Depois de me afogar mais uma vez, eu acordo para o que acredito ser outra madrugada em claro. Já perdi as contas de quantas vezes isso aconteceu, sempre com o número três para me atormentar. O número e meu maldito pesadelo que sempre voltam.
Começo a procurar meu celular pela cama e o encontro embaixo do travesseiro. 3 horas e 3 minutos, exatamente como previ.
Meu celular está apitando e isso é sinal de que algumas mensagens chegaram enquanto eu estava dormindo, elas já começam a aparecer na tela mas faço questão de ignorar, provavelmente são de grupos que eu nunca leio.
Tudo ao meu redor parece exalar a escuridão, as únicas luzes que iluminam meu quarto vem do celular e do relógio de parede com luzes vermelhas, sempre vermelho.
Sento na cama e percebo que estou molhada de suor, esqueci mais uma vez de ligar o ventilador e agradeço a mim mesma por ter ido dormir vestindo só uma camiseta e calcinha ou estaria derretendo agora mesmo.
Me levanto para ir até a cozinha e sinto o chão gelado sob meus pés. Ao ligar a luz do quarto me deparo com minha própria imagem no espelho perto da porta. Cabelos desgrenhados, rosto assustado e olhos sem vida. Eu nunca vou me acostumar com isso de acordar assustada quase todas as noites.
Encho um copo com água e vou em direção a sala do apartamento. Dá pra ouvir barulhos de panelas mexendo do outro lado da parede.
Aparentemente, minha nova vizinha adora cozinhar às 3h da manhã. O que eu, por mais que ame cozinhar, não faria.
E olhe que eu cozinho bem e adoro ir para a cozinha aliviar o estresse. Se não fosse por mim, minhas amigas de apartamento só comeriam miojo ou comida congelada.
Eu moro com mais duas garotas, Bianka e Mônica. Me mudei para morar nesse apartamento faz dois anos, desde que comecei a cursar Direito na Universidade Federal do meu Estado. As meninas vieram depois, Bianka foi a primeira a chegar, seguida por Mônica.
Estudamos na mesma universidade e através de alguns conhecidos acabamos nos conhecendo e combinamos de dividir as despesas do apartamento que minha tia me emprestou de bom grado.
Pelo menos é isso o que o meu avô Nivaldo diz.
Eu não me surpreenderia nem um pouco se vovô tivesse comprado esse apartamento só para que eu pudesse vir para cá e contrariar o meu pai. Segundo meu vô, eu já tinha vivido a vida dos outros demais e estava na hora de ter o meu cantinho.
Seu Nivaldo sempre quis que eu fosse livre, ele sabe que ser advogada nunca foi o meu sonho e que queria mesmo era estudar Letras Inglês e ser professora. Mas isso foi em outra época, antes de tudo mudar, e eu já não saber mais o que eu quero.
Estudar direito foi uma escolha do meu pai, já que essa é a carreira dele e isso sempre incomodou meu avô. Já a minha mãe nunca foi muito de abrir a boca para me defender, então a palavra do meu pai sempre foi a última na minha casa. E como eu não trabalho e vivo "as custas dele", tenho que aceitar o que ele diz.
Isso é o que ele pensa.
Meus pais vivem em uma cidade do interior chamada Esperança. Mas a distância não é suficiente para que eu me sinta segura. Se houve um tempo em que minha família era a minha fortaleza, hoje somos apenas estranhos com o mesmo tipo sanguíneo.
As únicas pessoas com as quais eu consigo me abrir são as garotas e meu melhor amigo, o Augusto. E apesar deles não saberem todos os meus segredos, sei que posso confiar neles, sei que posso contar com eles.
Os barulhos de panelas ainda não pararam e eu sei que não vou conseguir voltar a dormir, geralmente é assim que funciona quando acordo dos pesadelos. Então pego meu exemplar de Orgulho e Preconceito e vou rumando para a cama, é hora começar a ler pela trigésima vez.
Leio várias páginas e nada do sono chegar. Olho o whats mil vezes, reviro a página do meu facebook de cima a baixo, e até comecei a ler um texto super chato que o professor passou, mas nada adiantou. Ainda estava super ligada.
Hei sumida.
Meu celular apita às 4:20 da manhã. Todos nós sabemos que um oi depois da meia-noite é suspeito e se vier acompanhado de um "sumida" é porque o cara quer te pegar.
Mas esse caso é excessão, porque a mensagem é do Augusto, meu melhor amigo que não tem intenção nenhuma de me dar uns toras. Bom, não que eu vá permitir.
Katrina: Hoi feioso
Gus: Você não deveria estar dormindo?
Katrina: Olha quem fala...
Fazendo o quê?Gus: Vendo pornô, quer ver cmg? ;)
Katrina: Claro...
QUE NÃO!Gus: Muito sem graça vc, katzinha Fazendo?
Katrina: Deitada na cama esperando o sono
E vc?Gus: Me esperando? Tá vestindo o quê?
Katrina: Tu vai parar, Augusto?
Gus: Eita, chamou de August é pq pegou ar
Vai pra aula amanhã?Katrina: Nope
Gus: Então vamo na praia pra tu saber o que é sol
Katrina: Eu sei o que é o sol --'
Gus: Ahaaam
Umas 11 passo aíKatrina: Vai só a gente?
Gus: Qual o problema? Tá com medo de mim?
Katrina: Mais fácil você pegar a primeira piriguete que passar e eu ficar lá olhando pro tempo
Gus: Me respeite, não pego piriguete u.u
Katrina: Se você ficar com alguém eu quebro seu pinto
Gus: Você é menina, não deveria ser mais delicada e não fazer ameaças desse tipo? Senti até um aperto no peito
Katrina: _|_
Gus: Que coração lindo
Katrina: Kkkkkk vsf!
Gus: Também amo você Kat
Katrina: Você só diz isso porque quer me comer
Gus: Aff, por que você é tão inteligente?
Katrina: Por que você é tão babaca?
Gus: Aff, seja carinhosa
Katrina: sorry :(
Praia amanhã?Gus: Só se você usar seu biquíni vermelho
Katrina: combinado
Mas vou logo avisando que não vou cozinhar pra vocêGus: você quem pensa, Kat.
Sonhe comigo, beijo na bundaVisto por último às 05:03 de hoje.
Mas que grande filho da mãe!
Minha vontade era dizer o que eu ia fazer com a bunda dele se ele se fizesse de engraçadinho. Mas eu não disse nada, apenas visualizei e tentei dormir.
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Red Lips (Em pausa)
ChickLit"Que tipo de mulher dorme com um cara na primeira noite? O tipo que sabe o que quer e que sabe o que fazer para conseguir isso. Que tipo de mulher dorme com um cara na primeira noite e depois vai embora sem olhar para trás? Bem, eu." Katrina é mesmo...