IV

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Xyuniytsu, a fada, abriu os olhos mas parecia que ainda estavam fechados pois só via o breu á sua frente, o forte odor invadiu suas narinas fazendo-a lembrar de onde estava.

- Que bom que você acordou pequenininha - disse Luki - agora poderá tirar a gente daqui.
- Como você enxerga nesse breu?
- Hum-hum eu treinei em selvas e florestas por 8 anos todas as noites, sou acostumado ao escuro. Mas voltando ao ponto, tire logo a gente daqui, essa madeira velha não flutuará nessa água ácida por muito mais tempo.

Ao ouvir estas palavras a fada lembrou-se do ataque que sofreu daquele menino e o momento em que caiu no líquido nojento do estômago do ogro. A raiva que Xyuni sentira retornou mas ela não tinha muita escolha, mesmo que quisesse brigar com o menino não poderia fazê-lo dentro de um monstro que acordaria a qualquer instante.

- Certo moleque, mas não pense que vou esquecer nossas diferenças, por hora é melhor que saiamos daqui, minha demarcação mágica desapareceu por sua culpa então mostre o caminho. - disse a fada despejando todo o pó que ainda lhe restara em Luki
- Entendido capitã! - brincou ele.

Inexplicavelmente a flauta de Graham parou de produzir som, ele soprava com todo seu fôlego mas parecia que a flauta se esgotara, ao perceberem a inquietação do fauno, Zaid e Santouro tiraram os abafadores e constataram a gravidade da situação.

- O que houve? Por que você parou de tocar?
- Eu não parei, a flauta ficou muda! - Graham já estava em pânico.

Os roncos cessaram. Silêncio.

- Vamos fugir? - gesticulou Zaid
- Não sem Xyuni - sussurou Graham quase inaudivelmente.

O ogro colossal levou uma mão á boca e apoiou-se com a outra, seus movimentos faziam toda a região tremer. O grupo de mercenários estava um pouco atrás, mas bem perto do monstro, imóveis.

Vômito, o ogro vomitou, a grama foi aos poucos sendo preenchida por um líquido pastoso e mau cheiroso.

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- Não está sentindo o ar ficar mais quente? - perguntou Luki enquanto flutuava com a pequena fada
- Quem se importa com o ar? - disse Xyuni impaciente
- Como se estivesse queimando... É um sinal!
- Do que é que você está falando moleque?

Luki saiu de seu caminho e foi rapidamente até um dos túneis do estômago do ogro, virou as costas para o estômago e protegeu a cabeça com os braços.

- Se segura - disse Luki colocando Xyuni no bolso
- O que você está fazendo!?
- Vamos pegar uma carona.

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Os três amigos viram de perto aquele menininho magricela sair rolando de dentro do vômito, fazendo terra e grama grudar em seu corpo úmido, se camuflando.
Sem nem pensar duas vezes Zaid o seguiu num pulo rolando ladeira á baixo, Santouro e Graham, por último, também fizeram o mesmo, assim distanciando-se do ogro ainda desorientado.
O barranco era mais profundo do que imaginaram, a queda lhes resultou em alguns arranhões e uma distância segura do grandalhão.
Zaid e os demais tinham uma certa dificuldade em acompanhar a agilidade de Luki, rapidamente a clareira formada pelo ogro deu lugar a vegetação densa da selva sulina.

- Espera! Espera! - gritava Zaid perseguindo-o.

Assim que achou estar seguro Luki parou de correr e voltou-se para trás, empunhalou a adaga numa mão e escondeu o ovo nas costas com a outra.

- Quem são vocês e o que querem? Por que me seguiram até aqui? - Luki estava claramente pronto para enfrentar todos se fosse preciso, sua coragem irritava Zaid.
- Se quiséssemos lhe fazer mal já estaria morto pivete insolente! - exclamou Zaid
- Vai com calma anão - disse Graham ofegante ao conseguir alcança-los - acho que Santouro ficou para trás e Xiuny também, precisamos voltar.
- Precisamos mesmo, deixamos o ouro pra trás!
- Até que pontos vocês conseguem ser inúteis?? - pronunciou-se Xiunytsu saindo do bolso do menino - Eu fiz o trabalho árduo e nem carregar aquela pepita vocês conseguem?
- Xyuni?!
- Você conhece esse moleque?
- Não é hora para conversar, vamos logo recuperar nosso ouro - ordenou Xyunitsu autoritária, e virando-se para Luki completou:
- E você não ouse sair daqui até eu voltar!

Luki observou-os voltar correndo através dos grossos cipós e da vegetação alta por um momento, mas assim que estavam longe o suficiente bateu em retirada, sua sorte estava se mostrando deveras abundante e faltava-lhe pouco para ser o mais novo caçador de sua tribo. As colônias​ do sul ficavam a meio dia de distância do último acampamento dos Agazianos, se continuasse com sorte, Luki encontraria as cabanas ainda erguidas no mesmo ponto. Agazianos nunca permanecem mais de 7 dias em um mesmo lugar, pois são nômades.

Apesar de sua orgulhosa agilidade Luki deparou-se com um peitoral marrom e muito largo do qual não foi capaz de desviar, a colisão pareceu ter efeito apenas sobre Luki que ricocheteou para trás, o menino bateu de frente com o minotauro que a pouco estava supostamente perdido.

- Calma aí pequenino, não vou lhe fazer mal - Santouro abaixou-se e estendeu a mão como quem chama um gatinho assustado para perto.
- Estou com pressa Senhor Touro, preciso chegar em casa. - Responde Luki agitadamente com o ovo de ouro nos braços.
- Cuidado por onde vai, há um ogro colossal por perto.

Luki olhou em volta e percebeu sua angustiante realidade, ele tinha andado em círculos e voltara ao ponto inicial, próximo ao barranco de onde despencou.

- Carambolas! Já perdi tempo demais.
- Santouro!! - chamou Xiuny aproximando-se dos dois - E o que você faz aqui menino suicida? Não te deixei parado lá atrás há uns minutos?
- E o ouro? - perguntou Zaid quando chegou
- Você só pensa nisso? - questionou Graham ofegante
- Sim.

Santouro moveu-se e revelou a enorme pepita caída atrás dele.

- Eu o trouxe pois vocês saíram em debandada de repente e deixaram tudo para trás, inclusive Xiuny, não preocuparam-se em certificar-se se ela estava fora do ogro já.
- Chega de bronca, estamos todos aqui, e mais importante, pegamos o ouro, vamos para a clareira para podermos conversar melhor, vejam! O sol já vai se por.
- Eu não posso ir! - rebateu Luki nervoso - preciso ir para casa ou ficarei perdido.
- Nem pense nisso garotinho! - Vociferou Xiuny - Você me deve a vida, já esqueceu?! Você e esse ovo vem conosco, e sem mais!

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