisse eu sei que ele iria querer que Eduarso sumisse da minha vida o mais rápido possível. Nem que fosse a força.

Sempre tive uma relação melhor com meu pai do quê com minha mãe, sei que ele confiaria em mim.

Mesmo que depois ele queira me matar por ter namorado com alguém escondido.

- Camila - Flávia chamou quando eu ia levantar, me puxando para sentar novamente -, você acha que... ele pode chegar a bater em você?

Eu já tinha parado pra pensar nisso, mas nunca achei que ele seria capaz. Mas em uma situação como essa, com uma pessoa como ele, temos que estar preparadas para tudo. E pra isso, eu realmente não tinha preparo algum. Nem físico e muito menos mental.

- Eu não sei - respondi, sinceramente. - Eu não o conheço mais, Flávia.

- Ah... bom, qualquer coisa, eu estarei aqui.

- Sei disso - sorri.

Eu precisava apenas da certeza de que não estaria sozinha, e agora eu tinha.

Depois de descer para comer, pegamos nossas coisas para sair. A casa de Eduardo não ficava tão longe, então a cada quebra-mola o nervosismo aumentava. Eu só esperava não transparecer isso na hora, ou ele iria com certeza, se aproveitar disso.

O dia estava nublado, o quê deixava tudo com uma cara pior. Parecia que até as nuvens resolveram participar do espetáculo, e que em breve, deixariam o Sol aparecer, em forma de consolo.

A sua Hilux vermelha estava estacionada logo em frente, o quê significava que, obviamente, ele estava em casa. O gramado parecia ter crescido desde a última vez em que estive ali, como se tivesse passado muito tempo. O carro de seu pai, o qual não sei o nome, também estava estacionado metros atrás do seu, o quê me deu mais conforto. Ele não poderia fazer nenhuma loucura com seu pai em casa.

Bom, pelo menos era o quê eu esperava.

Troquei um olhar incerto com Flávia, que assentiu positivamente me incentivando a seguir em frente. Então, descemos do carro, e eu fui em direção a porta, enquanto ela se posicionava fora da casa, perto da parede do quarto pronta para gravar tudo quando fosse a hora.

Três batidas, apenas.

E lá estava ele.

Digo, o seu pai. Lá estava ele, o pai de Eduardo.

- Bom dia, Camila - ele comprimentou, com um sorriso fraco.

- Bom dia, seu Alberto - falei, nervosa.

- Eduardo não está em casa - anunciou. - Chegará em alguns minutos, mas eu preciso sair. Se você quiser esperar que...

- Quero, quero sim - disse sem pensar duas vezes. Era hoje, ou era nunca. - Muito obrigada.

- Imagina, Camila! - riu pelo nariz. - Você já é de casa, quase literalmente da família.

Aquela frase foi como um soco no peito. Seu Alberto era uma ótima pessoa, e não tinha ideia do filho que tinha em casa e do que ele fazia com sua tão amada futura nora. Ele me via como uma filha e ouvir que eu era quase da família pra ele, era doloroso, por quê em breve, eu não iria ser mais. Eu não queria ser mais.

Ele me convidou a entrar, e eu o fiz. Esperei que ele saisse para chamar Flávia para dentro.

- Sério que a barra tá limpa? - ela perguntou, olhando para os lados de um modo um tanto exagerado.

Ri nervosa.

- Sim - disse. - Você pode ficar no banheiro, é do lado quarto dele. Acho que vai pegar bem o som.

- Como consegue ficar tão segura? Agora iremos ficar, literalmente sozinhas, com um louco.

- Falar isso não ajuda muito, sabia? - revirei os olhos. - Vai dar tudo certo. Você está aqui pra mim, eu estou aqui pra você. Estamos juntas e vai sair tudo como o planejado.

- Vai sim.

Flávia me deixou sozinha pensando sobre tudo isso na cozinha por que, segundo ela, não poderia de jeito nenhum perder a oportunidade de ver a cama na qual eu e Eduardo já fizemos sexo. Isso era ridículo, eu sei. Mas não pude deixar de rir ou tentar impedi-la.

A qualquer momento Eduardo podia chegar e tudo podia, ou não, acontecer. O problema não era quando, mas como. E pensar sobre aquilo só deixava meu roteiro mental mais bagunçado. Eu acho que ele não tinha nem ideia do quê eu estava prestes a fazer... E a qualquer momento, eu o faria.

Quatro batidas na porta, apenas.

E o momento tinha chegado.

Melanina Do Amor (Conto)Onde histórias criam vida. Descubra agora