A segunda ressaca da minha vida foi infinitamente pior que a primeira. Havia bebido até às cinco da manhã, e não havia comido nada, nem ninguém. Quando eu bebo, eu fico com os hormônios à mil, e faria qualquer coisa para transar com alguém naquela hora. Infelizmente, meu corpo tinha outros planos, ele morria sob a cama, sem forças para absolutamente nada. Eu precisava beber água, mas não conseguia ir até a cozinha. Fiquei naquele dilema até o meio dia, quando um amigo puxou conversa comigo pela internet:
― Bom dia Julho!
Não conseguia digitar, apenas um olho ficava aberto, por isso me limitei a mandar um áudio:
― Fala meu querido! Tô morrendo em casa!
― Meu Deus! Que voz é essa? O que você fez?
― Eu bebi! Muito! Bebi pra caralho!
― Você quer ajuda? Aliás.. estou indo aí agora!
Ele morava no prédio ao lado da minha casa. É um bom rapaz. Tão doce. Daríamos um belo casal. Infelizmente eu estava numa fase amarga da minha vida. E ficar com ele, não estava nos meus planos.
Felipe passou na farmácia e comprou aquele famoso "kit ressaca" com dois comprimidos e uma flaconete. Para entrar no prédio, eu falei com o porteiro pelo celular dele, autorizando sua entrada. O Sérgio apenas riu da situação, desejando melhoras.
Eu agradeci a Deus pelo rapaz estar ali, mas queria muito não ter levantado para abrir aquela porta. Ele levou um café e dois pães de queijo, para eu forrar o estômago. Atitude que achei digna de um beijo, mas me contive. Embora eu fosse mais velho que ele, me senti muito bem amparado, e nunca esquecerei aquilo na vida:
― Você vai ficar bem! Vou ficar aqui até você melhorar!
Ele nunca tinha tempo para me visitar, e justamente quando eu mais precisava, ele arrumou tempo e foi me socorrer. Era mesmo um cara especial e eu estava realmente agradecido por ele estar ali.
Desde que fiquei solteiro, minha vida se resume a beber. A verdade é que eu não queria encarar a dor de jogar três anos de namoro fora... era cruel imaginar que eu havia dado meu mundo para alguém que queria o mundo. Mal dos librianos, tudo biscate! Tudo puta! (Me julguem!) Minha irmã sempre alertava em tom de brincadeira:
― "Bruno! Você tem uma cara de biscate!" ― Ela dizia.
Ríamos bastante, mas ela estava certa! No entanto eu o amava aquela biscate, fazer o que? Eu também não era santo, muito pelo contrário. Mas isso é uma outra história.
Graças a ressaca, a desgraçada da ressaca, naquele momento eu não pensava nele, queria apenas continuar vivo. E graças ao jovem Felipe, eu estava. A conversa com meu salvador corria bem, eu comi, o mundo parou de girar e tudo corria bem até eu receber uma mensagem no celular.
― Oi Nene!
Ele amava espanhol, por isso me chamava assim desde o começo. De bebê! Eu achei carinhoso e adotei o apelido:
― Olá Nene! ― Respondi.
― Estou na casa da Luciana, aquela minha colega de trabalho. Adivinha onde ela mora?
― Não faço a menor ideia.
― Dois quarteirões da sua casa.
― "Até alguns dias atrás era nossa casa!" ― Pensei comigo, mas não deixei-lhe sem resposta. ― Nossa que bacana!
― Estamos na piscina!
Estava nublado, e eu odeio água fria, ele sabia disso.
― Corajosos, vocês, heim!
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Cozinhando Letras
RandomA Arte de Cozinhar me lembrar a Arte de Escrever. O Escritor é o chefe da obra. Ele tem seu próprio tempero e seu jeito especial de conduzir o mundo que ele cria. Ora faltará sal, ora faltará açúcar, e muitas vezes a pimenta será das boas. Iremos s...