II

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O tempo parecia correr muito lentamente dentro da barriga do ogro colossal, Luki conseguiu subir em um velho navio que estava boiando no suco gástrico e ficou lá deitado de cabeça para cima, ele orientava-se pelo brilho fraco de seu precioso ovo.
Orgulhou-se de todos os seus treinos na escuridão das selvas noturnas que eram muito úteis agora, ele conseguira se salvar por hora, ele ainda estava vivo, "mais resistente do que meus irmãos" ele pensou.

— não é hora para gabar-se seu tonto! — disse Luki em voz alta — você precisa sair daqui!

Falar sozinho não era um costume muito comum mesmo entre Agazianos, mas estar dentro de um estômago era tão estranho que tornava qualquer outra coisa muito normal para Luki.
Ele revirou seus poucos pertences para visualizar o que tinha consigo, achou uma maçã que ficara um tanto nojenta naquele ambiente, uma pequena adaga feita com uma pedra branca afiada, um estilingue e algumas pedrinhas... O menino riu sozinho com a perspectiva para o futuro que resumia-se em morrer e virar estrume de ogro ou esperar por um milagre.

— pelo menos eu peguei o ovo, eu sou um caçador! — berrou com toda sua voz.

Do lado de fora do ogro um grupo de criaturas bem distintas rondavam a região, os quatro observavam tudo ao redor como se procurassem por alguma coisa.

— Você tem certeza que é por aqui mesmo Graham? — perguntou a menor entre eles, uma fada.
— Eu já disse que foram os pássaros que me contaram, eles não mentiriam para mim — afirmou o Fauno chamado Graham — ponho minha mãe no fogo!
— você quer dizer "mão" — corrigiu a fadinha revirando os olhos.
— não é atoa que sua família te abandonou Graham! — riu a terceira criatura, um duende
— Cale a boca Zaid, você precisa crescer mais um metro antes de falar comigo!
— está zombando da minha altura?! — berrou com rosto vermelho de raiva.
— silêncio — pronunciou-se o mais alto, um minotauro, que aparentava ser o mais paciente dentre os quatro — se Sr. Graham estiver certo e um ogro colossal estiver tão perto das colônias do sul teremos que agir, vocês compreendem isso? — perguntou solene porém brando.
— eu vou olhar de cima — disse a fada depois de uma pausa silenciosa.

Xyuniytsu, a fada, subiu com suas minúsculas asas até além da copa da árvore mais alta, ela sabia que um ogro poderia facilmente ser confundido com uma montanha se estivesse sentado, por isso verificava atentamente cada elevação de terra.
Não destacava-se muito entre a paisagem mas lá estava o grande monstro sentado, imóvel.
— Eu não acredito! — exclamou Xyuniytsu voltando rapidamente para baixo.

Ela parou na frente de seus companheiros fazendo-os voltarem suas atenções para ela.

— era verdade! Ele está ali — afirmou a fada apontando para onde ela havia visto o ogro — vamos ter uma gema de ogro colossal, quanto vale isso? Eu nem sei! — disse ela em êxtase
— 🎶"Ouro, ouro, ouro, que os duendes encontrem o tesouro"🎶 — cantarolou Zaid enquanto dava pulinhos de alegria.
— 🎶"Dinheiro e belas jóias, tudo encontramos sem mais demoras"🎶 — completou Graham juntando-se ao amigo.
— Muito bem Srta. Xyuni — elogiou-a o minotauro — vá na frente e nos leve até lá por favor.

Xyuniytsu corou com o elogio e logo obedeceu, os quatro aproximaram-se bastante do ogro com cautela para não serem vistos. Graham revirou sua bolsa e tirou de lá uma pequena flauta doce talhada á mão, feita de uma madeira escura e grossa, o bocal era inteiramente de ouro. Assim como reza a lenda, Faunos podem adormecer seus oponentes tocando algumas notas em suas flautas, Graham não era muito hábil com esse feitiço mas com certeza conseguiria manter o ogro dormindo enquanto tocasse. Zaid, Xyuniytsu e Santouro cobriram seus ouvidos com abafadores antes que Graham começasse a tocar.
Demorou pouco até que o monstro deixasse a cabeça desabar para trás, seus roncos abafavam a música de Graham que teve de se esforçar mais para aumentar o volume. Xyuniytsu, que era aproximadamente do tamanho de uma palma humana, entrou pela boca do ogro colossal segurando uma pequena lamparina. Ogros possuíam uma gema valiosa assim como as ostras do mar que produzem suas pérolas, no fundo das entranhas do monstro a fada conseguiria encontrar coisas valiosas, talvez até mais do que ela esperasse encontrar.

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