Capítulo 4

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Henrique sorria.

Mas ele não sorria como qualquer pessoa que você costuma ver na rua, quando acha graça de algo bobo. Ele sorria genuinamente. Dava pra sentir que aquilo vinha do coração, um sorriso puro e inteiramente dele.

E eu estava fazendo parte daquilo, finalmente, de modo oficial.

Pelo menos, eu achava que sim.

Ele tinha me chamado para sentar na grama do jardim que havia no Parque Smile. Ele estava feliz, e falava sobre o nosso futuro. Era o momento perfeito. Ainda mais por quê, agora nós podíamos ficar juntos sem Eduardo algum interrompendo.

- Somos novos demais pra pensar nesse ponto, não acha? - perguntei, quando ele tocou no assunto de morarmos juntos.

- Não - Henrique falou, com toda convicção. - Nunca é cedo para planejar.

- Nisso eu concordo - sorri.

- Camila, eu te amo - ele começou.

Eu nunca iria me acostumar a ter uma reação normal toda vez que ele reafirmasse isso. Era como se toda vez, fosse a primeira, e eu só podia tentar me cuidar o máximo pra fazer meu coração não explodir.

- Eu também amo você - falei, deixando que ele pegasse na minha mão.

- Bom, eu acho que já tá na hora - disse. Então pegou uma caixinha do bolso, abriu-a e pude ver que lá se encontrava um anel; pequeno e com uma pedrinha também bem pequena no meio dele. - Eu sei que você não gosta dessa baboseira de usar anel e tudo mais, por achar que não precisamos disso para as pessoas notarem que nos amamos e que estamos juntos, mas...

Ele apertou minha mão, suspirando, nervoso. Tirou o anel do compartimento e eu estendi meus dedos em conceção.

- Acho que é um símbolo de amor também, então, se você aceitar ser minha namorada eu queria que...

- Aceito - respondi, sem titubear.

Não tinha o quê pensar, era pra ser e estava sendo.

Henrique gargalhou de felicidade. Logo me juntei a ele, e ficamos uns bons cinco minutos rindo do quanto queríamos aquilo. E como queríamos...

Conheci Henrique um tempo depois de estar namorando Eduardo, e juro que tentei ao máximo continuar com meus sentimentos unilaterais, mas foi quase impossível. Henrique tinha tudo que Eduardo não tinha, e conseguia me dar tudo que Eduardo não me dava.

É idiota dizer isso hoje, até por que, eu fiquei bastante tempo com Eduardo mesmo já conhecendo Henrique mas, eu sabia que era pra ser no momento que eu que fiquei olhando fixamente pra ele. Era tudo o quê eu precisava, e estava ali, bem na minha frente.

E estar com ele hoje, me fazia sentir a pessoa mais apaixonada do mundo. E isso pode parecer uma tragédia para muitos, mas era a melhor coisa que eu tinha no momento.

- Você tá bem? - ele perguntou.

- Isso é uma pergunta retórica? - eu disse sarcástica, mas sorrindo.

Ele riu.

- Que ótimo - sorriu, fazendo suas bochechas parecerem maiores do quê realmente são. - Pra onde você quer ir agora?

- Qualquer lugar que tenha você.

*

Eu sempre imaginei como seria quando eu apresentasse o homem da minha vida aos meus pais. Imaginei também, a um tempo atrás, que não precisaria mais fazer isso, afinal, Eduardo já conhecia os meus pais desde que nasceu. Mas não era ele, e isso significava que eu precisaria fazer isso "novamente".

Meus pais sempre foram liberais no quesito namoro, e mesmo eu já sendo bem grandinha esbanjando meus 19 anos, eu morava debaixo do teto deles. Então, devia-lhes satisfação, motivos e atualizações da minha vida. Mas, também não é como se eu não quisesse que eles conhecessem Henrique. Isso apenas me parecia um tanto assustador.

Henrique nunca viu o rosto dos meus pais, assim como meus pais nunca viram o rosto de Henrique. Eduardo foi meu primeiro e único namorado, e pensar na ideia de apresentar uma pessoa totalmente fora do âmbito familiar aos meus pais era quase esquisito. Parecia... fora do lugar.

Quando sentei com Henrique para falar sobre aquilo, assim que saímos do parque, é claro que ele não podia estar mais realizado. E devia ser o único homem do mundo que fica plenamente feliz em saber que vai conhecer os sogros! Por que eu, só de pensar em conhecer os pais dele, já tinha vontade de correr.

Então, ele não quis esperar mais nenhum minuto. Hoje já fazia um mês que eu tinha oficialmente terminado com Eduardo, era a hora certa.

Meu pai estava de folga do trabalho hoje, e minha mãe é aposentada então está em casa na maior parte do tempo. Parecia estar dando tudo certo.

Três batidas, e meu pai estava lá abrindo a porta para nós.

- Oi, pai - comprimentei, sorrindo. Logo puxei a mão de Henrique para que ele entrasse comigo.

- Olá - Henrique falou à meu pai, sendo puxado por mim.

- Onde está mamãe?

- Na sala... - meu pai arrastou a voz. - Quem é ele?

- Ele é meu... - comecei, mas precisava terminar a frase com minha mãe presente. - Quer dizer, vamos para a sala.

Meu coração estava quase saindo pela boca, mesmo que isso pareça exagero. Meus pais precisavam gostar do Henrique, por que eu não pretendia mudar de namorado nunca mais.

- Pai, mãe - chamei-os, quando todos estavam sentados. - Este é o Henrique - apontei para o mesmo, que sorriu em comprimento acompanhado de um "Olá, senhores!" completamente genérico, que me deu muita vontade de rir.

- Olá - meus pais falaram em uníssono.

- E-ele é seu novo namorado? - minha mãe foi direta.

Bem, eu não esperava que fosse ser tão rápido.

- Sim - sorri, apertando a mão de Henrique.

- E ele é negro? - papai perguntou.

- Hum, sim - ri da sua pergunta boba. Claro que ele era negro. Todos tinham notado isso quando ele entrou, não?

- Você vai namorar com um negro?

Esperei sua pergunta digerir no meu estômago antes de pensar em responde-lo de forma correta.

Isso era tão óbvio que não entendi qual a necessidade da questão.

- Sim, pai. O quê quer dizer com isso? - eu disse, agora mais séria, começando a estender o sentido de suas interrogações.

Ele riu pelo nariz, como se fosse óbvio. Como se eu tivesse feito uma pergunta tão retórica que ele nem ao menos acreditava naquilo.

- Você não pode namorar com um negro, Camila! - minha mãe disse, ríspida.

Eu não podia acreditar no quê estava ouvindo.

Melanina Do Amor (Conto)Onde histórias criam vida. Descubra agora