Sozinho

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A mulher sorriu ao receber a resposta para, pelo menos uma das suas perguntas, que não eram poucas. Agora estava se sentindo um pouco mais confiante, segurando novamente o braço do rapaz, apertando-o de forma delicada, esperando transmitir um pouco de conforto com o gesto.

- Então esse é o seu nome? - Ele maneou a cabeça de forma quase imperceptível, concordando com o que a mulher estava dizendo. - É um lindo nome, Gerard. - Viu um sorriso tímido brotar nos lábios do rapaz e sentiu que estava evoluindo. - Você pode falar comigo, querido. Não precisa ficar nervoso.

Antes que ela pudesse dizer alguma outra coisa, ou que Gerard mesmo pudesse falar algo, Veronika vinha pelo corredor, caminhando apressada, sendo seguida por dois policiais. Eles pararam próximos a Linda, enquanto Veronika indicava o garoto sentado, um pouco confuso com a presença de todas aquelas pessoas ao seu redor. Um deles tinha uma das mãos sobre o cabo da pequena arma presa a cintura, como se estivesse pronto para atirar em Gerard se fosse preciso, e Linda não gostou daquela postura um pouco agressiva. O rapaz permanecia imóvel, apenas observando tudo, tentando entender o que estava acontecendo. Linda se levantou para cumprimentar os policiais, para que pudessem conversar e encontrar uma forma de ajudar o garoto.

A explicação foi rápida, não havia muito o que falar. Tudo o que ela sabia é que ele ficara horas na praça, sozinho, e agora tinha -talvez- tivesse um nome. Era tudo o que Linda sabia e tudo que ela pode dizer aos policiais. Eles examinaram o bilhete que ela os entregara, mas como já era de se esperar, aquilo era muito vago e não ajudaria muito.

- Nós não podemos fazer muito por ele nesse momento. - Linda suspirou, preocupada. - O máximo que podemos é lançar um aviso sobre um rapaz com as características dele, encontrado sozinho na Praça Principal e esperar que alguém se apresente como familiar. fizer uma queixa de faça uma queixa do desaparecimento e o reconheça. - Um dos policiais, o que parecia mais simpático, explicou para as duas mulheres que olhavam apreensivas.

- E onde ele vai ficar? Não podem deixa-lo na rua. - A pergunta partiu de Veronika, e Linda a agradeceu mentalmente, pois era exatamente o que ela queria saber. Eles não podiam fazer muito por ele, mas deveriam mantê-lo em segurança, era o mínimo a ser feito.

- Não, claro que não. - O senhor ergueu as mãos em um gesto um pouco defensivo. - Nós podemos lavá-lo até um abrigo. "Talvez um hospital fosse a melhor opção" Linda sugeriu. - Ele não me parece estar em más condições, seria errado leva-lo até o hospital e ocupar um leito. O abrigo é a única opção que podemos dar em uma situação como essa. Ele ficara lá até que encontremos a família, ou os responsáveis.

Os olhos verdes do rapaz acompanhavam atentamente a conversa que acontecia bem a sua frente, tentando entender tudo o que era dito. Eles falavam, se interrompiam, falavam uns por cima dos outros, era uma bagunça que ele nunca presenciara e acompanha-la estava sendo um pouco difícil. Ele não conseguia entender tudo o que era dito, mas sabia que ele era o assunto principal ali. Cada um falava uma coisa diferente, mas todos o olhavam da mesma maneira, exceto a mulher que falara com ele na praça. Ela o olhava com a expressão um pouco aflita, e algo no corpo de do garoto pareceu se contorcer. Não precisava entender tudo o que era dito, a expressão no rosto dela dizia tudo por si só: O rumo que a conversa estava tomando não deveria ser algo bom.

- Um abrigo? - A voz da mulher estava um pouco quebrada, ela tentava lutar com os sentimentos e ser racional naquele momento, mas não conseguia ignorar o olhar que recebia do rapaz. - Ele é um garoto perdido que, até onde sabemos pode ter algum tipo de deficiência mental. Eu sou psicóloga e não acho que ele tem condições de ficar por conta própria em um abrigo.

- Sinto muito, Sra. Iero, mas isso é tudo o que podemos fazer por ele nesse momento.

"Sozinho". Gerard podia não entender perfeitamente tudo o que era dito ao seu redor, mas aquela palavra sim lhe era familiar. Ele não só já a ouvira antes, como conhecia o seu significado. Sabia o que significava ficar sozinho. Ele passara grande parte dos seus dias sozinho. "Vou te deixar sozinho agora, Gerard. " Papa dizia antes de sair pela porta e o deixar para trás, sozinho. Aquilo não era algo que ele gostava, apesar de ser algo que já lhe era comum, não gostava da sensação de não ter ninguém por perto. Sempre que era deixado sozinho, tinha a sensação de que nunca mais veria Papa novamente, mas ele sempre voltava, demorava algum tempo mas a porta se abria e ele surgia. Sozinho não era algo que ele gostava, não era algo que ele queria.

Hey, Freak! (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora