O Consumista

50 4 0
                                    

Shopping Center é um organismo social vivo, se é que isso faz algum sentido para você ou para mim. Não importa! Gostei do termo e não vou parar para analisar isso. Fato é... A gente não tem dinheiro, vai lá bater perna, ver preço e no fim das contas, só consegue tomar aquele milk-shake que não pode ser nomeado (RIP).

A máxima alegria do local é ver o povo com suas máscaras, fazer julgamento de tudo e testar o limite do nosso roxinho, do azulzinho, do douradinho, ou o caralho à quatro. Apesar do tom crítico, eu amo shoppings. Pode acreditar! Ele tem seus acalantos. É aquela coisa meio marca de perfume, não é?

"Você pode ser o que você quiser".

Isso é um pouco verdade, é possível fazer muita coisa em meio as etiquetas, vitrines e preços! Inclusive paquerar!

Evidentemente, nada acontece com o azarado aqui. Todos os meus amigos tem uma história pra contar em lugares públicos. Flertes no supermercado, na farmácia, rodoviária e nos parques, mas à mim essas facetas do acaso não são concedidas.

'Que dó, que dó, que dó', não é verdade?

Ok, bora gastar então!

Era uma tarde de verão, o sol rachava lá fora, mas no Shopping Tim Maia reinava absoluto: "Chegou nova era, nova era glacial, terceiro milênio, milênio sensacional..." Ok, a piada horrível, mas fala que você não sorriu?

Cantou junto ao menos?

Não? Vai te lascar então!

Naquele dia, o objetivo era simples: comprar mais meias (que nunca são demais), cuecas e também o tal chinelo que todo mundo usa. Eu tenho giriza de ficar com calçado molhado, então mais um par seria necessário para ter chinelos secos após o banho. Só isso! Só essa frescura mesmo! Jul-guem-me!

Percorri a construção gigante, caçando a lojinha vermelha, certeza que lá acharia meias BB (boas e baratas). Comprar é bom, mas levar muito e pagar pouco é melhor ainda. Convenhamos!

Aquele local para mim é o supermercado do jovem. Tem tudo que a gente precisa pra ser feliz, não é verdade? Começando pela seção de guloseimas. Meu ritual começou pegando uma cesta e indo até o final do corredor. De olho nas ofertas no meio do caminho. Era meu momento, mas não posso negar que uma presença chamou minha atenção. Ignorei!

Ao avistar a quantidade de opções existentes, me deu uma certa descrença. Me limitei a seguir para próxima gôndola sempre que a marca não me agradava. Até que chegamos na mais famosa, aquela da letra legal e da qualidade superior. Mas estavam caras. Iria acabar com meu orçamento!

Comecei novamente. Estava imerso em meus julgamentos e pensamentos sobre qual levar, como usar, se posso pagar... era tanta reflexão que não percebi o que fazíamos. Me vi rodopiando a seção, repetidamente, assim como outro rapaz igualmente concentrado. Me permiti observar uma vez, e voltei para as meias. Senti vontade de olhar de novo, porém com mais atenção. Era bonito, me assustei e voltei para as meias novamente. Comecei a me questionar. Eu não estava fazendo nada de errado, para quê tanta autocensura?! Que se lasque, vou olhar mais um pouco. As compras podem esperar.

O rapaz alto e forte estava com duas marcas de cueca na mão, esticando e analisando-as repetidamente. Provavelmente não sabia qual levar. Eu voltei para as meias sorrindo, minha vontade era olhar para os lados e gritar "Aqui não João Kleber, eu tenho namo...", ai eu lembrei que sou sozinho no mundo e fiz carinha triste. Nem pensei que alguém poderia ver. Era meu momento, refleti lembrando do slogan da marca de perfume. Suspirei discretamente, me enchi de paz e mergulhei nas meias. Todas pretas ou todas brancas? Curta, ou cano alto? Simples ou esportiva? Meu mundinho particular não durou alguns segundos, pois uma bela voz fez ruir tudo:

Cozinhando LetrasOnde histórias criam vida. Descubra agora