Pai

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Lá vem sorrindo
Com olhar de menino
Mas com a cara enrugada,
mas que aquela estrada aqui perto da mata

Todo vermelho de sol amarelo
chega em casa e já tira o sapato e pede o chinelo.
Por trás da pele corada de sol amarelo, cara enrugada de estrada esburacada

Ele me olha e sorri
Parece que alí,
lá dentro,
por trás daqueles olhos pequenos eu o via brincando
como se estivesse sonhado acordado.

Ele se via passado,
Ele brincava com tempo,
Se viu passeando pelo passado, passa daí !
Passou!
Passo à passo, deixou o passado!

Cansado de procurar o futuro
Ele chegou aqui no meu presente,
Se fez presente, mas que Belo presente!

Mas não sei o que deu!
Esse presente se escondeu!?
Porque te procuro e não acho?

Já tentei voltar ao passado,
Mas só lembro dos dias
quando chegava corado do sol e com os olhos de estrelas brilhando e sorriso de lua quando tá minguando.

Me olhando calado
sentado do lado da parede vazia
Sempre me dizia o que pensava sem falar...
parecia um momento de silêncio vazio

Mais que nada!
nesse vazio eu via ele sentado chorava!
O silêncio nunca foi tão cheio de vazios que gritavam.

Feito menino com joelho ralado no barro, ele me olhou dessa vez,
Mas o que eu poderia fazer? Eu também era um menino com medo de ser brinquedo da vida bandida
Que rouba seu ar, e nem deixa tempo pra despedida

Os dias passavam rápido
o menino bebia,
pensou que era um poço eu acho,
ele era um poço vazio,
todas as lágrimas secaram,
Mas ele bebia e se sentia cheio, mesmo que de devaneios...

Ele tinha medo de vazios
e era cheio de caos
Fez do seu caos,
seu cais
e se prendeu em si

Agora eu vejo o que no passado não vi,
aqueles olhos eram espelhos!
É! e eu estava se vendo.

No momento que ele perdeu seu presente,
ficou no passado tentando procurar seu presente e seguir seu futuro...

Já é tarde, o presente passou, e ele ficou no passado,
sem poder passar
por onde eu passei.
E eu o deixei, em minaha covardia!
O abandonei!

Hoje eu espero sentado dessa vez não na sala do lado da parede vazia,
Mas no quarto, na cama, pois lhe esperar cansa,
as vezes esqueço seu rosto corado, seu sorriso de lado, seu olhar de criança,
então abro o armário e puxo a gaveta, abro um álbum empoeirado jogado numa gaveta lotada de passado...
E vejo, vejo esperança ainda!
"esperança... esperan... espera... "
Esperando, eu mexer na lembrança,
pra lembrar da saudade que vez ou outra sai da outra gaveta...
a gaveta da cabeça, do coração...
Lembro do seu jeito sorrindo acanhado querendo as vezes chorar, me olho no espelho, não dos seus olhos pequenos, mas no espelho manchado do mesmo armário, reflete meus olhos e vejo que tudo que almejo pode agora acabar!
Que tristeza que me dá Pai.
(t.l)

EscrevivendoOnde histórias criam vida. Descubra agora