Veteranos

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O grito vinha de uma sala com vidro escuro. As meninas se entreolharam e assentiram. Anne se levantou e seguiu até a sala. Fomos atrás da Anne e olhamos pela janela. A cena era horrorizante: o homem de costeletas, o veterano que se apresentou mais cedo, estava gritando com a boca semi tapada por um pano, seminu, e dois homens com aparências de médicos puxavam seu pescoço para trás, enquanto um terceiro lhe aplicava uma injeção. O homem se debatia e gritava. Um aparelho media seus batimentos. Ele deu um último grito agonizante, e o seus batimentos pararam. Um dos médicos tirou a máscara e sacudiu a cabeça negativamente. Um outro homem entrou pela porta e olhou em nossa direção. Luiza pressentiu isso antes e nos puxou para baixo. Ficamos alguns minutos ali, tremendo. Isah levantou lentamente e deu sinal positivo. Vimos o corpo do homem ser carregado para fora. Anne fez o sinal do Pai Nosso e todas nós seguimos seu gesto. Fomos correndo até o resto de nossa fogueira, que já tinha se apagado antes de ouvirmos o grito. Corremos em silêncio até os dormitórios. Elas ficavam no andar abaixo do nosso. Nos despedimos e seguimos até nosso quarto. Ao chegarmos no nosso corredor, ouvimos um som de festa. Nossa vizinha estava dando uma festa e em um canto mais afastado, estava Theo fumando o que devia ser maconha. Luiza parou para conversar com ele e me surpreendi ao vê-la pegar o beck e dar um trago. Decidi deixá-los a sós e segui para o meu quarto. Me deitei e não consegui dormir, com aquela cena voltando sempre a minha cabeça.

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Luiza voltou bem mais tarde. Se deitou e deu um profundo suspiro.
- O que foi aquilo? - perguntou ela.
- Você tinha razão - respondi.
- Como eu gostaria de estar errada... O que isso significa? -
- Que isso é uma escola de torturadores? -
- Ah vá, Sherlock -
- Você fuma? -
- Nunca fumei, mas a situação foi desesperadora -
- Tá fazendo efeito? -
- O que você acha? -
- O que vamos fazer? -
- Fingir que não vimos nada, que nada aconteceu. Será nosso segredo. Isso pode ter sido apenas... -
- ... Um engano -
- Exatamente -
- Boa noite -
- Você vai conseguir dormir? -
- Não -
- Também não -

1 hora depois...
- Flora... Você está acordada? -
- Acho que sim -
- Amanhã as aulas já começam -
- Eu sei... -
- Podemos faltar? - 
- Melhor não. Quem sabe poderemos entender melhor isso -
- ...Espero -
Me revirei a noite toda na cama. Poderia ter sido engano. Ou não? Porque fariam aquilo? Existe explicação lógica? Lembrei de minha casa. Quando meu pai bebia ou algo me angustiava, eu ouvia músicas ou via filmes. Ótima idéia. O clima não era ideal mas uma comédia pode resolver.
- Luiza... -
- Fala -
- Quer ver um filme? -
- Sério? -
- Claro -
Eu desci para o seu beliche enquanto ela fazia pipoca no microondas. Depois de uns dois filmes, o dia amanheceu.

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