Five

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158 mensagens de 5 conversas no whatsapp. Uma delas é do August, meu Gus.

Gus: Vai sair amanhã?

Digito uma resposta rápida.

Katrina: Tenho que viajar
Visitar minha família

Gus: Que tal uma despedida?

Katrina: Acho ótimo
na sua casa ou na minha?

Gus: Na minha, vem logo para cá, pra fazer um hardsex ;)

Katrina: To indo

Gus: sério???

Katrina: Sqn u.u

Gus: Você sabe que não pode me deixar de pau duro se não for transar comigo

Katrina: Faz dois anos que você tenta me levar pra cama, quando vai desistir? E não é minha culpa se você fica de pau duro com tudo

Gus: Nem um bola gato?

Katrina: Na na ni na não

Gus: Você é uma amiga inútil!

Katrina: Ha ha ha, você que é um tarado

Alguns minutos depois e Gus ainda não tinha dito nada. Ele continuava online e tinha visualizado minha mensagem no momento em que mandei, mas nada de responder.

Continuei enfiando minhas poucas roupas numa mala minúscula só para poder usar a desculpa de que não tinha calcinhas limpas para ficar mais do que dois dias, caso meu avô tentasse me convencer a permanecer na cidade.

Meu celular apitou e eu sabia que Gus tinha me respondido.

Gus: E o que eu vou fazer sem você por aqui?

Tá bom, isso foi bem fofo. Ao que eu respondi.

Katrina: assim você quebra meu coração. Vem pra cá agora que a gente compra pizza!

Gus: tô aí em 10 minutos. Frango com catupiri e Calabresa?

Katrina: você me conhece tão bem.

Fui me encaminhando para sala e dei de cara com uma Bianka chorosa.

- O que foi que aconteceu? - perguntei me sentando ao lado dela.

- Nada. - ela limpou os olhos e me jogou um sorriso torto.

- Tem certeza? - apertei a dobrinha da barriga dela.

- Tenho.

- Não mente pra mim.

- Ele não vem, ele disse que vinha e furou comigo mais uma vez. - admitiu.

Sabia que era culpa do babaca de novo.

- Eu detesto ter que falar isso, mas eu avisei. E eu não vou deixar você chorar por causa de um filho da puta.

- Ah, não me ofenda por favor, jamais choraria por homem- ela falou revirando os olhos. - Eu tô de TPM e o chocolate acabou.

Soltei uma bela gargalhada olhando para minha melhor amiga.

- Vem cá - puxei-a pelo braço - Gus tá trazendo pizza e se não lavarmos a louça ele vai nos chamar de porcas outra vez.

Bianka é o tipo de pessoa que não consegue ficar triste nem por 5 minutos. Já estávamos jogando água uma na outra quando soltei o que estava escondendo durante a semana inteira.

- Eu vou pra Esperança.

Bianka ficou segurando o pano de prato ma mão esquerda enquanto me encarava.

- Eu tenho que visitar meu avô. Ele não é mais tão jovem e fica cansado sempre que vem pra cá.

Bianka balança a cabeça indicando que entendeu. Ela sabe que a minha relação com a minha família não é nada boa e a dela também não é das melhores. Então a gente se entende.

Terminamos a louça e fomos sentar no sofá com as pernas para cima. Mona tinha viajado para visitar os pais então a casa era toda nossa.

A campainha toca e eu vou correndo abrir a porta para um Gus despenteado e com uma caixa de pizza enorme apoiada na mão direita. Agarro a pizza e vou direto para a mesa da cozinha colocar uma fatia de frango com catupiri e outra de calabresa no meu prato.

- Oi Gus, como você está? Estava com saudades, que bom que veio me ver. - August falou entrando na cozinha e me encarando.

- Você não pode competir com a pizza. - eu falei.

Ele ficou me olhando com uma cara de indignação que logo foi embora quando eu levei um pedaço de pizza até a sua boca e ele mordeu com vontade.

Depois de servidos pegamos um colchão de casal no quarto da Bianka e colocamos na sala para assistir GOT. Nós até que tentamos resistir ao sono que bateu mas não teve jeito, capotamos antes do primeiro episódio terminar.

Antes que o relógio marcasse 7h da manhã eu já estava com as malas no carro e tinha que ouvir conselhos de um Gus preocupado enquanto Bianka ainda dormia esparramada na sala.

- Se eu soubesse que você ia nessa lata velha - ele falou dando uma batida no capô - eu teria te obrigado a ir no meu carro.

- Ei, não fala assim do precisoso! - defendi o meu possante vermelho, de 2000.

- É sério, qualquer sinal estranho é só me ligar.

- Tá bom, Gus.

Meu melhor amigo se despede de mim com um beijo na testa e fica acenando enquanto me afasto.

259.200 segundos depois eu parei o carro na frente daquela casa amarela com portão branco na frente que tinha cara de infância.

Apertei a campainha e senti meu coração bater mais forte antes de uma voz feminina atender.

- Bom dia.

- Bom dia dona Marta, vô Nivaldo tá ai?

- Bom dia menina, ele tá sim.

Vou passando pelo meu banco balanço de madeira preferido, eu costumava dizer que ele era meu castelo e ninguém podia me deter. Uma sala cheira de retratos dos familiares próximos e distantes e uma bela televisão que ninguém usa mais.

No centro está a mesa de jantar da qual minha avó tanto sentia orgulho e o corredor mais longo que já vi em uma casa dando acesso aos quartos. Passando pela cozinha pode-se sentir cheiro de feijão novinho e seguindo até o fundo da casa dá pra ouvir meu avô trabalhando em sua oficina, ou refúgio, como eu chamo.

- Cadê o avô que mais me ama nesse mundo? - perguntei encostada na porta.

Seu Nivaldo virou de repente e me abriu o sorriso mais lindo do mundo.

- Deve ter ido lá fora, porque aqui só tá o avô que te acha uma horrorosa.

Sem pensar duas vezes corri igual criança e me joguei nos braços daquela tempestade de cabelos brancos.

Se eu pudesse não sairia dali nunca, mas meu avô não tinha me trazido a Natal só pra me ver, ele queria que eu ficasse com a minha família. E foi pensando no seu Nivaldo que eu voltei para o carro horas depois e fui em direção a minha antiga casa.

Para algumas pessoas, ser recebida na porta da casa pelos pais é um sonho. Para mim, tudo isso não passa se um capítulo bônus dos meus piores pesadelos.

Red Lips (Em pausa)Onde histórias criam vida. Descubra agora