Amigos parte 2

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Ao entrarem no quarto, Ray e Bob já estavam com os controles do vídeo game na mão e gritavam com os bonecos saltitantes mostrados na televisão. Gerard achou aquilo estranho e assustador. Aqueles garotos que antes pareciam tão tranquilos e simpáticos, agora gritavam e ele nem sequer sabia com o que eles falavam e porque pulavam daquela forma.

- Atrás de você, corre! - Ray gritou e Gerard pulou assustado, se virando para observar o que havia de errado. Mas não havia nada nas suas costas, apenas a porta do quarto aberta e o corredor vazio.

- Ray, você assustou o Gerard. - Frank repreendeu o amigo que continuava a pular junto com o personagem e a gritar com Bob, mas que virou rapidamente a cabeça para se desculpar com o garoto assustado.

- Desculpa aí cara, foi sem querer. - Ele deu de ombros e voltou a atenção ao jogo.

- Ele se empolga demais. - Foi Bob quem falou, mas Gerard só percebeu isso pelo fato de que ele não havia reconhecido aquela voz, não pertencia a Frank e nem ao garoto cabeludo, então só poderia ser do outro que estava no quarto, porém esse nem sequer se virou para falar, parecia entretido demais olhando para a caixa brilhosa onde algumas coisas pareciam correr.

E isso chamou a atenção de Gerard, ele já havia visto aquilo de relance. Papa tinha uma daquelas, ele havia visto um vez, quando escapou de seu ambiente tentando fugir dos barulhos ensurdecedores dos trovões que ecoavam lá, subiu as escadas, se deparando com Papa sentado no escuro com uma dessas caixas mais a frente. Ele se recordava da bronca que havia tomado aquele dia. Sempre que ele subia e Papa o encontrava ele ouvia o mesmo discurso sobre como aquilo não era permitido e ele estava sendo desrespeitoso, mas naquele momento havia sido pior. Não haviam sido apenas palavras calmas e repreendedoras, elas eram brutas e quase tão altas quanto os trovões, e por um momento Gerard pensou que o barulho que eles faziam eram menos aterrorizantes do que os gritos daquele homem. Gerard nem sequer pensou em olhar ao seu redor, ele simplesmente fez o caminho contrário o mais rápido que conseguia, descendo as escadas e ouvindo a porta de seu ambiente bater atrás de si. Talvez essa caixa fizesse isso com as pessoas, fosse pra isso que ela era útil. Pessoas antes tranquilas se tornavam brutas e barulhentas. Havia visto isso acontecer com Papa e agora com o garoto de cabelos engraçados. Ele não entendia o porquê de as pessoas continuarem a olhar para elas, já que ele não considerava aquilo uma coisa boa. Mas ele era Gerard e sabia que aquela não era a única coisa que ele não entendia sobre as pessoas, então preferiu ficar calado.

- Você quer jogar? - o garoto de cabelos claros, assim como os de Linda, se virou para ele, esticando o braço, onde havia uma especie de caixa cinza, com algumas coisas coloridas saindo dela. Ele não fazia ideia do que era aquilo, e ele não sabia se queria tocar. - Pode pegar, eu cansei.

- Cansou de perder, isso sim. - Raymond se vangloriou pela quarta partida vencida e Bob apenas lhe mandou algumas palavras rudes em troca.

Não, Gerard não queria tocar naquela pequena caixa com coisas coloridas, muito menos ficar perto da caixa maior e brilhante. Não queria ficar daquela forma. Não queria parecer com Papa naquela noite, muito menos com aqueles garotos. Preferia Frank, que agora estava deitado de bruços na cama e folheava uma revista. Ele parecia bem mais calmo, até mais calmo do que ele já havia visto. Talvez aquilo que Frank tinha em mãos tinha o poder de desfazer o efeito que a caixa brilhosa causava nas pessoas.

Remédio. Era aquilo que Frank tinha em mãos, já havia experimentado aquilo e Papa já havia contado sobre a existência daquilo para ele. Uma vez, quando Gerard se sentia muito mal e quase não conseguia ficar de pé, Papa lhe trouxe aquilo. Na verdade era bem diferente do remédio que Frank tinha em mãos, os que Papa trouxera eram pequenos e sem cor, em pequenas bolinhas, mas também fizeram o efeito passar. Ele teve que engolir algumas daquelas bolinhas e então logo ele se sentia melhor.

Hey, Freak! (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora