Como Brasa e Fogo

Capítulo 3- Provocando a Fera

Annie

Já dizia a Lei de Murphy: Se uma coisa pode dar errado, dará! Ás vezes parece que minha vida é uma pegadinha desses programas de TV e que quando eu menos esperar irão aparecer as câmeras escondidas e irei ganhar um grande prêmio por ser trouxa.

Poderia enumerar o dedo podre que eu tenho pra quando tudo insiste em dar errado de uma vez só. Foi assim na faculdade quando descobri a traição do meu namorado e logo depois que a garota era a minha amiga. E agora essa semana linda em que presencio um crime, sou assaltada e depois passo a noite na cadeia. Se isso foi um teste devo dizer que passei por que ainda estou viva aqui, tirando que estou querendo matar aquele xerife de merda e o pivete que roubou meu celular juntamente de minha bolsa maravilhosa da Louis Vuitton. Falando desse jeito estou parecendo a histérica da Yasmim, isso se dá pelos anos de convivência com ela. A verdade é que eu estou muito puta, irada da vida e com vontade de matar uma boa parte da humanidade. Detesto quando as coisas começam dar errado, vem uma maré ruim e ela permanece até minha vida estar totalmente arruinada.

O meu fim de noite havia sido péssimo, mal coloquei os pés dentro de casa e já me joguei no sofá como um saco de batatas. Meu sofá não era o mais confortável da face da terra, mas comparado a cama daquela cela era um luxo e eu me dei o prazer de tirar um longo cochilo nele, embora meu corpo desejasse hibernar pelas próximas 24 horas.

Minha mãe havia interrompido meu sono ligando para o telefone aqui de casa, estava toda preocupada por que não me encontrava no celular por só dar fora de área. Com toda certeza o moleque espertinho já devia ter trocado de número e agora desfilava com meu celular por ai ou simplesmente vendeu o aparelho. Se ele viesse oferecer pra eu comprar certamente sairia mais barato do que o aparelho que terei que comprar hoje. E não, eu não sou mão de vaca, apenas evito gastos desnecessários.

Não consigo esconder muita coisa da senhora Christine e obriguei-me a contar que havia sido assaltada, mas que estava tudo bem e que não era para se preocupar. Impossível ela não se preocupar. Sabia que a hora que colocasse os pés na lanchonete eu seria alvo de uma super investigação digna de chamarem até os agentes da CIA pra solucionar o roubo do meu celular.

A realidade era que eu estava um trapo, mal me aguentava em pé. Arrisco dizer que se fechasse os olhos por alguns segundos eles se colariam e eu entraria num estado de coma. A sensação era de que quatro caminhões de carga haviam passado por cima de mim e voltaram pra terminar o serviço. "Eu deveria ter vindo pra casa", é essa frase eu já disse antes, mas é que não me conformo de ter dormido em uma cela de cadeia. Eu nunca havia entrado numa cadeia, muito menos sido presa, a vida realmente é uma verdadeira trollagem.

O bom de morar sozinha é que o serviço que sua mãe te mandaria fazer você pode simplesmente ignorar e fazer em outro momento, o que é o caso de hoje. Não tenho estruturas pra lavar um prato, muito menos colocar roupas pra lavar. Mimi sentiu que as coisas não iam bem e optou por ficar dormindo o dia todo. Penso que se eu fosse uma gata e tivesse uma dona como eu, viveria no paraíso por que eu sou muito boa pra ela. Mimi é rainha nessa casa, ela passa mais tempo aqui do que eu mesma.

Estava adiando o momento de ter que sair de casa em busca de um novo telefone, infelizmente teria que trabalhar daqui quase uma hora. O meu estado vegetativo teria que ser deixado de lado e eu teria que incorporar a Annie sorridente e receptiva até o meio da madrugada.

Minhas pernas insistiam em não andar mais rápido, as calçadas pareciam intermináveis que até os pequenos ladrilhos eu estava contando pra ver se chegava mais rápido ao meu destino. Poderia ser comparado a um jogo de campo minado: desviar de pessoas, pedras, pombos até enfim eu passar pelas enormes portas do banco e passar de fase.