Sonhos são como pessoas impacientes no YouTube, quando você dá se conta, o clipe já está rolando e não resta outra alternativa a não ser acompanhá-lo. Assim foi.
A data era no futuro, e eu sei disso pelas coisas tecnológicas que estavam a nossa volta, sem que nem ninguém estivesse impressionado. Não lembro delas terem sido inventadas.
Estávamos numa quadra de esportes e eu era um jogador relativamente bom no jogo estranho que estava rolando. Este fato era a comprovação definitiva que eu estava num sonho.
O jogo lembrava um xadrez humano, porém só havia um tipo de peça. Homens e mulheres jogavam sem nenhuma restrição, por isso a sala inteira estava em campo.
Duas equipes dividiam a quadra ao meio. Elas tinham o objetivo de conquistar a base do oponente. Para avançar, era preciso resolver algum problema qualquer dentro das casas (eu irei chamar de posto) com a ajuda do ocupante atual dela. De acordo com o resultado, você poderia tomar aquele posto, e o ocupante seria do seu time, ficando no espaço que você desocupara.
Até que eu era bom no jogo, estava me divertindo no sonho como não fazia desde de criança quando brincava de salva-bandeira na rua de casa, la na Cidade de Goiás.
Os postos não ficavam posicionadas em formato xadrez. Eram, na verdade, pontos de tamanhos diversos que foram distribuídos pela quadra de acordo com o desafio e o ocupante.
Não me perguntem como esse jogo começa, pois se eu lhes responder será apenas invenção. Peguei o bonde andando, paciência.
Todos jogavam ao mesmo tempo, não dava para prestar atenção em tudo que acontecia a minha volta. Mas quando entrei na terceira casa do lado esquerdo da quadra, duas casas de distância da base do oponente, o resto não importava mais. Deseja estar ali desde que o jogo começara, penas sorri e me preparei para o desafio.
Não sei que treta rolou ali dentro, essa parte do sonho convenientemente eu esqueci, mas acho que extrapolei algum limite que não tinha percebido. Posso, ainda ter entendido errado algum sinal, ou simplesmente não ter atendido às expectativas de quem... sei lá! Fui empurrado para fora do circulo com certa força. E aquilo não tinha nada a ver com o jogo.
Todos apenas escuram o sinal do treinador soar e viram as luzes futuristas que sinalizavam os limites do jogos mudarem de cor.
Alguns olhavam para mim com reprovação, iria começar um julgamento público e aquilo poderia beneficiar quem estivesse num exercício de resistência. Já outros expressavam apenas curiosidade, há ainda os que só queriam ver o circo pegar fogo mesmo.
Alguns amigos me ajudaram a levantar, e caminhei em direção ao treinador que já estava com a palma de ambas as mãos estendida para nós. Eu não queria obedecer à ordem silenciosa do professor, era meu primeiro julgamento na vida inteira. Meu pai iria me arrancar o fígado fora e minha mãe ficaria muito decepcionada.
- Sr. Ronaldy, não temos temos o dia todo.
- Mas eu estou bem... não foi nada.
Ele apenas me olhava com seriedade aguardando que eu colocasse a palma da minha mão sobre a dele. Faltava apenas eu e todos me olhavam se perguntando o que eu estava esperando. Até que obedeci e ele pode começar:
- Vocês dois se comprometem em dizer a verdade sobre essa agressão, assumindo as consequências de seus atos, conforme as regras do Instituto?
- Sim. - Respondemos juntos e nos posicionamos para começar.
Com todos os meus colegas e amigos vendo aquela cena, mesmo não tendo culpa, me senti envergonhado, eu deveria ter prestado um pouco mais atenção nas limitações dos outros. Quando terminamos de relatar o ocorrido, após alguns atritos sobre detalhes dos fatos, o treinador fez a intervenção dele e orientou a conciliação. Quando acabamos ele deu a sentença para a turma. Mais parecia um discurso político, mas tudo bem, desde que fosse breve.
- Ninguém será tratado diferente nesta turma ou nessa instituição por ser o que é. Vocês precisam ser solidários uns com os outros. E isso é pro resto da vida, não podem se esquecer disso. Vocês deixam de limpar os dentes durante um dia, porque já o fizeram por toda vida antes? É a mesma coisa. ― Eu ri com o exemplo e ele continuou ― Quem está mais evoluído precisa entender as limitações de quem ainda não está, isso é óbio. Mas antes disso, quem precisa evoluir não pode simplesmente atacar o outro quando este abalar sua estrutura ideológica, que é frágil neste estágio. Espero não ter que repetir isso de novo tão cedo.
Todos já tinham ouvido falar desse tipo de julgamento, mas era tão incomum, que quando acontecia não se falava em outra coias até o fim da semana. Quem estava presente tratava de registrar e mandar para as outras turmas que não viram. A medida que faziam isso o professor nos liberou:
- Vocês estão dispensados! Voltem para seus postos! - E depois complementou - Mais uma coisa, quem estava em atividade de resistência terá a gravidade aumentada para compensar esse tempo pausa.
- Podemos ir? - Perguntei.
- Agora que se entenderam, terminem a missão de vocês. Esse julgamento não vai para o histórico de ambos apenas porque eu não sei seus nomes e este campo é obrigatório no registro. - Sorrimos com essa "fatalidade" - agora sumam da minha frente antes que eu descubra.
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Cozinhando Letras
LosoweA Arte de Cozinhar me lembrar a Arte de Escrever. O Escritor é o chefe da obra. Ele tem seu próprio tempero e seu jeito especial de conduzir o mundo que ele cria. Ora faltará sal, ora faltará açúcar, e muitas vezes a pimenta será das boas. Iremos s...