PRÓLOGO

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I am sinking in the ocean. I am alone, and water is everything that I can see. Salt is the only thing that I can taste. And pain is the only thing that I can feel.

(Eu estou afundando no oceano. Estou sozinha, e água é tudo o que eu posso ver. O sal é a única coisa que eu posso provar . E a dor é a única coisa que eu posso sentir .)

Eu estava numa praia, mesmo com os olhos fechados eu podia dizer com toda a certeza do mundo onde eu estava. Não havia sol, tudo ao meu redor aparentava escuridão, mas esse cheiro de água salgada não me deixa ter dúvidas.

Os grãos de areia fazem cócegas nos meus pés e eu tenho uma vontade enorme de abrir os olhos. Mas sou tomada pelo medo de estar sozinha, porque é assim que me sinto agora e isso não é algo com o qual estou acostumada.

Começo a mexer os meus pés e afundá-los ainda mais na areia. Meus joelhos começam a fraquejar e eu tenho vontade se sentar na areia e forçar ainda mais meus olhos a ficarem fechados. Porque desde crianças eu tenho essa ideia maluca de que se eu não conseguir ver o que me assusta, essa coisa também não poderá me ver.

O barulho das ondas do mar começa a me deixar mais calma, a água batendo com força nas pedras parece sussurrar um pedido. Ela pedem para que eu abrir os olhos e ver a lua, ela pele para que eu chegue mais perto.

Meu medo começa a diminuir proporcionalmente ao aumento de expectativas que preenchem meu coração. Porque tudo ao meu redor me faz sentir que eu não estou sozinha, alguém está vindo ao meu encontro.

E ainda tem essa sensação dentro de mim gritando que não é certo eu estar sozinha, é como se um pedaço meu estivesse faltando e eu não sei onde procurar, só sei que preciso dele.

É como se algo muito importante devesse estar aqui mas não está, e eu não sei onde se meteu.

Mais um sussurro do mar e eu consigo abrir meus olhos. A lua está bem em cima de mim, brilhando, radiante, iluminando cada pedaço. Reparo nas estrelas que parecem estar ao alcance de minhas mãos, milhares de pontinhos brancos deitados em um lençol preto.

Algumas risadas chegam aos meus ouvidos. Pessoas estão se aproximando de onde estou. Elas vem cada vez mais rápido e eu sinto que preciso fugir imediatamente, mas não tenho para onde correr.

Katrina...

Uma voz me chama e não é qualquer voz. É aquela que me acompanhou durante minha vida inteira. É aquela que eu ouvia antes de dormir e ao acordar.

Katrina

A voz me chama novamente e eu sei de onde ela vem, é do mar. E sem pensar duas começo a caminhar em direção a ele.

A cada passo que eu dou faz meu coração acelerar mais e mais em antecipação. Eu não consigo ver nada além daquela imensidão escura e ainda assim continuo caminhando. Céu e mar são uma só coisa e estão me chamando, prontos para engolir toda a minha pequenez.

Meu pé esquerdo toca a água e eu sinto meu corpo inteiro tremer de frio e medo. Tenho vontade de voltar atrás, mas não consigo. As minhas pernas já estão submersas e sinto a areia agarrar meus pés me deixando sem escapatória.

Eu tento gritar e pedir por socorro mas a minha garganta tem gosto de sal e num piscar de olhos tudo ao meu redor é água, muita água. Desse momento em diante sinto todos os meus ossos sendo comprimidos, a dor é alucinante.

Se eu pudesse chorar agora, o mar ganharia gotas de água salgada a mais para somar com as que já tem. Mas eu não consigo chorar ou me lamentar, estou ocupada demais morrendo afogada.

A água já preenche meus pulmões e eu vou perdendo aos poucos as forças que ainda me restam. Eu sei que vou morrer. Será que ele sabia também?

Tudo o que eu consigo pensar é em como quero que tudo isso acabe logo e eu morra de uma vez, mas não é isso o que acontece, cada segundo dura mil anos.

A última coisa que eu vejo antes de apagar completamente é um par de olhos castanhos iguais aos meus, um par de enormes olhos castanhos que não deveriam ter me abandonado nunca.

Mas abandonaram.

Red Lips (Em pausa)Onde histórias criam vida. Descubra agora