Prólogo

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Linda olhava pela janela mais uma vez, vendo a mesma imagem de alguns minutos atrás: O garoto continuava ali, sentado no banco de madeira da praça movimentada do centro da cidade. Ventava forte do lado de fora, o vento batia contra o corpo do garoto, fazendo com que os cabelos mal cortados e escuros deste se agitassem. Era o começo do outono e a New Jersey nunca fora um dos estados mais quentes, então tinha quase certeza de que aquele casaco que o jovem vestia não era o suficiente para mantê-lo aquecido. Não naquele vento.

Muitas pessoas a julgariam, afinal, ela nem o conhecia, nunca, nem sequer, o tinha visto em algum lugar, e Linda Iero era uma pessoa que conhecia uma boa parte dos habitantes daquela cidade. Mas a verdade é que ela tinha um filho, Frank, este deveria ter quase a mesma idade do garoto sentado naquela praça, e era impossível para ela não imaginar que pudesse ser o seu garoto ali, no lugar do rapaz desconhecido. Poderia ser Frank sentado naquele banco, e ela ficaria feliz se alguém se preocupasse com o bem-estar dele, em ajuda-lo se fosse preciso, exatamente como ela estava fazendo naquele momento.

O Sol já começava a se pôr, a temperatura cairia uns bons graus logo mais, e o garoto continuava lá, observando as pessoas que caminhavam apressadas, correndo com os problemas do dia a dia, ou tentando se esconder do frio, ou até mesmo aquelas que estavam apenas passeando e aproveitando o final da tarde. Ninguém parecia nota-lo, e Linda sorriu ao se dar conta de quão diferente ele parecia de todos. Enquanto ninguém reparara no garoto sentado no banco da praça, ele parecia reparar em cada pessoa que passava por ali.

O olhar atento percorria cada um, mas elas sequer percebiam o olhar preso nelas, mas preocupadas com suas atitudes rotineiras. Uma senhora passeando com o cachorro, dois garotos cabulando aula, correndo com as mochilas nas costas, um casal passeando de mãos dadas, pessoas apressadas correndo com bolsas penduradas nos ombros ou pastas nas mãos. Era a mesma cena todo dia, não havia nada de diferente, nada que pudesse chamar a atenção de alguém como Linda. Ela estava acostumada com aquilo, todo dia via e participava daquela correria tão típica, mas aquele rapaz era diferente, ele sim chamava atenção. E o engraçado é que ele nem sequer estava fazendo alguma coisa para isso. Estava apenas ali, parado, sentado e observando tudo.

Checou o relógio de pulso uma última vez, constatando que o mesmo marcava seis e meia da tarde, o fim do seu turno de trabalho. Finalmente! Agora ela poderia ir para casa. Não que esse fosse o real motivo de toda a ansiedade que sentia, já que ela adorava passar o dia na clínica. Amava o seu trabalho como assistente social e psicóloga da pequena clínica especializada em pessoas com câncer. Era um trabalho difícil, ela não poderia negar, e muito não gostariam de estar em seu lugar. Mas não para Linda, ela se sentia útil podendo trazer um pouco de conforto para os pacientes e seus familiares.

Porém, naquela tarde, tudo o que ela mais desejava era poder deixar a pequena clínica o mais rápido possível. Não perdeu nem tempo guardando o jaleco rosa no armário de seu pequeno consultório, deixando-o sobre o encosto da cadeira, pegando apenas sua bolsa e se despedindo dos poucos funcionários que continuavam por ali. Ela precisava atravessar a rua e falar com aquele garoto, perguntar o que havia de errado e se ele precisava de ajuda. Sabia que haviam grandes possibilidade de que fosse apenas mais um jovem revoltado com a família, como qualquer outro em New Jersey, querendo passar um tempo sozinho, sem ninguém para perturbar. Mas também poderia ser um garoto que precisava realmente da sua ajuda, e apenas ficar ali criando hipóteses não a traria as devidas respostas. Ela precisava realmente ir até lá e falar com o ele.

Atravessou a rua o mais rápido que conseguia, arquitetando a melhor forma de aborda-lo, temendo assusta-lo ou ser repelida logo de cara. Sabia -por experiência própria com o filho adolescente- o quão ariscos estes podiam ser. Não os culpava também, como muitos gostavam de fazer, entendia perfeitamente esse lado reservado que possuíam, afinal, eram ensinados desde pequenos os perigos de falar com estranhos, e a cidade não era uma das mais seguras de qualquer maneira.

Hey, Freak! (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora