Capítulo 6

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Algum tempo depois...

Tudo que eu precisava era um pouco de ar, então saí a procura. Foi difícil na época, foi tumultuado. Mas nada que um pouco de força de vontade e umas pitadas de perseverança não tivessem ajudado.

Quando se tem coragem, se tem tudo. E junto com o amor, parece que você se sente capaz de fazer tudo. E eu não poderia pagar por aquilo, era natural. Eu não podia mudar aquilo, apenas aceitar de bom grado.

Hoje faziam quatro anos de mudança; física, psicológica e emocional.

Fisicamente, digo na parte de quando saí da casa dos meus pais. Depois daquele discussão, segui o seu intimato final, e fui morar com Henrique. Naquele momento parecia que tudo estava indo rápido demais, mas eu precisava mostrar para eles que eu já era uma mulher.

Descobrir que meus pais não eram exatamente como eu pensava, fez meu psicológico borbulhar. Eles me ajudaram bastante a ter uma nova visão sobre o mundo, e as pessoas com as quais eu convivia e ainda convivo.

E não há emoção maior quando se tem liberdade. Principalmente, a mental. Eu sabia que tinha feito o certo, Henrique sabia disso também, não tinha por quê nos sentirmos culpados. Era uma sensação ótima.

Tivemos tudo o quê queríamos; liberdade própria, casa, comida, empregos fixos, família...

Levina nasceu depois que estávamos morando juntos a 2 anos, logo depois de seu nascimento nos casamos. Ela era linda, uma perfeita mistura entre nós dois que poderia fazer qualquer um se apaixonar. E o papai coruja não gostaria disso no futuro!

Hoje, com Levina já com seus 2 anos de idade completos, e 4 anos sem contato algum, estávamos viajando para a casa de meus pais. Eu não tinha ideia de como eles estavam, e nem se moravam lá ainda, mas era a hora certa para minha filha conhecer os seus avós.

Eram horas de viagem, que com tanta ansiedade já nem se sentiam serem passadas.

- Chegamos - Henrique anunciou, parando o carro. Segurou na minha mão e olhou por cima do ombro a visão de Levina dormindo no banco de trás.

- Chegamos? Mas já? - perguntei. - Já chegamos no endereço?

Ele riu.

- Não - disse. - É no fim da rua. Tudo bem?

Eu definitivamente nunca mais saberia responder aquela pergunta quando se tratasse de meus pais.

- Sim - eu disse, por fim. - Vamos.

Era só o fim da rua, não tinha nenhum mistério.

Eu estava confiante, tinha plena certeza disso. Meu medo não era nem por mim, era por eles.

Mas Henrique era um homem adulto, e Levina só uma criança. Nada demais iria acontecer.

Saímos do carro, e fui levando Levina no colo.

Quatro batidas na porta, e esperamos por uma resposta.

- Camila - a voz de minha mãe fez meus olhos marejarem.

Minha mãe parecia que tinha envelhecido 10 anos, não só 4. Mas continuava linda, ainda mesmo que pernacesse com a caranca no olhar. Meu pai logo apareceu ao seu lado, e ela saiu da frente, em silêncio, para que pudessemos entrar.

- Minha filha - meu pai veio ao meu encontro. Me abraçou forte, embora eu não pudesse retribuir por estar com Levina no colo, que com o choro do avô logo acordou assustada.

- Tudo bem, tudo bem - eu a assegurei, e ela se agarrou ao meu pescoço. - Podemos sentar?

- Claro.

Na sala, sentei ao lado de Henrique, com Levina agora totalmente acordada, sentada no colo, com a perfeita visão de frente aos meus pais, seus avós.

- Vocês... Como vocês estão... - mamãe não conseguiu completar a frase.

- Crescidos? - falei, sorrindo.

- Sim! - riu. Limpou as lágrimas, com os olhos vibrados em Levina. - Me perdoe, minha filha.

- Agora a senhora se ama o sufiente? - Henrique perguntou, de repente, com um sorriso no canto do rosto.

E eu sabia exatamente o quê ele queria dizer com aquilo.

Minha mãe também sabia, então sorriu abertamente, trocando um olhar cúmplice com meu pai.

- Conseguimos, Henrique - responderam em uníssono.

- Agora, se vocês me permitem, quero passar este amor que me resta à vocês - ela completou.

Comecei a chorar, sentando Levina ao lado de Henrique, e indo de encontro ao abraço de meus pais. E lá eu encontrei tudo o quê precisava.

A lição que aprendi com tudo isso, é que nem todas as vezes os meios juntificam os fins. Precisamos muitas vezes passar por meios difíceis para encontrar um final merecedor.

Quando o amor bate na porta, temos que deixa-lo entrar. Digamos que ele é meio bipolar, e às vezes, o remédio pode ser um nós.

Melanina Do Amor (Conto)Onde histórias criam vida. Descubra agora