Um escorpião no aquário (+18)

63 1 0
                                    

Julho finalmente chegou, e trouxe consigo o tão esperado recesso escolar. Aquela época mágica e cheia de vida que chamamos simplesmente de férias. Naquele ano a capital do estado passava por várias reformas, por isso não era a melhor época para visitá-la. Havia construções para todo lado que se olhasse, além de várias placas sobre aquela balela a respeito de transtornos e benefícios. Era impossível não revirar os olhos com aqueles dizeres. Os culhões dos jovens da cidade estavam cheios em meio ao tédio, afinal os principais lugares de encontro deles estavam fechados ou parcialmente interditados para melhorias e reformas.

Para o jovem recluso Rafael, não faria muita diferença, já que aquele mês para ele era sinônimo de dormir até tarde, comer bastante, jogar muito videogame e madrugar. Haveria esporádicas visitas à casa de amigos, recepção de outros na casa dele e talvez, quem sabe, alguma viagem rápida com os pais. Aqueles locais de obra, por tanto, estavam fora da programação.

Naquele dia, todos da casa foram acordados para tomar café da manhã juntos, e isso não era um bom sinal, pois só acontecia quando a mãe dele queria iniciar um mutirão. Mesmo contrariado, o rapaz se levantou para comer, afinal uma boa comida não se recusa. O plano era simples, comer calado, sem chamar a atenção e retornar para a cama quente de seu quarto escuro o quanto antes.

Aquele era o primeiro dia de férias dele, mas dona Fátima, não teve piedade dele. Mau começara o desjejum e ela lhe conta uma novidade que ruiu os planos do rapaz:

― Rafael, a Sônia vai vir passar uns dias aqui conosco, você se lembra dela?

― Hunrun mãe, é a sua amiga de infância, não é? - Respondeu, enquanto passava manteiga no pão.

― Ela mesma!

― Legal! - Disse após morder a fatia que preparou com tanto zelo.

― Que bom você gostou da ideia, pois preciso que você arrume seu quarto.

Rafael olhou incrédulo para a mãe interrompendo a mastigação, e disse:

― Pra quê? Ela não pode dormir no cafofo? É só ajeitar tudo que cabe ela lá.

― Eu sei. Essa é a segunda coisa que preciso que você faça. Arrumar o cafofo. Ela vai dormir lá mesmo, porém a Amanda virá junto. Se lembra dela, não lembra?

O pai de Rafael tentava ler o jornal, mas aquela pergunta atraiu sua curiosidade, por isso ele abaixou as grandes folhas do noticiário e fitou o rapaz. Com os pais lhe encarando, ele tentou desconversar, enquanto preparava a segunda fatia:

― A senhora nem começa! Não rolou nada demais.

A mãe deu de ombros e continuou:

― Então tá! De toda forma, ela não pode dormir no cafofo. A alergia dela é pior que a sua.

― Eu não vou emprestar minha cama pra ninguém. Se é isso que a senhora pensa em falar.

― Esta seria a melhor opção Rafael, elas dormirem no seu quarto e você ir pro cafofo ou para a sala. Mas eu sei que você é enjoado e não vai dormir na sala.

― Melhor opção pra quem mãe? Nem vem!

― Escuta! Eu não terminei de falar!

― Tá! Continue!

― Então... se você for pro cafofo, vai me dar trabalho ainda depois. Então é melhor você arrumar seu quarto e dividi-lo com a moça sem reclamar.

Rafael olhou para o pai, quase que implorando por ajuda. Mas ele não iria se meter naquela discussão de jeito nenhum, ou sobraria para ele:

― Paiii??

Cozinhando LetrasOnde histórias criam vida. Descubra agora