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O sol se pôs de fato, o grupo mal chegou na clareira e o céu já escureceu, Graham acendeu uma fogueira enquanto os demais ajeitavam seus pertences e retiravam tesouros que estavam estrategicamente escondidos pelo lugar. Luki estava de bico, emburrado e contrariado, torcendo o nariz e bufando a cada passo.

- Você não entende a gravidade da minha situação fadinha!
- Você é quem não entende a gravidade da sua situação, não fosse eu estarias morto numa hora dessas, além de mal educado é ingrato?
- Se minha tribo se mudar antes de eu chegar posso ficar perdido para sempre fada, não entende? Minha família e amigos vão me abandonar e me dar por morto se eu demorar mais um dia sequer.
- Não me venha com desculp...
- Acalme-se Xyuniytsu - Santouro interrompeu-a - Não seja egoísta, vamos deixar você ir, meu menino, não se preocupe.
- Como vamos deixá-lo ir? - Zaid questiona - Não reparou o tesouro que o garoto tem?
- Não roubamos crianças, que falta de honra anão, não tem coração? - Questionou Graham.
- Ganância sobrepõe-se á honra meu jovem fauno hehehe.
- Não se deve andar por essas bandas a noite jovemzinho, se esperar conosco por essa noite amanhã posso levá-lo aonde quiser. - Ofereceu-se Santouro
- Acho que está me subestimando Senhor Minotauro, se não percebeu sou um grandissísimo caçador da tribo das Agazas, está falando com o honrado Luki Hagaza, filho de Law o Grande Líder, segundo sucessor direto da Tribo, sou um príncipe e um estupendo caçador grandemente reconhecido! - Gabou-se Luki. - Uma noitezinha de nada não pode assustar um cara tão grandioso quanto eu.

Zaid segurou o riso ao ouvir o menino. Santouro parou alguns segundos para meditar e decidiu deixar o menino partir sozinho.

- Não vou lhe impedir, minha criança, espero que encontre seu caminho para casa. - Disse Santouro.

Graham se surpreendeu com a decisão e interveio: - Eu posso ir com você! Depois que te deixar em segurança eu volto. - Ofereceu-se
- Partirei imediatamente, agredeço a vossa compreensão seu Touro, agradeço a disposição seu Cervo mas você vai me atrasar!
- Não vou, juro! Pode ir na frente, vou te acompanhar como puder.
- Você se desgasta demais Fauno, esse altruísmo ainda vai te matar! - Alertou Zaid enquanto contava um bocado de moedas.

Luki não esperou mais e disparou para o leste, Graham o seguia como podia mas sempre ficava para trás, o menino se deslocou agilmente levando consigo seu troféu.

O jovem fauno cansou-se de observar a silhueta do pequeno Agaziano sumir na escuridão e reaparecer distante na copa de alguma árvore procurando por alguma coisa, seus movimentos de padronizavam e Graham podia contar cerca de 14 minutos a cada interrupção. De repente uma das paradas prolongou-se por mais tempo que as anteriores, o fauno poderia imaginar algo suspeito neste alerta mas seu cansaço físico já era tamanho que Graham apenas se alegrou por poder aproximar-se de Luki.

- Não pode ser... - as palavras saíam entrecortadas pela respiração ofegante de Luki - Não!!

O desespero dele tinha origem de uma visão surpreendente, o pior cenário. Antes tivessem o abandonado e partido para o leste como era o costume, antes Luki se perdesse e jamais enconstrasse-os novamente... Qualquer coisa seria muito melhor do que se deparar com aquilo. Uma chacina na tribo das agazes.

O odor forte de sangue impregnava o ar dando o toque final a cena macabra, alguns pássaros da podridão já violavam os corpos e gritavam quase compondo um réquiem para sua refeição.

Luki estava simplesmente atônito.

Quando o fauno Graham finalmente o alcançou, parou alguns segundos para tomar fôlego antes de perceber a cruel realidade do menino.

— Oh não... — murmurou ele levando a mão a boca e arregalando os olhos — Estes eram.... Luki...

Graham tocou no ombro de Luki que estava com os olhos tão vidrados que parecia estar em transe, o menino tomou um susto e virou o rosto para o fauno rapidamente, assim que o encarou seus olhos encheram-se de lágrimas, em um segundo ele desvencilhou-se e correu até os cadáveres chamando um a um por nome e pedindo que acordassem, ele cheirava e tocava, chamava como se estivessem apenas deitados.

— Vamos Léia, vai continuar deitada aí até o pôr do sol? E você Mohum, temos que partir para o leste vamos arrumar suas coisas!
— Luki... — Chamou Graham.
— Pode ir embora Fauno, já encontrei minha família.
— Luki!
— Não me ouviu?! Vá embora!

Luki correu para cima de Graham e o acertou com repetidos socos no peito, suas mãos tremiam tanto que o fauno mal sentia os ataques.

— Luki olha pra mim!! — gritou Graham segurando com força os ombros do menino. — Eles se foram, alguém os matou!
— Não! — berrou
— Luki você precisa vir comigo, você é o último, não pode morrer também.
— Não, não! — sua voz embargava
— Eu vou te ajudar a achar quem fez isso, eu te prometo isso, juro por minha vida, mas por favor, volte comigo. — Graham abraçou o último agaziano e deixou que as lágrimas molhassem seu cabelo verde.

Luki não resistiu mais e chorou nos braços do fauno, gritou e soluçou como uma criança, na verdade, ele é só uma criança...

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